Produtores pedem definição mais rápida da política para o café

 

‘O cafeicultor investiu na atividade e teve maior produtividade que a normal. Agora vende abaixo do custo de produção. Isso é a quebra’, afirma Breno Mesquita, da CNA / Foto: Wenderson Araújo

 

As medidas adotadas pelo governo para ajudar na recuperação do preço do café, que enfrenta uma crise internacional de preços, com reflexos no mercado doméstico, ainda não surtiram efeito no custo da saca comercializada no Brasil. O valor da saca de 60 quilos da variedade arábica está entre R$ 260 e R$ 280, dependendo da localidade do país. Para entidades representativas dos produtores, a demora no socorro ao setor dificultou a reação. Elas cobram do poder público definição antecipada das políticas para a próxima colheita.

“Até agora, o mercado não absorveu o programa de opções [leilões de contratos de opção de venda do grão] nem a liberação de recursos do Funcafé [Fundo de Defesa Econômica Cafeeira]. Os recursos [do Funcafé] saíram com mais de 80% da safra colhida. Tendo políticas clareadas, transparentes para a safra que começaria, o mercado reagiria de forma diferente. Agora temos que aguardar um pouco para ver como ele vai se comportar”, destaca Breno Mesquita, presidente da Comissão Nacional do Café da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

A demora na liberação dos recursos do Funcafé, que disponibilizou no mês passado R$ 3,1 bilhões de R$ 5,8 bilhões previstos para o setor, ocorreu porque houve atraso na aprovação do Orçamento de 2013 pelo Congresso Nacional. Depois, foi necessário o aval do Conselho Monetário Nacional (CMN) para liberação do dinheiro. Agora, segundo Mesquita, é a greve dos bancos, iniciada há duas semanas que está dificultando o acesso ao crédito.

Ele critica também o que considera morosidade na oficialização de medidas como os leilões de contratos de opção de venda, encerrados na última semana, e a elevação do preço mínimo. Além disso, para os cafeicultores, o reajuste de 17% no valor, que agora está em R$ 307, não foi suficiente para cobrir os custos de produção. O setor desejava reajuste para R$ 350.

“Dependendo do sistema, é um custo de R$ 350 a R$ 400 por saca [para produzir]. Nas safras anteriores o preço estava bom. O cafeicultor investiu na atividade e teve maior produtividade que a normal. Agora vende abaixo do custo de produção. Isso é a quebra. Ninguém consegue trabalhar. O café é uma cultura perene, não se pode arrancar o pé e plantar outro ano. Políticas para culturas perenes têm que ser diferenciadas”, defende Breno Mesquita.

Para dar fôlego ao setor, a CNA solicitou ao governo a suspensão da cobrança de débitos dos cafeicultores por três meses. Nesse período, a entidade e o Conselho Nacional do Café (CNC) levantariam a real situação de endividamento dos produtores e discutiria soluções com o governo. O secretário adjunto de Política Agrícola da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, João Rabelo, confirmou à Agência Brasil que o órgão recebeu e está estudando o pedido de interrupção temporária da cobrança dos débitos. De acordo com ele, caso haja decisão favorável, ela deve ser divulgada na próxima reunião do CMN, prevista para o dia 31 de outubro.

A CNA e o CNC reivindicam a definição de políticas com antecedência e garantias para a safra seguinte. Segundo o deputado Silas Brasileiro (PMDB-MG), presidente do CNC, no próximo dia 23 haverá reunião do Conselho Deliberativo de Política Cafeeira, no Ministério da Agricultura, e a reivindicação será um dos temas em discussão. “Temos uma pauta extensa. Queremos negociar com antecedência os recursos [para a próxima safra]”, informou. Na avaliação de Silas, a recuperação do preço do café acontecerá, mas será demorada. “A reação virá, mas será mais lenta. O mercado é especulativo, fica aguardando que o recurso chegue na ponta. Pelo menos o preço estabilizou, não está mais caindo”, destacou.

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