Produzir e preservar: a lição da Coopernorte na Amazônia. Por Xico Graziano

Cooperativas inspiram o movimento de avanço do país ao unir propósitos em busca da prosperidade, escreve Xico Graziano.

Na imagem, vista aérea da floresta amazônica. Foto; Sergio Lima/Poder360

O sucesso do cooperativismo agropecuário está rompendo barreiras geográficas e culturais. Basta ver o exemplo da Coopernorte, instalada em Paragominas, no Pará. Em plena Amazônia.

Fundada em 2012, aglutinando um grupo inicial de 33 produtores rurais, a cooperativa cresceu investindo na moderna produção de grãos, em uma região dominada pela pecuária extensiva. Adotaram o preceito da sustentabilidade e participaram do pacto, junto com o poder público, sindicato rural e entidades ambientalistas, como Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) e a TNC (The Nature Conservation), contra o desmatamento criminoso na região. Funcionou.

Arrojados e conscientes, os cooperativistas de Paragominas construíram grandes silos, fizeram parcerias com empresas de insumos e máquinas e agora, 12 anos depois, acabam de inaugurar sua agroindústria de processamento e embalagem de grãos, incluindo soja, milho, milho pipoca e feijão. Criaram sua marca própria e partiram para disputar o jogo do consumo, agregando valor ao produto básico da roça.

A verticalização, do campo à mesa do consumidor, é o mote que hoje aglutina uma centena de cooperados, comandando 130 mil hectares de lavouras, distribuídas por 9 municípios no norte do Pará. Cresceram com cuidado, sem abrir a porteira para os oportunistas de sempre. Rumo à maturidade, sua estratégia vislumbra, ousadamente, erigir uma destilaria de etanol de milho. Energia limpa para a Amazônia.

Quem conhece a história do cooperativismo nacional sabe que o sistema se fortaleceu especialmente no Sul do país, onde imperam os pequenos e médios agricultores. Na maioria das regiões, a cultura europeia, que estimula o espírito solidário, contribuiu para sua organização. Pequenos, isolados, são fracos, mas, unidos, se tornam fortes.

Dentre as 10 maiores cooperativas agropecuárias brasileiras, 6 estão sediadas no Paraná (Coamo, C. Vale, Lar, Cocamar, Integrada e Frísia), uma em Santa Catarina (Cooperalfa), uma em São Paulo (Coopercitrus), uma em Goiás (Comigo) e uma em Minas Gerais (Cooxupé). Essas maiorais, bem-sucedidas, puxam o cooperativismo no país.

No total, funcionam entre nós 1.185 cooperativas, aglutinando cerca de 1 milhão de produtores rurais, sendo 71,2% da agricultura familiar. Pelas cooperativas são comercializadas e/ou processadas mais de metade da produção rural: 75% do trigo, 55% do café, 53% do milho, 52% da soja, 50% dos suínos, 48% do algodão, 46% do leite e 43% do feijão. Uma solução contra a antiga, e danosa, intermediação no mercado primário.

Acoplado às suas congêneres ligadas à produção, as cooperativas de crédito avançam de forma surpreendente, distribuídas entre 2 poderosos bancos cooperativos: o Sicoob e o Sicredi. Existem 9.000 unidades de atendimento espalhadas pelo país, atendendo a 15,5 milhões de associados, democratizando o acesso ao financiamento, tanto rural quanto urbano. As agências das cooperativas de crédito são a única instituição financeira presente em 332 municípios brasileiros.

Outra mentalidade, novos negócios, nova visão sobre o futuro. Na distante Coopernorte, encruada na selva amazônica, se reflete a essência do cooperativismo: união de propósitos para buscar a prosperidade distribuindo a riqueza e criando bem-estar social. Com proteção da natureza.

O desmatamento recuou no norte do Pará nesse período de fortalecimento da Coopernorte. O jovem município de Paragominas, nascido nos anos de 1960 às margens da recém-construída rodovia BR-10, a conhecida Belém-Brasília, virou a página: de vilão da hileia, passou a herói ambiental. Segundo a plataforma MapBiomas, o território agropecuário se reduziu em 3% e a área da floresta cresceu para 68% do município. É inacreditável, mas é a verdade.

Quem olha a Amazônia nem sempre enxerga a virtude, sombreada pelas mazelas. A Coopernorte nos dá uma lição agroambiental: só unindo a produção com a preservação alcançaremos o desenvolvimento sustentável na Amazônia.

A ação cooperativa ilustra a semana do meio ambiente. Fora disso, é mero discurso ecológico.

 

Xico Graziano é engenheiro agrônomo e doutor em administração.
Artigo anteriormente publicado no Poder360 e gentilmente cedido pelo autor à redação da SNA

 

 

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