Entra ano e sai ano, estocar café à espera da alta dos preços tem sido um hábito comum praticado por produtores do grão no Brasil. Hoje, o valor da commodity está bem abaixo do esperado. Agricultores do Espírito Santo, segundo maior produtor do país atrás somente de Minas Gerais, venderam a saca em média por 300 reais, em 2012, e agora o preço caiu quase pela metade. Atualmente, o valor da saca de 60 quilos do tipo arábica, por exemplo, varia de 260 a 280 reais, conforme a região.
No primeiro semestre de 2013, o preço fixado em 307 reais pela saca de 60 quilos do café arábica, pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), já era visto como insuficiente e até abaixo dos custos para a nova safra. Naquela ocasião, a Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) defendia o valor de pelo menos 340 reais, considerando que o custo médio de produção chegava a R$ 336,16. Para alcançar lucros, os agricultores teriam de aumentar a produtividade, mas muito deles estão encontrando dificuldades na aquisição de novos créditos para investir na lavoura cafeeira.
Líderes do setor, como o deputado Silas Brasileiro (PMDB-MG), presidente do Conselho Nacional do Café (CNC), esperavam que a oficialização dos leilões promovidos pelo governo federal para compra de sacas do grão, pelo valor estipulado, ajudaria na reação dos preços. Mas não foi isso que ocorreu: muitos representantes do segmento cafeeiro têm reclamado da morosidade. No último dia 8 de outubro, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) comercializou 100 % dos 4.058 contratos de opção de venda de café que foram ofertados, com o intuito de sustentar os preços de 3 milhões de sacas do grão. Não surtiu tanto efeito e muitos produtores brasileiros continuam sofrendo com a crise, principalmente internacional, que está afetando o mercado doméstico.
De acordo com o diretor do Departamento de Café do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Janio Zeferino da Silva, não há excesso de café no mundo: o que houve foi uma redução do ritmo de compra do grão, principalmente pela Europa e Estados Unidos, influenciado pela queda do financiamento para o setor. “O café deveria esta com o exportador, não fosse a redução do ritmo de compra. Com isso, há mais produto em estoque”, ressalta.
Segundo Silva, o Brasil exportou 25 milhões de toneladas de café no ano passado e até setembro de 2013 já vendeu 20 milhões ao exterior. “Considerando que são vendidas 2,5 milhões de toneladas de café em média por mês, então, devemos fechar o ano com maior volume exportado”, salienta o diretor. Além disso, ele destaca que a estocagem de café seria motivada pela proximidade do inverno no Hemisfério Norte, período em que o consumo do produto tende a aumentar e, com isso, elevaria a exportação da commodity. “Também existem 90 mil contratos em aberto na Bolsa de Nova York e os gerenciadores de fundos terão de entrar comprando contrato para fechar posições”, informa.
REUNIÃO DO CONSELHO
Os participantes do Conselho Deliberativo da Política do Café (CDPC) se reuniram na quarta-feira, 23 de outubro, com os representantes dos produtores, indústria, exportadores e governo para deliberarem sobre o orçamento da cafeicultura em 2014. O objetivo foi definir o volume e o cronograma da distribuição dos recursos para o ano que vem, segundo informações do Mapa.
No encontro, um representante da Secretaria de Desenvolvimento Agropecuária e Cooperativismo do Mapa apresentou as normas técnicas específicas para a Produção Integrada do Café. Os integrantes também definiram as linhas de financiamento do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé) e os critérios de distribuição para as instituições financeiras.
No início do mês de outubro, o presidente do CNC, deputado Silas Brasileiro, solicitou que mais de cinco milhões de sacas do grão sejam incluídas no programa de Contratos de Operações de Venda (COV) de café com exercício em 2014. Ele também pediu a mudança do prazo do programa de estocagem de 12 para 24 meses e que a estocagem do programa de opções seja feita nas cooperativas cadastradas pela Conab.
Por Equipe SNA/RJ