Apesar de ter menos da metade do rebanho bovino brasileiro, os Estados Unidos são líder mundial na produção de carne vermelha produzindo 12 milhões de toneladas/ano, face a dez milhões de toneladas produzidas pelo Brasil no mesmo período. A disparidade na produtividade reside em um fator: o boi americano engorda o dobro do boi brasileiro. De acordo com o mestre em zootecnia Henrique Conti, gerente técnico da Trouw Nutrition, esse quadro, porém, tende a mudar.
Em entrevista ao canal O Giro do Boi, o especialista explicou que a diferença da engorda do boi americano para o brasileiro está no confinamento do animal. Ele e outros 16 especialistas e pecuaristas brasileiros fizeram um road show por oito confinamentos em quatro estados americanos: Texas, Oklahoma, Kansas e Colorado no mês de setembro.
“No Brasil o confinamento é tratado como uma ferramenta para auxiliar o processo de produção a pasto. O foco é a produção a pasto então o boi passa toda a recria a pasto e vai no final no confinamento”, diz Conti.
Durante uma semana a caravana rodou quase três mil quilômetros visitando oito grandes unidades que respondem por um abate médio anual de cerca de meio milhão de bovinos. Na visita, constataram que nos EUA, o confinamento chega a 180 dias e o boi tem uma engorda de 15 arrobas. No sistema brasileiro, o bovino permanece de 90 a 120 dias confinado e esse período gera um resultado de engorda de seis a oito arrobas, no máximo.
Mesmo com os números de produção ainda bem discrepantes, Conti acredita que pode haver reversão desse quadro a longo prazo com base no fato de que a produção brasileira tem evoluído, o crescimento foi de 45% nos últimos 20 anos, enquanto que a produção norte americana segue estável.
“No Brasil, a gente tem um tema muito favorável para a pecuária. Os Estados Unidos têm restrição de áreas e de chuva, por isso temos vantagens e estamos no processo de profissionalização da pecuária muito grande. Acho que estamos no caminho certo. É questão de tempo para a gente chegar nos níveis encontrados nos Estados Unidos”, diz Conti.
A expectativa do especialista não é infundada. A produção de arroba por hectare quase triplicou em 5 anos no Brasil, segundo o Benchmarking da safra 2021/2022 apresentado pelo Instituto Inttegra Métricas Agropecuárias, coordenado pelo mestre em zootecnia, Antonio Chaker. A produtividade alcançou 93 arrobas de carne bovina por hectare no ciclo de recria/engorda. O valor é 2,62 vezes maior do que o da safra 2016/2017 de 35,5 arrobas por hectare.
Outra notícia importante para o setor, divulgada no final de outubro, é o estudo da Embrapa que revela que o uso consorciado do capim-marandu, com a leguminosa forrageira desmódio aumenta em 60% o peso do animal no pasto. Recém-publicado no periódico Grass & Forage Science, um dos mais importantes do setor, o estudo aponta também que o uso do Desmodium ovalifolium pode reduzir em 30% o tempo de abate do animal, gerando menor custo para o produtor.