Rebanho Brangus cresce mais de 80% no Brasil em dez anos

A maior parte dos animais Brangus está nos rebanhos de produtores comerciais, que são a grande maioria no País. Foto: Manuela Bergamin/Divulgação Embrapa

Nos últimos dez anos, o número de registros de bovinos da raça Brangus cresceu mais de 80% no Brasil, passando de cerca de seis mil para 10.785 animais registrados, conforme a Associação Brasileira de Brangus (ABB).

Pesquisador da Embrapa Pecuária Sul (RS), Joal Brazzale Leal acredita que o número está aquém da realidade observada no País, já que muitos pecuaristas não registram seus animais. Reconhecida por fornecer carne com gordura entremeada valorizada por mercados exigentes, a raça encontra-se em franca expansão de norte a sul do País.

“A maior parte dos animais Brangus está nos rebanhos de produtores comerciais, que são a grande maioria no País, e somente as cabanhas especializadas em produzir animais com genética superior é que costumam registrá-los nas suas respectivas associações”, detalha o cientista, que também preside o Conselho Técnico da ABB. Para ele, a expansão da raça Brangus é fruto de esforço de pesquisa.

MAIS DE MEIO SÉCULO NO BRASIL

Os primeiros experimentos para formação do Brangus, raça composta de bovinos taurinos (Aberdeen Angus) com zebuínos (Nelore), no Brasil, começaram no ano de 1946, no Sul do País. Leal conta que o empenho da Embrapa na formação do rebanho-base e na organização da associação de criadores desses animais foi fundamental, pois deu o suporte necessário à ampliação do Brangus para outras regiões.

Com o passar do tempo, a raça ganhou prestígio entre pecuaristas de diferentes partes do Brasil e também por um nicho de mercado formado por consumidores mais exigentes, ávidos por uma carne mais marmorizada, macia e suculenta.

O desenvolvimento do Brangus uniu características das raças zebuínas, como rusticidade, resistência a parasitas, tolerância às variações climáticas e habilidade materna, com vantagens verificadas nos taurinos, como qualidade da carne, precocidade sexual, elevado potencial materno e fertilidade.

“Além de produzir uma carne de qualidade, a habilidade materna, que é a capacidade de criar bem seus bezerros até o desmame, é o ponto mais forte do Brangus, como também, a menor suscetibilidade ao carrapato”, aponta Leal.

A maior parte do rebanho Brangus registrado ainda está no Rio Grande do Sul, porém, a raça é vista desde o extremo sul até o extremo norte do País, nos estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Tocantins e Pará. Desde o início da ABB, até o ano de 2016, foram registrados 425 mil animais da raça, explica a Superintendente do Serviço de Registro Genealógico da ABB, Renata Pereira.

APROVEITAMENTO DE SÊMENS DE ANGUS EM NELORE

Esse crescimento do Brangus também pode ser percebido pelo fato de a raça formadora Angus ter se tornado a principal raça de corte usada para inseminação artificial no Brasil, predominante em 14 estados brasileiros, pelos dados da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia). Com isso, muitas vezes o sêmen é utilizado em vacas Nelore para aproveitar os benefícios do melhor desempenho dos filhos em relação aos pais, utilizando o melhor de cada raça (heterose).

MERCADO MILIONÁRIO

Segundo Joal Brazzale Leal, o Brangus tem gerado anualmente ao setor produtivo centenas de milhões de reais: “Por ano, são vendidos cerca de dois mil touros Brangus de, em média, R$ 8 mil cada, o que dá R$ 16 milhões”.

“As fêmeas, vendidas a R$ 3 mil por cabeça, são cerca de cinco mil, o que dá R$ 15 milhões. Isso sem mencionar as incontáveis vendas particulares. Há ainda que se adicionar à conta o processo do abate, do qual não se tem controle exato, mas se estima em algumas centenas de milhões de reais”, aponta o pesquisador.

Enquanto a soma de exportações de doses de sêmen de bovinos de corte no Brasil (66.976), em 2014, caiu 25,6% em relação a 2013, as exportações de sêmen da raça Brangus foram de 7.952. Isso representa um crescimento de 98,8% nesse mesmo período, de acordo com a Asbia.

A produção de sêmen total de Brangus (pelagem preta) aumentou 32,5%, com um total de 99.004, e o Red Brangus (pelagem vermelha) aumentou 166,6%, com total de 61.114 doses produzidas.

“A venda de sêmen Angus (mais de três milhões de doses) tem sido majoritariamente utilizada para inseminar vacas zebuínas, em todo o Brasil, gerando Brangus meio sangue. Fiz um cálculo estimado de que 70% de nascimentos por meio dessa inseminação artificial nos daria de 700 mil a um milhão de fêmeas Brangus meio sangue nascendo no País. Essas vacas podem ser usadas para gado comercial ou para avançar em ganhos de geração para fazer registro”, conta Joal Brazzale Leal, pesquisador da Embrapa Pecuária Sul.

