Líderes do agronegócio se manifestaram na quinta-feira (10/9) sobre o rebaixamento da nota de crédito do Brasil, anunciada ontem, pela agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P). Com o rebaixamento, eles acreditam que o agronegócio possa ser prejudicado no ano que vem.
A Sociedade Rural Brasileira (SRB) avalia que o rebaixamento da nota de crédito do Brasil pela Standard & Poor’s, que ocasionou a perda do grau de investimento do País, eleve custos de financiamento para empresas do agronegócio e contribua para desacelerar o crescimento do setor em 2016.
“Não acredito em retração do PIB da agropecuária (para o ano que vem), mas certamente teremos uma redução da área plantada e da produção”, afirmou o presidente da entidade, Gustavo Diniz Junqueira. Ele também defendeu a permanência do ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Em sua consideração sobre o “downgrade”, Junqueira disse que empresas do setor terão de provar a investidores internacionais que podem garantir retornos financeiros maiores.
“Não há dúvidas de que as captações externas ficam mais caras e mais escassas”, diz. Neste cenário, os recursos do Plano Safra 2015/2016 também são afetados e Junqueira ressalva que “as linhas disponibilizadas aos produtores não foram mais colocadas a juros diferenciados, mas a juros de mercado”.
O presidente da SRB também cita que empresas de insumos, logística e a indústria de base devem ser afetadas pela maior percepção de risco dos investidores. Junqueira diz que a perda do grau de investimento deve impactar a expansão do setor em 2016, que já deve ser afetada pela desaceleração econômica da China, grande consumidora de commodities agrícolas.
Segundo ele, importadores chineses devem tentar negociar preços mais baixos em 2016, o que reduzirá a geração de caixa de produtores brasileiros. “Com um caixa menor e menos crédito, eles vão produzir menos. Não há como esperar que a receita do agronegócio fique igual”, disse.
Joaquim Levy
A SRB se posiciona a favor da continuidade do ministro da Fazenda no governo atual. O mercado financeiro tem especulado sobre a saída do ministro nas últimas semanas, e algumas consultorias indicam que o “downgrade” feito pela S&P pode acelerar o processo. “Não é tirando o ministro Levy que os problemas vão desaparecer”, disse Junqueira, que considera positivos os esforços do ministro para garantir a transparência dos problemas macroeconômicos. “Levy é peça-chave nessa reorganização do Brasil”, disse. O presidente da entidade também considera que o ajuste proposto pelo Ministério da Fazenda “não é exagerado” e defende que o Congresso precisa rever a Constituição de 1988 para reduzir as receitas vinculadas e facilitar a execução do Orçamento.
Economics FNP
A perda do grau de investimento do Brasil pela Standard & Poor’s pode significar menos projetos em logística e infraestrutura no médio e longo prazos, avaliou a Informa Economics FNP.
O diretor técnico da consultoria, José Vicente Ferraz, disse que há riscos de investidores estrangeiros abandonarem ou reduzirem o ritmo de investimento caso outras agências de risco sigam o caminho da S&P, com efeitos negativos sobre o setor agropecuário.
“Essa é a maior preocupação. Esperamos que não, mas se alguns desses investimentos deixarem de ser feitos ou entrarem em compasso mais lento, isso seria péssimo”, disse. Ferraz destacou a necessidade de melhorar o escoamento da produção nacional, aumentando a competitividade das exportações brasileiras e elevando a renda dos produtores.
“Eles trariam a possibilidade de continuarmos em expansão do setor, inclusive em área plantada”, afirmou o consultor. No entanto, Ferraz destaca que muitos investidores destes projetos são estrangeiros, inclusive fundos que têm por regra não investir em países de grau especulativo. Ainda assim, a FNP não acredita em efeitos de curto prazo do rebaixamento para o setor.
No mercado de câmbio, Ferraz espera que a alta do dólar se acelere, o que tende a beneficiar as cadeias produtivas exportadoras. “Para o agronegócio e a exportação de commodities isso é positivo. Do ponto de vista inflacionário e do custo de produção, é ruim, mas comprovadamente os benefícios são maiores”, avaliou.
Ferraz acredita que a desvalorização do real deve continuar a compensar a queda nos preços internacionais das commodities agrícolas. Na quarta-feira, a Standard & Poor’s rebaixou o rating do Brasil de BBB- para BB+ e retirou o grau de investimento do País. A perspectiva negativa da nota de crédito do Brasil permaneceu negativa.
Associação Brasileira do Agronegócio (Abag)
Os segmentos da agroindústria, infraestrutura e logística devem ser os mais afetados pela perda de grau de investimento do Brasil. A avaliação é do diretor executivo da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Luiz Cornacchioni.
“Dos elos da cadeia do agronegócio, o da agroindústria é o que mais preocupa. Responde por quase 30% do agronegócio e os investimentos na área, assim como em infraestrutura e logística, são muito pesados. Vários fundos e bancos podem desacelerar os aportes nestes segmentos ou cobrar mais caro pelo dinheiro”, disse Cornacchione.
O diretor executivo da Abag disse que, em um primeiro momento, pode não se observar cancelamentos em grande escala de recursos destinados a projetos nestes setores, mas sim adiamento de decisões. Para ele, ainda é difícil precisar o tamanho do impacto da notícia. Ontem, a Standard & Poors rebaixou o rating do Brasil de BBB- para BB+ e retirou o grau de investimento do País.
A perspectiva negativa da nota de crédito do Brasil permaneceu negativa. Cornacchioni lembrou que muitas empresas e investidores estrangeiros seguem normas internas condicionando seus investimentos a países que tenham grau de investimento.
“De saída, o Brasil vai deixar de atrair alguns fundos; outros vão ficar receosos. E há um terceiro ponto a acompanhar: o comportamento das outras agências de rating.” Também reflexo da perda de grau de investimento deve ser a elevação dos custos dos produtos de seguradoras. “Grandes empresas da agroindústria e de logística, que fazem investimentos de grande monta, se garantem com seguros que agora se tornarão mais caros”, falou.
Ele comentou ainda sobre a valorização do dólar após a divulgação feita pela S&P, que eleva os custos em real dos insumos para a safra.
Para ele, novas altas da moeda norte-americana não devem comprometer a temporada 2015/16, apesar de muitos produtores terem protelado sua decisão de compra e as entregas de insumos estarem atrasadas em relação ao ciclo passado. “A maioria das medidas para a safra 2015/16 já foi tomada. Os produtores que não compraram insumos até agora não vão comprometer a produção, mas terão de reduzir suas margens”, afirmou.
Fonte: Estadão Conteúdo