Na avaliação da Consultoria Trigo & Farinhas, só há uma resposta: o próprio setor de produção, ninguém mais. “Nem governo, nem tradings, nem moinhos, nem compradores finais. O governo, além de não demonstrar nenhum interesse (no máximo organiza alguns leilões e só, porque precisa da falta de trigo como moeda de troca por produtos da linha branca com a Argentina e por carne na Rússia), também não tem dinheiro sobrando para investir”, diz a T&F.
Segundo a Consultoria, as tradings investem em 99% dos processos de comercialização dos grãos em todo o mundo: armazenagem, compra e venda, transportes rodoviários, ferroviários e marítimos, industrialização, distribuição e filiais no exterior. Exceto na produção (também em todo o mundo, não tem fazenda nenhuma).
“Os moinhos estão primeiramente interessados em farinha de boa qualidade e, para isso, precisam de trigos de boa qualidade, não importa se de origem nacional ou internacional. É verdade que alguns deles têm preocupações quanto ao plantio (mais as cooperativas, que dispõe de departamento agronômico, mas também alguns moinhos particulares, mas são poucos). E, convenhamos, não é sua função investir na produção do grão. Já tem preocupações bastantes com a produção e venda de farinhas”, disse o analista Luiz Fernando Pacheco.
“Resta então o setor de produção (cooperativas, cerealistas, produtores individuais). E aí é que está o problema. Poucas empresas deste setor estão alinhadas com a cadeia do trigo. As que estão alinhadas se dão muito bem: vendem o trigo mais caro e conseguem um fluxo de comercialização invejável (poderíamos citar os nomes de algumas empresas, mas não temos autorização para isso)”, disse.
Segundo ele, o que ocorre na maioria dos casos, porém, é que o próprio setor de produção, alegando falta de lucratividade, não faz a coisa certa: usa sementes próprias, não faz investimentos em NPK, entregam todos num silo de fundo chato, que mistura trigo bom com trigo ruim e depois se queixam que o preço é baixo.
“E qual seria a coisa certa? Se alinhar a algum moinho e combinar com ele quais tipos de sementes precisam ser plantadas para a produção de tais e tais farinhas (são cinco tipos de farinhas, de modo que a variedade pode ser grande, de acordo com a vocação do solo). Um bom exemplo disso é a região da Serra, no RS, onde produtores particulares produzem boas sementes fiscalizadas e armazenam a sua colheita em silos próprios, obtendo, desta forma, preços 20,07% acima dos demais produtores do estado (R$ 700,00 a tonelada, acima mesmo dos produtores do Paraná).
Estes fazem a coisa certa e tem bons lucros. Basta imitá-los”, disse.
Fonte: Agrolink