Produção de trigo no país pode ganhar novas fronteiras, indica estudo da Embrapa

Brasil produz aproximadamente metade das 11 milhões de toneladas de trigo que consome e 70% do total é destinado à panificação. Foto: Joseani Antunes/Divulgação Embrapa
Brasil produz aproximadamente metade das 11 milhões de toneladas de trigo que consome, sendo que 70% do total vão para a panificação. Foto: Joseani Antunes/Divulgação Embrapa

A produção de trigo no Brasil poderia ganhar novas fronteiras, em algumas regiões do território nacional, se houvesse especialmente novas políticas públicas de incentivos para o setor e investimentos em logística e transporte. Hoje, o país produz quase metade das 11 milhões de toneladas que consome desse cereal, sendo que 70% do total são destinados à panificação. Ainda importa de cinco milhões a seis milhões de toneladas a cada ano, principalmente da Argentina, a custos mais baixos, graças aos acordos bilaterais do Mercado Comum do Sul (Mercosul).

Somente na região Centro-Oeste, novas fronteiras poderiam resultar em 24,9 milhões de toneladas de trigo a mais, um volume que representa o dobro da atual demanda doméstica. Isso faria o Brasil passar de importador a exportador, conforme aponta um estudo realizado por pesquisadores da Embrapa unidades Trigo (RS) e Gestão Territorial (SP). Eles projetaram quatro diferentes cenários para esse tipo de produção no campo, levando em conta as áreas agrícolas para onde essa cultura poderia crescer.

“É importante que o país conheça seu potencial produtivo para delinear e mapear alternativas à importação de trigo”, ressalta o pesquisador Cláudio Spadotto, gerente-geral da Embrapa Gestão Territorial, em documento publicado pelo órgão.

Já o chefe-geral da Embrapa Trigo, o pesquisador Sergio Dotto, acredita que o Brasil tem total capacidade para se tornar autossuficiente em trigo: “Contamos com tecnologia e área, mas é fundamental o apoio de políticas públicas que assegurem o crescimento dessa produção”.

 

REGIONALIZAÇÃO

Para desenvolver o estudo, as áreas de produção de trigo foram divididas em quatro regiões homogêneas, definidas a partir de variáveis de precipitação, quantidade de frio e calor em momentos específicos da cultura, altitude e histórico de rendimento de grãos (veja quadro).

 

Fonte: Embrapa
Fonte: Embrapa

 

“O planejamento e o investimento na otimização da logística de escoamento do trigo produzido, com qualidade adequada, em direção aos maiores centros de consumo do país são fundamentais para garantir a competitividade econômica do produto nacional frente ao importado”, afirma o analista Rafael Mingoti, da Embrapa Gestão Territorial, também em documento publicado pelo órgão.

 

AVALIAÇÃO DA SNA

Vice-presidente da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Hélio Sirimarco ressalta que a produção brasileira de trigo, na safra 2016/17, será recorde – algo em torno de 6,3 milhões de toneladas, o que pode significar um aumento de 14,5% em comparação ao ciclo agrícola anterior, conforme última estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

“O Brasil importa e exporta trigo, exatamente como faz com o arroz. Ou seja, importamos a qualidade que não produzimos e exportamos excedentes que não são consumidos no país”, comenta Sirimarco.

Os principais exportadores de trigo para o Brasil são os países do Mercosul (Argentina, Paraguai e Uruguai), que respondem por mais de 80% das importações nacionais. “Essa concentração decorre, principalmente, de dois fatores: isenção do imposto de importação e custo logístico mais barato”, informa o vice-presidente da SNA.

Por outro lado, continua ele, as exportações brasileiras de trigo se destinam, basicamente, a países da Ásia (Filipinas, Vietnã e Indonésia) e da América do Sul (Colômbia e Equador).

“Há um movimento para aumentar a produção de trigo em outras regiões, como no Centro-Oeste. O maior problema, no entanto, além das questões climáticas, diz respeito à adaptação das sementes a essas regiões produtoras. Isso sem falar na competição com outras culturas de menor risco e maior retorno econômico, como a soja e o milho.”

 

“Há um movimento para aumentar a produção do trigo em outras regiões, como no Centro-Oeste. O maior problema, no entanto, além das questões climáticas, diz respeito à adaptação das sementes”, ressalta o vice-presidente da SNA Hélio Sirimarco. Foto: Arquivo/SNA
“Há um movimento para aumentar a produção do trigo em outras regiões, como no Centro-Oeste. O maior problema, no entanto, além das questões climáticas, diz respeito à adaptação das sementes”, ressalta o vice-presidente da SNA Hélio Sirimarco. Foto: Arquivo/SNA

Em sua opinião, essas características em torno da produção de trigo no país têm influenciado as áreas plantadas, nos últimos 12 anos, considerando que, nesse período, elas não ultrapassaram a marca dos 2,7 milhões de hectares, no Brasil.

“Para viabilizar o cultivo nessas áreas, a Embrapa tem desenvolvido cultivares com o objetivo de aumentar a produção, principalmente no Centro-Oeste”, lembra Sirimarco.

O vice-presidente da SNA ainda comenta que, de acordo com estudos mais recentes da estatal, a área propícia para o cultivo do trigo no Cerrado é estimada em dois milhões de hectares, com potencial de produção de seis milhões de toneladas.

“Caso isso se confirme, o Brasil vai reduzir de forma marcante seu déficit na balança comercial do trigo”, diz.

Para ter acesso ao estudo completo da Embrapa, acesse ow.ly/pdtx306SA9M (link encurtado). Para conhecer algumas cultivares produzidas pela estatal, veja em ow.ly/H9AN306SCjZ.

 

Por equipe SNA/RJ

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp