Relatório semanal: soja, milho e trigo

Cotações da soja deram um salto nesta semana em Chicago

As cotações da soja deram um salto nesta semana em Chicago. O vencimento novembro/2017 fechou o dia 6 de julho cotado a US$ 9,99 ¼. Esta cotação é a mais elevada desde meados de abril passado.

Os motivos para essa alta são dois:

1) Os relatórios de plantio e de estoques trimestrais, embora baixistas, apenas confirmaram o que o mercado já havia precificado, sem trazer informações adicionais. Por exemplo, o aumento na área de soja nos EUA ficou realmente em 7%, com a mesma atingindo 36.22 milhões de hectares, quando o mercado esperava um aumento de 7,8% em razão de uma possível transferência de área de milho para a soja, fato que, aparentemente, não ocorreu. Por sua vez, o relatório de estoques trimestrais mostrou um volume de 26.2 milhões de toneladas em 1º de junho, representando um aumento de 11% em relação a igual período do ano passado;

2) O segundo motivo tem, agora, proporções mais fortes e está relacionado ao comportamento climático. A expectativa de um clima mais quente e seco durante o mês de julho levou o mercado a especular sobre possíveis quebras na safra de soja (aliás, um comportamento que sempre ocorre em Chicago nesta época do ano). Ou seja, a volatilidade é o ponto central em Chicago, fato que levou muitos fundos para a ponta compradora, após estarem sobrevendidos por um bom tempo.

Efetivamente, a partir de agora o clima comandará o mercado, pelo menos até meados de setembro, quando se inicia a colheita nos EUA. Dito isso, é bom lembrar que a área anunciada com soja nos EUA é recorde, fato que pode levar a um novo recorde de produção no final do ano, caso o clima não cause reais transtornos às lavouras.

Dito isso, as fortes altas do trigo em Chicago também ajudaram a alta da soja. Ao mesmo tempo, o USDA reduziu as condições boas e excelentes das lavouras estadunidenses para 64% até o dia 2 de julho, de 66% uma semana antes.

Por sua vez, na Argentina, a colheita da soja atingiu a 98% da área neste início de julho. Como contraponto desta alta momentânea, na China muitos navios estão sem poder descarregar soja devido a problemas portuários no país. Isso tende a frear parcialmente as compras chinesas da oleaginosa nas próximas semanas.

No Brasil, os preços subiram, puxados pelas altas em Chicago e pela manutenção do dólar entre R$ 3,28 e R$ 3,32 no transcorrer da semana. Assim, a média gaúcha no balcão subiu para R$ 61,38/saca, enquanto os lotes chegaram a valores entre R$ 68,00 e R$ 69,00/saca na média semanal.

Nas demais praças nacionais os lotes giraram entre R$ 57,00/saca em Sorriso, Diamantino e Nova Xavantina (MT) e R$ 69,00/saca em Campos Novos (SC), passando por R$ 67,50 em Pato Branco (PR), R$ 62,00 em Pedro Afonso (TO), R$ 64,00 em Uruçuí (PI) e R$ 60,00/saca em Goiatuba (GO), segundo Safras & Mercado.

Ou seja, o mercado brasileiro vive uma nova janela positiva de comercialização da soja, a qual é muito instável nesta época do ano. A vulnerabilidade do mercado em Chicago, devido ao clima nos EUA, associada a possíveis oscilações cambiais no Brasil devido à crise política e econômica do país, deverão trazer algumas janelas positivas de comercialização, pelo menos até fins de setembro.

Após, será necessário observar em quanto será, efetivamente, a colheita americana (espera-se, pelo menos, 115 milhões de toneladas na atual safra) e como ficará a situação política no país com a proximidade do final do ano. Portanto, os produtores rurais que ainda possuem soja, e são muitos no Brasil em geral e no Rio Grande do Sul em particular, devem ficar atentos a estes momentos mais propícios aos negócios que poderão surgir, como é o caso desta atual semana.

