Se no ano passado a indústria de proteínas fez cerco constante aos produtores de milho, neste a situação tende a se inverter. Na safra anterior, a indústria nacional de carne chegou a reverter contratos de exportação do cereal a fim de ter milho suficiente para a produção de suínos e de frango. Neste ano, mesmo prevendo melhor abastecimento, a indústria ainda não vive bons momentos.
“Após levar duas pauladas, a operação Carne Fraca e a delação premiada de Joesley Batista, da JBS, a carne brasileira precisa readquirir a confiança do consumidor externo”, disse Daniel Latorraca, superintendente do Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária). Segundo ele, a situação do setor é agravada ainda mais pela recessão econômica interna, que retira de boa parte dos consumidores a capacidade de compra.
Há, porém, uma saída tanto para a indústria como para os produtores: a valorização do dólar. A alta da moeda americana dá maior competitividade para a carne brasileira no exterior, o que confere maior fôlego à produção. Esta, por sua vez, aquece o consumo de milho.
Consumo
A alta do dólar também favorece a exportação de milho, embora esta não atinja um terço do que o país produz. A salvação vem mesmo do consumo interno, para onde os produtores estão olhando. A exportação de milho é importante, mas o cereal depende menos do exterior do que a soja, disse Latorraca.
A colheita de milho está apenas começando em Mato Grosso, o principal estado produtor no país. Atingiu 3% da área semeada. O superintendente do Imea afirma que, nas próximas semanas, o ritmo vai aumentar, e o setor terá uma definição melhor do cenário de vendas e de preços. Por ora, o preço médio da saca praticado no estado está a R$ 14,00, 12% abaixo do preço mínimo.
O governo vem fazendo leilões para escoar parte desse produto, mas o volume adquirido pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) é pequeno em relação ao produzido. “Ajuda, mas não resolve”, disse ele.
Assim como ocorreu com a soja, a produção de milho deste ano será recorde. A Safras & Mercado estima o volume de milho em 106 milhões de toneladas. Em Mato Grosso, a produção será de 28 milhões de toneladas, 47% mais do que a da safra anterior, que teve quebra, aponta o Imea.
Fonte: Folha de S.Paulo