Uma das principais autoridades do Federal Reserve advertiu sobre o aumento dos riscos ao crescimento dos EUA e chamou a atenção para a problemática queda das expectativas de inflação, num momento em que a cautela continua a permear o Fed.
Bill Dudley, presidente do Fed Nova York, disse que os riscos para os EUA dispararam em meio à turbulência dos mercados deste ano e aos receios com o crescimento dos emergentes, embora ele não tenha reduzido muito as suas projeções econômicas.
Se persistir a turbulência dos mercados, ela desencadeará “um rebaixamento mais significativo” do cenário, disse Dudley, segundo observações pré-redigidas a serem divulgadas em viagem à China. Para ele, uma nova queda dos mercados e das expectativas de inflação seria “alarmante”, já que uma inflação obstinadamente baixa pode acabar se arraigando nos planos de investidores e consumidores.
Desde que elevou a taxa de juros em dezembro, pela primeira vez desde 2006, o Fed parece encarar com restrições uma nova elevação tão cedo, preferindo baixar as armas e avaliar que prejuízo, se é que haverá o aperto financeiro e a desaceleração da China causarão ao crescimento dos EUA.
Algumas autoridades do Fed têm se mostrado inflexíveis. Na semana passada, Lael Brainard, uma das diretoras do Fed, que manifestou publicamente sua ansiedade com relação ao aperto monetário no fim do ano passado, disse que choques vindos do exterior farão com que o Fed promova uma elevação das taxas de curto prazo menor que a prevista por analistas.
Como membro do círculo interno das autoridades do Fed responsáveis pela fixação da taxa de juros, as opiniões de Dudley são acompanhadas de perto. Seu discurso menciona fatores como o persistente obstáculo representado pelos baixos preços dos combustíveis e pela valorização do dólar sobre a inflação, o que reduziu as chances de uma volta à meta do Fed, de 2%.
“Neste momento, considero que o pêndulo dos riscos sobre as minhas perspectivas de crescimento e inflação pode estar começando a se inclinar ligeiramente para baixo [indicando risco de deterioração da situação]”, disse no discurso.
O Fed recusou-se a avaliar os riscos em seu comunicado de janeiro, preferindo enfatizar a incerteza, sem tirar conclusões. A próxima reunião do Fed, nos dias 15 e 16, e seu comunicado sobre os fatores de risco serão importantes. Se predominarem os riscos de deterioração da situação, os investidores vão adiar ainda mais as expectativas da próxima elevação das taxas, e eles já descartaram, em boa parte, qualquer alteração para março.
As autoridades do Fed se deparam com um quadro ambíguo ao avaliarem as perspectivas. A economia dos EUA continua a registrar crescimento constante e criação de empregos, mesmo enquanto o cenário se agrava no exterior, com a expansão dos emergentes mostrando-se especialmente instável.
Na sexta-feira, dados oficiais mostraram que a economia dos EUA cresceu no quarto trimestre mais do que estimado anteriormente e que a inflação aumentou em janeiro juntamente com os gastos dos consumidores.
Os dados externos são menos encorajadores. Peter Praet, membro do conselho do Banco Central Europeu (BCE), disse na sexta que o crescimento mundial vem “perdendo ímpeto” e que as pressões de baixa nos preços são sinal de queda na demanda mundial.
Um indicador importante, com os números sobre o emprego nos EUA, será divulgado na sexta. Dudley continua prevendo que as “forças centrais” da economia americana vão se consolidar a medida que os fatores transitórios se dissipem e projetou crescimento real de 2% no PIB deste ano. Isso deve ajudar a baixar a taxa de desemprego, que já está abaixo de 5%.
Dudley está particularmente preocupado com as expectativas inflacionárias, que os bancos avaliam como vitais para um crescimento persistente dos preços. Pesquisas com consumidores indicam que as expectativas são de queda na inflação: tanto a pesquisa do Fed como a da Universidade de Michigan tiveram as menores leituras já registradas.
Fonte: Financial Times/Valor