Questão fundiária e seguro rural 

 

  • Marcelo Sá
          Equipe SNA

Em 1900, a produção de grãos foi de 3,7 milhões de toneladas. O Brasil era importador de alimentos e produtos agrícolas, o maquinário obsoleto. Na 2ª Guerra Mundial, ainda não tinha passado de 10 milhões por ano. Nos anos 70, atingiu 30 milhões de toneladas e atualmente a projeção é de mais de 300 milhões de toneladas. Havia o mito de que o setor rural era movido a crédito, o que era um absurdo, porque os empréstimos eram tomados pelos grandes latifundiários, que aplicavam o dinheiro para outras coisas, não para a agricultura.

Com as crises monetárias e do petróleo de 1970, o País percebeu o quanto era dependente de praticamente tudo. Em 1980, o Brasil estava quebrado e o crédito rural acabou. Era preciso melhorar o capital humano, modernizar ferramentas, repensar o modelo de financiamento e distribuição de terras.

No entanto, paralelamente a um cenário adverso, caminhavam juntas forças favoráveis nessa época de dificuldades e transição. A Embrapa, criada em 1973, buscava investir em pesquisa para aprimorar os métodos de cultivo e reduzir a dependência do petróleo e outros insumos. Mesmo assim, nos anos 80 a produção ainda estagnada em 80 milhões de toneladas. Nenhum país do mundo fez isso.

Então, nesse sentido, é bobagem falar em reforma agrária ou desmatamento, pois nosso potencial é muito alto, em comparação a outras nações de dimensões continentais, como EUA e Índia, no quesito percentual do território cultivado. Ainda temos um gargalo logístico, é preciso pensar num projeto do eixo Atlântico – Pacífico, porque quando isso acontecer as portas da Ásia vão se abrir ainda mais.

O antigo modelo de crédito hoje se transformou no seguro rural, que é uma opção melhor. Acaba sendo mais barato no Brasil, relativamente a outros países, quando se pensa em subsídio. Há uma série de riscos que o agricultor enfrenta, qualquer que seja o tamanho do empreendimento. Assim, há uma gestão desse risco, no sentido de que as seguradoras terão interesse no sucesso do agricultor, quase uma gestão conjunta.

A saída para o Pacífico teria a diferença de bitolas (larguras entre trilhos) para aproveitar trechos estrangeiros, mas pode ser feito, porque as ferrovias poluem menos, não há tantos acidentes. É necessária uma logística para descarregar quando chegar à estação. A tecnologia de ferrovias atualmente é dominada pela China, tanto de cargas quanto de passageiros. Tiveram que aprender muito para chegar nesse patamar.

A vontade do empreendedor do brasileiro é muito grande, as cooperativas, por exemplo, ajudam muito na implantação do seguro rural, mas infelizmente alguns não tem acesso. O agricultor sozinho é mais difícil de buscar via seguradora, até porque na hora do sinistro uma comunidade toda costuma ser afetada. Facilita os trâmites. Há registros muito bons já de gestão de risco, índices pluviométricos etc., que consegue fornecer os dados de mapeamento. O associativismo é muito importante nesses casos.

*Esse artigo teve a colaboração fundamental do economista Cláudio Roberto Contador, mestre e doutor pela Universidade de Chicago, professor titular da UFRJ, pesquisador da  “Strong  Business School” e membro de conselhos de empresas no Brasil e exterior.

 

 

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