A maioria dos produtores de alimentos orgânicos é constituída por agricultores familiares ou pequenos produtores que dependem de mercados diretos com ênfase em transações e relacionamentos pessoais com os consumidores. Para a coordenadora do Centro de Inteligência em Orgânicos (CI Orgânicos/SNA), Sylvia Wachsner, essa relação precisa ser melhorada.
“Os alimentos orgânicos mais produzidos e consumidos são verduras e legumes, o que envolve um maior número de pequenos produtores. Para muitos fica complicado cuidar dos cultivos e comercializar os produtos”, observa Sylvia. “Muitos têm maior afinidade com o cultivo e deixam a comercialização em mãos de terceiros, e isso, em alguns casos, distorce a confiabilidade produtor-consumidor”.
A coordenadora do CI Orgânicos afirma que as maiores barreiras para o consumo são o preço, a conscientização sobre os benefícios desses produtos e a questão da certificação. “Os consumidores acreditam que os alimentos orgânicos são saudáveis e bons para o meio ambiente, mas o conceito de sazonalidade dos produtos ou de como é composta a cadeia produtiva é desconhecido”.
ESCLARECIMENTO
Sylvia defende a divulgação de mais campanhas de esclarecimento “para todo tipo de consumidor, das feiras livres aos varejistas, bem como em hotéis, restaurantes, cantinas das escolas, universidades e indústrias de alimentos”.
“Deve ser um esforço constante e conjunto de toda a comunidade de produtores orgânicos, dos agricultores familiares, cooperativas, pequenos produtores e agroindústrias”, destaca a especialista, que também considera importante fortalecer a compreensão acerca dos mecanismos de certificação e cadastro existentes.
“O consumidor deve entender que, em caso de dúvida, pode consultar o Cadastro Nacional da Agricultura Orgânica, verificar se o produto é orgânico, exigir, olhar o certificado ou cadastro orgânico e conversar com os varejistas”, salienta.
“Os supermercados podem inserir sinalizações que apontem os principais conceitos da agricultura orgânica. Precisamos oferecer mais transparência aos consumidores. Não é porque os alimentos orgânicos são uma tendência. Aproveitamos o momento e nos esquecemos dos direitos dos consumidores”.
Sylvia acrescenta que o estímulo ao comércio local é também muito positivo, “tanto para promover saúde quanto para evitar gargalos de distribuição, como transporte e aumento do preço dos produtos ao longo da cadeia, até a chegada aos supermercados”.
DESAFIOS
Segundo a coordenadora da SNA, o setor orgânico tem como principais desafios a agregação de valor aos produtos; o beneficiamento mínimo; a verticalização (industrialização e associativismo para oferecer uma diversidade e quantidade maiores); investimentos em tecnologia e qualidade, e oferta de produtos em mercados específicos, com resultados para fazer com que o produtor venda a um preço diferenciado e aumente sua renda.
“A extensão rural especializada em orgânicos esta aquém do desejado. Falta tecnologia para os pequenos produtores, além de insumos adequados (sementes, maquinaria para pequenos sítios, etc.) e pesquisa focada em produções diversificadas e menores”, afirma Sylvia.
“Falta sobretudo assistência técnica, agrônomos e técnicos agrícolas que conheçam agroecologia e produção orgânica”, completa a especialista, que chama a atenção para a necessidade de redução de desperdícios e perdas ao longo da cadeia de produção, sobretudo dos hortigranjeiros.
Equipe SNA/RJ