Os preços agropecuários iniciaram o ano em queda no atacado, sinalizando que a inflação de alimentos ao consumidor pode perder força nos próximos meses.
O IPA (Índice de Preços ao Produtor Amplo) agropecuário passou de 0,75% para -0,89% em janeiro, segundo o IGP-M (Índice Geral de Preços) divulgado ontem pela Fundação Getulio Vargas. A expectativa é que a deflação seja mais intensa na próxima medição, segundo a LCA.
Entre os destaques de baixa estão produtos que subiram muito no ano passado, como o tomate, a batata-inglesa e o leite “in natura”.
Mas, segundo Salomão Quadros, pesquisador responsável pelo IGP-M, a soja foi a principal responsável pela deflação de janeiro.
“Se retirarmos a soja do cálculo, a desaceleração do IPA agropecuário seria muito tênue”, diz. Por isso, a retração demonstrada pelo índice no atacado deve demorar para chegar ao varejo.
O impacto da oleaginosa no bolso do consumidor é pequeno e indireto. Ele é praticamente restrito ao óleo de soja, à margarina e às carnes de frango e de suínos, animais que consomem farelo de soja na ração. Espera-se que ocorra um repasse da retração no preço do insumo para o produto final, mas é difícil prever se ele ocorrerá na mesma intensidade e quando.
Quadros diz, no entanto, que a queda dos preços ao consumidor “é uma questão de tempo”, pois alimentos com impacto direto no orçamento das famílias também estão em desaceleração.
É o caso da carne bovina, que passou de uma alta de 3,4% em dezembro nos frigoríficos para 1,8% em janeiro, segundo o IGP-M. Carne suína, de frango e o feijão também estão com preços menores, além do leite.
Nesses casos, o repasse ao consumidor é mais rápido. A prévia do IPCA, índice oficial de inflação, já mostrou uma queda de 6,59% no leite longa vida em janeiro. “Ele impediu uma alta mais contundente dos preços ao consumidor”, diz Adriana Molinari, analista de inflação da consultoria Tendências.
A economista estima uma alta de 1,15% para o grupo alimentação do IPCA neste mês, ante 2,5% em janeiro de 2013. A falta de episódios de forte restrição na oferta, como o do tomate e o do leite no ano passado, explica a diferença.
Fonte: Folha de S.Paulo (Vaivém)