Determinada pelo Ministério da Agricultura em 29 de maio, a proibição das avermectinas de longa ação – vermífugos para bovinos largamente utilizados no Brasil – pôs em polvorosa nos últimos dias a indústria veterinária de capital nacional, que produz esse vermífugo também para cães e equinos.
Na sexta-feira passada, uma circular foi enviada pelo Departamento de Fiscalização de Insumos Pecuários (DFIP) da Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura para os serviços de fiscalização dos Estados do país com o intuito de dirimir dúvidas sobre a proibição do vermífugo.
Ocorre que essa circular representa, também, o veto à comercialização de avermectinas de longa ação para cães e equinos, segundo o vice-presidente da Associação Brasileira dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais (Alanac), Javier Carracedo. “Obviamente, o prejuízo ao setor não é comparável à proibição de venda para bovinos, mas existem empresas em que os vermífugos para cães e equinos representam mais de 50% do faturamento”, disse Carracedo ao Valor. Em cães, o produto é usado para combater infecções como a sarna.
De acordo com ele, as veterinárias brasileiras faturam cerca de R$ 80 milhões com as vendas das avermectinas para equinos e cães. Carracedo não soube precisar, porém, qual é a participação dos produtos de longa ação nesse total. Como um todo, a indústria veterinária de capital nacional, que conta com empresas como União Química e Ourofino Saúde Animal, fatura cerca de R$ 1,3 bilhão por ano, segundo estimativa da entidade.
O vice-presidente da Alanac questiona o conceito de longa ação. A circular do DFIP, assinada pelo coordenador Cleber Tailor Melo Carneiro, ratifica que as avermectinas de longa ação em pasta e comprimido, modo como são usadas em equinos e cães, também estão proibidas. Por longa ação, a circular esclarece que são todos os produtos, seja em pasta ou em comprimido, com concentração de avermectina superior a 1,5%.
“É um contrassenso muito grande, porque não existe avermectina de longa ação para cães e equinos Esse conceito não existe”, afirmou Carracedo. Na opinião dele, essa classificação de longa ação faz sentido para o setor de bovinos, em que os produtores devem respeitar um prazo de carência para que o gado seja abatido. A detecção de avermectinas em carne bovina enlatada exportada para os EUA, aliás, foi o que levou o Ministério de Agricultura a proibir o produto, decisão que foi questionada na Justiça pelo Sindicato Nacional da Indústria de Produtos de Saúde Animal (Sindan), que ainda aguarda um julgamento da matéria.
O vice-presidente da Alanac indaga, ainda, qual seria o prazo de carência dessas avermectinas em cães e equinos, já que esses animais não são abatidos e, portanto, não são para consumo humano, ao contrário do que ocorre com o gado bovino. Para Carracedo, o parâmetro para o uso de avermectinas em cães e equinos não é a concentração, mas a posologia. No caso dos cavalos, ela é de 200 microgramas por quilo, exemplificou ele.
Fonte: Valor Econômico