Cotações do milho em Chicago subiram

As cotações do milho em Chicago subiram um pouco, porém, não na mesma intensidade do que na soja. O vencimento dezembro/2017 fechou cotado a US$ 4,02 ¾ no dia 6 de julho. Esse comportamento menos incisivo das altas no milho repete o período especulativo do ano passado e nos remete a ter muito cuidado, pois o cereal deveria estar mais propenso a perdas, neste momento, em função de um clima mais quente e seco no Meio Oeste dos EUA. Portanto, isso reforça, por enquanto, a hipótese de que a pressão sobre os preços da soja é muito mais especulativa do que propriamente motivada por questões reais.

Dito isso, os relatórios de plantio e de estoques trimestrais, em 1º de junho, mostraram uma redução de 3% na área semeada com milho nos EUA, com a mesma ficando em 36.79 milhões de hectares, não confirmando a expectativa de que tal área pudesse, pela primeira vez na história, ser menor do que a de soja. Já em termos de estoques, os mesmos eram de 132.9 milhões de toneladas em 1º de junho deste ano, com aumento de 11% em relação a igual período do ano passado.

É bom lembrar que no dia 12 de julho será divulgado o relatório de oferta e demanda do USDA que, desta vez, já deverá trazer informações mais apuradas sobre os volumes colhidos e dos estoques finais nos EUA e no mundo para a safra 2017/18.

Enfim, segundo o USDA, até o dia 2 de julho as condições boas a excelentes das lavouras de milho nos EUA eram 68%, com melhora de 1% em relação a semana anterior, enquanto 24% estavam regulares e 8% entre ruins a muito ruins.

Na Argentina e no Paraguai, a tonelada FOB de milho fechou a semana na média de US$ 152,00 e US$ 92,50 respectivamente, havendo certa melhora nos preços argentinos em relação a semana anterior. No Brasil, a semana começou com um mercado sob o efeito da pressão da colheita da safrinha e, portanto, com tendência de novas baixas nos preços internos do cereal. Tudo indica que tal safrinha terminará com recorde de produção e grande produtividade média.

Diante deste quadro e da estagnação do dólar entre R$ 3,28 e R$ 3,32, os preços futuros brasileiros recuaram, com as tradings continuando a cortar prêmios. Os consumidores retraídos aumentavam o sentimento de recuo nos preços.

Esse quadro se modificou um pouco no transcorrer da semana diante das altas em Chicago e da forte especulação de clima seco nos EUA. Com isso, os níveis de preços no porto de Santos voltaram para R$ 29,00/R$ 30,00/saca, criando melhores expectativas junto ao mercado nacional.

Todavia, o ritmo de exportações continua muito lento. Segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), o Brasil exportou apenas 563.200 toneladas em junho, enquanto os portos indicam embarques ao redor de 1.1 milhão de toneladas. Pelo sim ou pelo não, o fato é que as duas informações estão muito aquém da necessidade nacional de exportação, que seria de cinco milhões de toneladas mensais até o dia 31 de janeiro de 2018, quando se encerra o ano comercial nacional para o milho.

Assim, a semana termina com muitas incertezas, e a tendência de alta volatilidade em julho deverá ser a tônica. Por enquanto, o preço médio no balcão gaúcho fecha a primeira semana de julho a R$ 22,52/saca, enquanto os lotes ficaram entre R$ 25,00 e R$ 25,50/saca.

Nas demais praças nacionais, os lotes oscilaram entre R$ 13,00/saca em Sorriso e Campo Novo do Parecis (MT) e R$ 25,50/saca em Videira e Concórdia (SC). Por sua vez, no interior paulista os preços ficaram entre R$ 24,00 e R$ 25,50/saca, enquanto o referencial Campinas indicou R$ 27,50 a R$ 28,00/saca no CIF mercado disponível (cf. Safras & Mercado).

Cotações do trigo continuaram disparando em Chicago

As cotações do trigo continuaram disparando em Chicago. O vencimento setembro/2017 fechou cotado a US$ 5,39 nesta quinta-feira (6), após ter fechado a US$ 4,93 uma semana antes. A cotação de US$ 5,39 não era registrada desde meados de junho de 2015, portanto, há praticamente dois anos.