PRODUTOR BUSCA CARNE DE MELHOR QUALIDADE

O objetivo dos pecuaristas que têm utilizado o Brangus é obter maiores ganhos nas características mais desejáveis pelo mercado e pelos consumidores.

“Estive no Texas (EUA) e vi que o Brangus vem crescendo muito lá. É uma forma de ter um sangue Angus, que é a melhor raça para carne, em função de maciez, marmoreio, sabor e suculência. Do Paraná para cima, sem ser por intermédio da monta natural, a única forma de termos isso é com o Brangus”, conta Carlos Eduardo Ribeiro do Valle (conhecido como Cadu), vice-presidente da ABB e produtor com fazendas no Mato Grosso e no Pará, com 170 e 250 animais Brangus registrados, respectivamente.

No Pará, onde a raça foi introduzida há três anos, ela vem ganhando cada vez mais importância e a produção é quase toda destinada à exportação.

“Grupos exportadores do estado enviaram recentemente 12.500 bezerros de 180 a 300 quilos para a Turquia, que exigia animais sem cupim e pretos, exatamente o Brangus, pagando R$ 6,10 o quilo vivo, enquanto o normal seria pagar em torno de R$5,00. Esse diferencial está incentivando o produtor a trabalhar com a raça”, relata Cadu.

O criador lembra que, em um leilão realizado no ano passado, a média de venda dos touros Brangus foi de R$14.600,00 (em parcelas) e as fêmeas, R$9.500,00.

“Esse é um resultado muito bom. E a maior parte dos compradores era do Pará, visando essa compra para a exportação”, informa.

MELHORAMENTO GENÉTICO

Especialmente nos últimos 30 anos, as pesquisas com melhoramento genético bovino vêm trabalhando as características de maior interesse do setor produtivo. Segundo o pesquisador Marcos Yokoo, da área de melhoramento genético da Embrapa Pecuária Sul, o objetivo é gerar mais ganhos para o pecuarista e para o consumidor.

O trabalho científico busca características demandadas pelos produtores: animais mais resistentes a carrapato, mais produtivos e mais dóceis. “Além disso, a pesquisa visa resgatar a linhagem original do rebanho Brangus-Ibagé, raça formada no ano de 1946, no Brasil, no município gaúcho de Bagé”, conta Yokoo, responsável pela pesquisa.

Desde 2013, a Embrapa Pecuária Sul (RS), em parceria com a Embrapa Pecuária Sudeste (SP), vem trabalhando em um novo projeto para dar bases científicas à criação de critérios para a expansão da raça de uma forma mais sistematizada, visando a sua consolidação no Brasil.

HISTÓRIA DO IBAGÉ A BRANGUS

A contribuição do melhoramento genético, nas últimas décadas, foi fundamental para o aprimoramento das raças bovinas. No Brasil, os trabalhos iniciais para a formação e desenvolvimento do Brangus começaram 70 anos atrás, na Fazenda Experimental Cinco Cruzes, no então Departamento Nacional de Pesquisa e Experimentação Agropecuária (DNPEA), onde hoje funciona a Embrapa Pecuária Sul, em Bagé (RS).

Na década de 1950, os pesquisadores obtiveram os primeiros resultados dos cruzamentos. Em 1979, foi fundada a Associação Brasileira de Ibagé (ABI) e, em 1981, foi registrado o primeiro animal, de tatuagem “547”, de nome “Anú das Cinco Cruzes 547 38I”, de propriedade da Embrapa. O rebanho Ibagé foi o primeiro a participar do programa genético Promebo, da Associação Nacional do Criadores (ANC).

No ano de 1988, a associação passou a se chamar Associação Brasileira de Brangus-Ibagé e, posteriormente, Associação Brasileira de Brangus (ABB), visando facilitar o intercâmbio em nível internacional. Após dez anos operando nas dependências da Embrapa Pecuária Sul, a sede da ABB foi transferida para Campo Grande (MS).

Batizada inicialmente de Ibagé, posteriormente chamada de Brangus, a raça começou a ser criada comercialmente de forma mais intensa na década de 1970. Os primeiros trabalhos procuravam obter animais mais eficientes e mais aptos a pastejos em forragens grosseiras, muito comuns na Região Sul.

Outro objetivo era gerar bovinos com mais adaptabilidade a variações climáticas, e mais resistentes a carrapatos, problema mais comum nos bovinos de origem europeia, como Angus e Hereford.

“Até os dias atuais, há 13 gerações de Brangus aqui dentro da Embrapa Pecuária Sul. O rebanho da Embrapa é o de maior avanço geracional no País, senão da América do Sul”, explica Joal Brazzale Leal.

Ele acrescenta que o Brangus é um exemplo clássico de desenvolvimento de pesquisa. “É importante destacar que, ao longo desses anos, a raça Brangus não ficou somente na pesquisa científica, mas também no desenvolvimento com os criadores, formando um elo forte com a cadeia produtiva, comprovado pelo sucesso da raça no País, demonstrado pelos números”, afirma Leal.

Fonte: Embrapa Pecuária Sul  com edição d’A Lavoura

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