Raça Valore: a nova genética de carne e leite conquista o Brasil

Parceria entre pesquisadores italianos e brasileiros desenvolveu uma nova raça bovina no Mato Grosso (MT), derivada do cruzamento da Raça Valdostana, típica da Itália, com raças brasileiras, com Gir, Girolando e Guzerá. Foto: Divulgação

Por suas características geográficas e climáticas, o município de Chapada dos Guimarães foi escolhido para o início do projeto de pesquisa científica de cooperação internacional entre o Departamento de Patologia Animal, da Faculdade de Medicina Veterinária, da Universidade de Turim, na Itália, a A.N.A.Bo.Ra.Va — Associação Nacional dos Criadores dos Bovinos da Raça Valdostana da Itália, e o Governo do Estado de Mato Grosso, através da SECITEC – Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia do MT.

 

PERFORMANCE REPRODUTIVA

Denominado “Introdução da raça bovina Valdostana em cruzamento: melhoramento das técnicas de criação, controle da produção, qualificação e requalificação profissional no setor zootécnico e lácteo”, o projeto, que também tem parceria com a Companhia Zootécnica Agrária e das universidades Federal (UFMT) e Estadual (UN EMAT) do Mato Grosso,
verificou a performance reprodutiva da raça bovina Valdostana em cruzamento, com inseminação artificial, em um tempo fixo, com raças bovinas zebuínas criadas localmente, e investigou a performance produtiva das fêmeas oriundas desse cruzamento, denominadas Valore.

 

PROGRAMA ARTICULADO

Em uma área de 11,5 hectares, situada a poucos quilômetros da cidade, o Projeto prevê a construção de um complexo arquitetônico da Fazenda Experimental e do Instituto Superior de Cultura Queijeira Aosta (Itália), para a criação e manejo de excelência de animais originados dos cruzamentos. Ali, as fêmeas passaram por uma contínua avaliação, seguindo uma rigorosa metodologia científica.

Leila Vincenti, responsável científica do projeto, explica que, para que o programa tomasse corpo, os técnicos italianos e brasileiros trabalharam primeiro em uma fase de reconhecimento e monitoramento de fêmeas produtoras em uma pequena região (cerca de 40km de raio em torno da cidade). Eles verificaram as condições de criação e manejo de amamentação utilizado. “Em um núcleo selecionado destas fêmeas, foram executadas cerca de 600 inseminações artificiais uma por fêmea, entre raças zebuínas Gir, Girolando e Guzerá. Estima-se que até agora mais de 260 bezerros F1 já
nasceram”, conta a pesquisadora.

 

ADESÃO

Os produtores que aderiram ao projeto, disponibilizando as fêmeas para inseminação artificial, foram acompanhados por um veterinário, parceiro de um programa de Doutorado de Pesquisa (Phd) binacional em Turim (intercâmbio entre universidade) que realizava periodicamente o monitoramento das propriedades e dos dados clínico, terapêutico e preventivo nas fêmeas selecionadas como reprodutoras. O veterinário também foi responsável por selecionar os machos reprodutores e zelar para que os critérios fixados para a escolha dos animais reprodutores fossem respeitados.

 

CASEIFICAÇÃO

A qualidade do leite atualmente produzido, é monitorada com testes simples realizados em colaboração com o laboratório de análises da Universidade Federal de Mato Grosso —UFMT e com o auxilio de um aparelho computadorizado, o “Milk Analyzer”. O leite deve estar de acordo com as características necessárias de estabilidade, para que, só depois, seja iniciada a atividade de caseificação (transformação do leite em queijo). “São avaliadas as fases da caseificação, os tempos e os graus de acidificação do leite, a tipologia de coalhada, a produção de queijo e os atribudos dos queijos produzidos”, afirma Leila Vincenti.

 

IMPACTO SOCIAL

O projeto também considerou as condições econômicas dos núcleos familiares rurais da região — muitos deles descendentes de italianos —, disponibilizando instrumentos para incrementar a rentabilidade das propriedades. “Combater a carência social através da formação e da requalificação profissional é um dos principais pilares do Projeto. Por isso, a capacitação dos pequenos pecuaristas é parte fundamental, com o ensinamento, por exemplo, das técnicas de caseificação, para valorização e melhoria de rendimento desta matéria-prima”, explica o responsável pela gestão do projeto Aldo E. Cavagliato.

Foram realizados encontros com pequenos produtores rurais locais para transmitir os conhecimentos técnicos de gestão e estimular o uso da inseminação artificial, além de reuniões de capacitação, para promover o controle da qualidade do leite e melhorar a condição sanitária do produto.

 

REQUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL

Aldo Cavagliato conta que, “o apoio da Secretaria de Estado e Ciência e Tecnologia (SECITEC) foi importante para transformar a ideia de um pequeno caseifício (indústria caseira) para uso dos pequenos produtores, em um grande Projeto destinado a formar técnicos caseificadores de todos os níveis”. O Projeto prevê a construção de com um instituto profissional de formação e requalificação, com espaço para salas de aula, provadores e serviços, além de uma escola-fábrica de caseificação com modernos equipamentos, e com docentes técnicos, que possuem formação italiana e francesa no setor da caseificação.

 

PASSOS FUTUROS

Atualmente, o projeto atua na Prefeitura de Chapada dos Guimarães e Prefeitura de Sorriso, também no Mato Grosso, com aumento significativo de nascimentos de F1, por meio de inseminação artificial.

Cursos de caseificação estão sendo oferecidos para mulheres e jovens criadores, com a produção de vários tipos de queijos de primeira qualidade, que respeitam os padrões sanitários europeus. Este aspecto, levando em conta o cuidado da produção de leite e a higiene no momento da ordenha, permite a produção e venda de queijos de qualidade nunca antes produzidos no território do Mato Grosso.

“Esperamos que o projeto não envolva apenas a parte científica, mas a social também. Acreditamos que a formação profissional pode ser replicada em outras áreas e, quem sabe, em uma área geográfica adequada, poderá consolidar-se numa empresa piloto de laticínios e processamento local de carne bovina, que seja auto-sustentável”, espera o gestor do projeto, Aldo Cavagliato.

 

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Fonte: Revista A Lavoura – edição nº 706/2015

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