Produção de leite deve se recuperar neste segundo semestre

A indústria de leite longa vida espera que a produção de leite cru nas fazendas cresça entre 5% e 8% neste segundo semestre do ano, em relação aos 12.6 bilhões de litros do mesmo período de 2021. Agentes da cadeia acreditam que o aumento de oferta da matéria-prima no campo deverá contribuir para a reversão da forte alta de preços de lácteos, que tem ajudado a pressionar a inflação no país nos últimos meses.

Depois de subir mais de 25% em julho, o leite longa vida recuou 1,78% em agosto, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado na última sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O leite foi a principal influência para a desaceleração da inflação de alimentos no mês, embora, no ano, a alta acumulada do longa vida chegue a 74%.

“Se a captação de leite mantiver o ritmo de crescimento dos últimos três meses, o país poderá ‘recuperar’ o volume de 1 bilhão de litros que produziu a menos entre janeiro e junho”, disse Laércio Barbosa, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Lácteos Longa Vida (ABLV), que responde por 90% do mercado de leite UHT no país.

Indicador

O dirigente está de olho no índice de captação dos laticínios elaborado mensalmente pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP). O indicador mudou de direção em maio, após uma sequência de quedas desde dezembro passado. Em julho, o dado mais recente, o indicador teve alta de 6,34% sobre o mês anterior.

Se concretizada a estimativa da indústria para o segundo semestre, reiterou Barbosa, o País chegará ao fim do ano com a mesma produção acumulada de 2021, pouco mais que 25 bilhões de litros, segundo o IBGE.

Preços

Natália Grigol, pesquisadora do Cepea, explica que a alta de preços pagos ao produtor de leite nos últimos três meses contribuiu para que o pecuarista investisse mais na produção, elevando a oferta de leite. Além disso, a partir de meados do ano o clima fica mais favorável para os pastos e tem início a safra no Sul.

A alta dos valores pagos ao produtor e o recuo dos preços de insumos como o milho, o principal, usado na ração animal, melhoraram o poder de compra do pecuarista: se no primeiro trimestre do ano o produtor precisava de 45 litros de leite para comprar uma saca de 60 quilos de milho, a média entre julho e agosto baixou para 24,4 litros.

A maior oferta de leite cru no campo começa a trazer reflexos à cadeia, inclusive para as vendas dos laticínios aos canais de distribuição no atacado, ainda em meio a um consumo fragilizado por causa da perda de poder de compra da população.

Consumo

“Apesar da retomada gradual da renda familiar, com o aumento da população ocupada e entrada dos programas de auxílio governamentais, o consumo foi limitado pelos altos preços dos lácteos no varejo, que atingiram seu pico no início de julho e já recuaram cerca de 30% nos últimos 60 dias”, disse Barbosa.

Segundo o Cepea, o leite UHT e a muçarela caíram mais de 10% no atacado paulista entre 15 de julho e 15 de agosto. “A tendência é de inversão da sequência de altas ao consumidor. Mas a queda pode ser menos intensa que a alta”, afirmou Natália.

Comportamento

A análise do centro de pesquisas chega até o atacado e, portanto, não monitora o comportamento do varejo, que pode ou não demorar a refletir baixas.

“O recuo de preços tende a ocorrer mais rapidamente em produtos como o leite UHT, e tardar mais em itens de maior valor agregado, adquiridos por consumidores com maior poder aquisitivo”, explicou a pesquisadora do Cepea.

Para ela, a volatilidade no campo preocupa a longo prazo. “O patamar de preços de insumos ainda é alto. A maior oferta de leite, seguida de baixa de preços pagos ao produtor, cria uma dinâmica que pode desestimulá-lo”.

Fonte: Valor
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