Redução de custos equilibra pecuária de leite em MG

O menor custo de produção e os preços valorizados do leite em pó no mercado internacional – o que inibe a importação do produto, estão contribuindo para que o setor leiteiro em Minas Gerais se recupere após dois anos de retração. Em maio, os preços do leite subiram 0,96% no Estado, com o litro negociado na média líquida a R$ 1,29. Esta foi a quarta alta consecutiva, mas a tendência para os próximos meses é de estabilidade ou pequena retração nos valores. Fatores como o comprometimento da renda da população, a maior safra no Sul do País e o estreitamento das margens das indústrias contribuirão para a interrupção do movimento de alta.

Segundo os dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), em maio, referente à produção entregue em abril, o preço bruto do leite foi negociado, na média, a R$ 1,41, variação positiva de 0,72%. No período, foi verificada queda de 2,8% na produção mineira devido ao período de entressafra, quando as chuvas se tornam mais escassas e a oferta de pastagem é reduzida.

De acordo com o economista e pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, unidade Gado de Leite (Embrapa Gado de leite), Glauco Carvalho, os dois últimos anos foram desfavoráveis para a pecuária leiteira, que enfrentou desafios como os custos em níveis recordes, preços do leite desvalorizados, seca e queda no consumo. Todos estes fatores desestimularam a atividade e muitos produtores optaram por reduzir o rebanho de matrizes, promovendo a queda na produção.

Desde meados do segundo semestre de 2016, a relação entre custo e preço vem mostrando recuperação, que foi mais significativa a partir do início de 2017. Com o clima favorável, a produção de grãos – principalmente de milho, cresceu e fez com que os custos da atividade recuassem ao mesmo tempo em que os preços iniciaram uma trajetória de recuperação, estimulados pela menor oferta. No início de 2017, os preços pagos pelo leite já estavam 15% superiores aos praticados em igual período de 2016.

“A tendência é que 2017 seja um ano relativamente bom. Os preços mais altos recebidos pela comercialização do leite e os insumos mais baratos fazem com que a situação do pecuarista esteja bem mais favorável em 2017. Isso é muito importante para a recuperação do setor, que em 2015 e 2016 acumulou prejuízos e teve os investimentos reduzidos”, disse Carvalho.

Importações

Entre os fatores que vem contribuindo para a sustentação dos preços e para a melhoria da rentabilidade da produção de leite no Estado, o pesquisador da Embrapa Gado de Leite explica que a oferta no mercado internacional está bem ajustada à demanda, fazendo com que os preços do leite em pó fiquem mais altos.

Para se ter uma ideia, enquanto no início de 2016 a tonelada do leite em pó era negociada a US$ 2.200,00, atualmente chega a US$ 3.300,00. Os preços da importação brasileira de leite da Argentina e do Uruguai estão em US$ 3.500,00 a tonelada.

“A valorização do leite no mercado mundial mostra que a oferta está restrita e isso diminui a competitividade da importação, favorecendo o mercado local. Ano passado, o leite importado respondeu por cerca de 8% do consumo formal no País. Levando em conta os primeiros quatro meses do ano, o volume de leite importado vem caindo. A importação está em torno de 3.000 a 5.000 toneladas por mês, sendo que no ano passado, chegamos a importar 16.000 toneladas por mês”, disse Carvalho.

Tendência é de estabilidade nos preços

Mesmo em período de entressafra, a tendência para os próximos meses é de estabilidade ou pequeno recuo nos preços do leite. De acordo com o economista e pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, unidade Gado de Leite (Embrapa Gado de Leite), Glauco Carvalho, os valores atuais estão em níveis que geram margem para os produtores. O preço médio estimado pela Embrapa, em Minas Gerais, está em torno de R$ 1,40 por litro, e os custos, dependendo do aparato tecnológico, da gestão e da eficiência, variando entre R$ 1,10 e R$ 1,20.

“Os preços já chegaram a um patamar próprio da entressafra e, por isso, o cenário não permitirá novas altas. Este ano, a relação entre custos e preços recebidos e o clima estão favoráveis para o pecuarista. Além disso, é período de safra no Sul do País e a tendência é de aumento da oferta. Outro fator que vai segurar os preços do leite é o consumo ainda fraco em função do maior comprometimento da renda da população e do aumento do desemprego, o que tem inibido o repasse da valorização da matéria-prima para o consumidor final e estreitado a margem de lucro da indústria”, disse Carvalho.

Mesmo com os preços garantindo margem de lucro para os produtores, a tendência é que a produção não cresça significativamente em 2017. Nos últimos dois anos, como os preços baixos praticados e os insumos elevados, o rebanho leiteiro do Estado foi reduzido, o que limita a capacidade de ampliar a produção.

“Como os preços ficaram muito abaixo dos custos, houve muito abate de matrizes leiteiras e produtores, com menor nível de tecnologia, colocando touros de corte no rebanho de leite, porque os preços do boi gordo estavam bons. Como isto reflete na estrutura do rebanho, não vemos espaço para grandes aumentos na oferta, e sim de recuperação, podendo chegar de 3% a 4%”.

A indicação do pesquisador da Embrapa é de que os produtores aproveitem o cenário favorável para planejar e fazer os investimentos necessários. “A agricultura é cíclica, com momentos bons e ruins, e o produtor precisa estar preparado para momentos adversos. Ele precisa ter uma gestão eficiente e acompanhar todas as despesas, ter noção dentro da propriedade e do mercado”, disse Carvalho.

 

Fonte: Diário do Comércio

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