Rede de supermercado alemã financia prêmio para o cultivo de soja convencional no Brasil

A rede de supermercados alemã Lidl está estimulando o plantio de soja não transgênica no Brasil. Pela segunda vez, financiará o pagamento de prêmio para produtores de soja convencional.

Agricultores que comprovarem ter negociado na safra 2018/19 o produto convencional pelo mesmo valor da soja transgênica poderão receber um bônus de US$ 9,00 por tonelada, disse ao Broadcast Agro Endrigo Dalcin, presidente do Instituto Soja Livre (ISL), que coordena o Programa de Incentivo à Soja Convencional em parceria com Fundação Pró-Terra e Food Chain ID.

O ISL se aproximou do supermercado alemão na 4º Conferência Mundial de Soja Não Geneticamente Modificada, realizada em Bremen, na Alemanha, no começo do ano. A partir daí, a rede alemã financiou o prêmio para a soja 2017/18 que os brasileiros tinham em estoque. Agora darão o adicional para o grão da temporada 2018/19.

A rede de supermercados não compra diretamente o produto, mas estimula a adoção do plantio convencional complementando a renda do produtor. No Brasil, segundo levantamento da consultoria Céleres, a área plantada com soja convencional representou nas safras 2017/18 e 2018/19 4,30% da lavoura total da oleaginosa.

Dalcin disse que europeus priorizam o consumo de alimentos produzidos com soja não transgênica e com isso pressionam fornecedores de carnes, leite e ovos a comprar grão e farelo convencionais na ração dada aos animais. “Eles demandam muito, e só o Brasil tem soja convencional com qualidade, certificação e rastreabilidade”, disse.

Pela soja da safra 2017/18, foram desembolsados US$ 702.000,00 como bonificação a produtores brasileiros, o equivalente a 65.000 toneladas. Para a soja da safra 2018/19, a expectativa é de repetir o volume ou superar.. O Lidl sinalizou que poderá financiar até 140.000 toneladas.

“Produtores devem entrar em contato com o Instituto, preencher os documentos e enviar para a Fundação Pró-Terra, parceira, para fazer o meio de campo entre a Europa e o produtor no Brasil”, afirmou Dalcin.

Segundo ele, qualquer agricultor que plantou convencional pode se candidatar a receber o prêmio, desde que comprove a venda sem diferencial de valor. “Incentiva o produtor, que recebe um dinheiro que não estava esperando e pode investir no que quiser para melhorar a propriedade e as condições de produção”.

Alex Utida, produtor de Campo Novo do Parecis, foi um dos que negociaram parte da safra 2017/18 na primeira edição do programa.

“Recebemos o prêmio por uma parcela da produção de soja para a qual não conseguimos o diferencial de preço no mercado. Essa soja havia sido vendida a um preço igual ao do transgênico”, disse. Para receber o prêmio, a fazenda passou por uma auditoria de boas práticas de soja sustentável de acordo com a legislação brasileira.

Utida explica por que a remuneração extra é importante: “A gente tem um custo mais alto na soja convencional. Para o produtor continuar cultivando, precisa ser remunerado para isso”. Segundo ele, há uma dificuldade para negociar no mercado de soja convencional.

“Não conseguimos colocar toda a soja no mercado com prêmio, então uma parte da soja tem ficado sem receber esse valor adicional.” O produtor lembra que têm surgido variedades transgênicas com produtividades cada vez maiores. “Se produtor não consegue preço melhor pela convencional, acaba optando por plantar mais transgênica.”

Na avaliação de Utida, a bonificação de US$ 9,00/tonelada paga pelo grupo alemão está abaixo do valor do prêmio de mercado, que é de US$ 30,00 a US$ 40,00 por tonelada do grão convencional.

“De todo modo, é um ganho adicional que a gente não teria em uma situação normal, porque já vendemos a soja”, disse, acrescentando que utilizará o prêmio para aperfeiçoar a operação da fazenda. “É um incentivo para melhorar cada vez mais práticas de meio ambiente e recursos humanos.”

Dalcin, do ISL, afirmou que a expectativa é de que a China também compre soja brasileira não transgênica. O país asiático exige a garantia de que 100% do grão recebido seja convencional, mas como no Brasil se planta soja transgênica e convencional, a certificação é de 99,90%.

“Estamos tentando agora mudar essa exigência. A ministra (da Agricultura, Tereza Cristina) levou nossa demanda ao Ministério da Agricultura chinês e já mostramos amostras de soja convencional para compradores de lá”, disse Dalcin. A expectativa é de que haja mudança no ano que vem.

Atualmente, a China compra soja convencional da Índia e da Rússia, que não plantam soja transgênica.

 

Broadcast Agro

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