E o principal motivo dessa disparada é o clima ruim nas Planícies estadunidenses, que atinge negativamente muito mais o trigo do que a soja e o milho (o retorno parcial das chuvas no dia 6, e ajustes técnicos com vendas para auferir lucros por parte dos operadores, derrubou as cotações neste dia).

Com isso, a possibilidade de uma produção ainda menor neste ano (o relatório de plantio apontou uma redução de 9% na área semeada, para 18.49 milhões de hectares, ou seja, a menor área desde que o país começou a registrar as estatísticas a respeito, em 1919) agitou o mercado. E nem mesmo o anúncio de que os estoques trimestrais na posição 1º de junho ficaram 21% mais elevados (32.1 milhões de toneladas) do que na mesma data de 2016, ajudou a reverter o quadro altista.

Por outro lado, as condições das lavouras de trigo de primavera nos EUA em boas a excelentes condições, as mais atingidas pela seca, recuaram para 37%, com 30% regulares e 33% ruins a muito ruins no dia 2 de julho. Na semana passada, as lavouras se dividiam respectivamente em 40%, 32% e 28%. Ainda no dia 2, 48% das lavouras de trigo de inverno estavam em boas e excelentes condições, 35% em situação regular e 17% em condições entre ruins e muito ruins. Na semana anterior, os números eram de 49%, 35% e 16%, respectivamente. A colheita de trigo de inverno era apontada em 53% até o dia 2 de julho, contra a média histórica de 54% (cf. USDA, Safras & Mercado).

No Mercosul, a tonelada FOB para exportação oscilou entre US$ 180,00 e US$ 200,00, já repercutindo as altas em Chicago. E aqui no Brasil, as condições de preços, que já vinham melhorando devido a escassez de produto nacional e do Mercosul, acabaram sinalizando novas melhoras devido ao mercado internacional.

E isso mesmo com o plantio avançando bem, tendo chegado a 92% no Paraná e 71% no Rio Grande do Sul no início da semana, afastando um pouco o receio de uma redução mais aguda na semeadura gaúcha, embora isso tende a ocorrer de alguma forma em determinadas regiões. Na Argentina, o plantio atingiu a 65% da área esperada no início de julho.

Em termos de preços internos, como as cotações na Argentina são balizadas por Chicago, um aumento dos preços nesta Bolsa, como é o caso, reflete indiretamente no Brasil devido a um custo maior na importação do trigo argentino, na medida em que o vizinho país repercute as altas nos EUA. Hoje o trigo argentino chega CIF São Paulo a R$ 823,00/tonelada. Para chegar ao mesmo destino o trigo paranaense no FOB teria que estar cotado a R$ 674,00/tonelada.

Já o produto do Kansas (EUA), nas atuais condições de preço, chega em São Paulo a R$ 1.139,00/tonelada. Isso significa dizer que, em se mantendo as altas em Chicago, o produto argentino deverá subir ainda mais, elevando os preços brasileiros por consequência. Especialmente se o dólar no Brasil se mantiver acima de R$ 3,30 por dólar (cf. Safras & Mercado).

Nesse momento, estima-se que haja ainda entre 10% a 20% da safra velha de trigo a ser comercializada no Brasil. Por sua vez, as condições de preços igualmente melhoraram para a safra nova, que está em fase final de plantio. Todavia, não se pode esquecer que o limite para as altas está relacionado aos maiores volumes produzidos na Argentina, que nesta nova safra poderão se aproximar das 20 milhões de toneladas, caso o clima ajude.

Neste contexto, a média gaúcha na semana chegou a R$ 31,83/saco, com tendência de alta, enquanto os lotes ficaram entre R$ 36,00 e R$ 37,20/saca. No Paraná os lotes oscilaram entre R$ 39,60 e R$ 41,10/saca. Ou seja, os preços nacionais ainda não estão repercutindo a totalidade dos aumentos registrados no mercado internacional. Para tanto, é preciso que a Argentina, e os demais parceiros do Mercosul, aumentem ainda mais seus preços, sob a influência de Chicago. Lembramos que somente da Argentina o Brasil já importou 3.8 milhões de toneladas de trigo neste ano. Ou seja, as indústrias nacionais ainda estão bem abastecidas.

 

Fonte: Ceema / Unijui

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