Presidência do Brasil no G20 chega ao fim; Agro faz balanço e avalia repercussão

Durante a sessão, Lula reforçou a proposta brasileira de convocação de uma conferência de revisão da Carta da ONU, nos termos do artigo 109, considerando que apenas 51 dos atuais 193 membros das Nações Unidas participaram de sua fundação – Foto: Divulgação-Ricardo Stuckert/Secom-PR

 

Reunião de cúpula no Rio marca encerramento

Como o Portal SNA acompanhou ao longo do ano, a presidência temporária do Brasil no G20 é de sumo interesse para o setor agropecuário nacional, uma vez que durante o período, o país anfitrião pôde dialogar mais estreitamente com representantes das outras nações que formam o bloco. Através do grupo de trabalho da agricultura, que teve encontros presenciais e remotos nos últimos meses, temas de relevância foram abordados, tais como sustentabilidade, insegurança alimentar e combate ao protecionismo.

Na prática, entretanto, as barreiras comerciais ainda representam um desafio, pois os próprios membros do G20, que respondem por 85% (segundo dados da Organização Mundial do Comércio) da produção global de gêneros alimentícios, impõem restrições comerciais unilaterais, inclusive entre si próprios. Mesmo com a adoção de medidas que tentam aperfeiçoar o comércio internacional, a tendência de ressalvas e a volatilidade do mercado sempre lançam dúvidas sobre os acordos que podem ser fechados.

Ainda segundo a OMC, para 2024, o valor de comércio coberto por restrições no G20 atingiu US$ 829 bilhões comparado a US$ 246 bilhões em 2023. O total de restrições em vigor cobre US$ 2,3 trilhões, ou 12,7% das importações do G20 e 9,4% das importações globais. As medidas de facilitação de comércio aumentaram para US$ 1 trilhão comparado a US$ 318,8 bilhões no ano passado. A entidade também aponta que os países tendem a fazer negócios, cada vez mais, com nações que comunguem das mesmas ideologias e inclinações políticas.

Entre os dias 18 e 19 de novembro, a reunião de cúpula entre os chefes de governo e de estado marcou o encerramento da presidência brasileira no grupo, que passou a função à África do Sul. O encontro ocorreu no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro, que foi especialmente reformado para a ocasião. Milhares de jornalistas se credenciados cobriram o evento.

O lançamento de uma aliança global contra a fome e a pobreza marcou o consenso entre os líderes, num momento em que fatos novos testaram a desenvoltura da diplomacia brasileira. Um deles foi a eleição de Donald Trump, que voltará à Casa Branca em janeiro de 2025. Como este portal já abordou, há receios de que a guerra tarifária com a China volte, assim como os impulsos protecionistas em geral que marcaram o primeiro mandato do republicano.

Por outro lado, parte das discussões da COP 29 de Baku, que acontece no Azerbaijão, acabaram migrando para a cúpula do G20, em parte porque o Brasil sediará a COP 30 em 2025, e também porque a sustentabilidade e a transição energética foram temas escolhidos pelo país em sua presidência temporária. Por fim, mas não menos importante, o documento divulgado pelas delegações, espécie de resumo das tratativas e do que ficou decidido, fez menção sutil às guerras no Oriente Médio e na Ucrânia. Isso decorreu de pressão dos países que compõem o G7 e o G20, simultaneamente.

Líderes do G20 no Rio de Janeiro. Consensos contemplam as prioridades brasileiras na presidência do grupo. Foto: Divulgação – Ricardo Stuckert / PR

 

Balanço positivo no contexto geral

A presidência do Brasil no G20 foi considerada um êxito não só da diplomacia nacional, mas também dos esforços de autoridades e setores do agronegócio, que tiveram atuação decisiva nas discussões e acordos. Algumas das novas parcerias ainda passarão por revisões, mas o consenso na declaração final foi um ponto alto, visto que não aconteceu nas duas últimas cúpulas de líderes. O grupo de trabalho agrícola, em paralelo, também publicou uma síntese escrita após seu último encontro. A declaração ministerial, produzida após cinco anos de hiato nas cúpulas anteriores, elenca como principais pontos dos compromissos dos países-membros com a sustentabilidade da agricultura e com sistemas de produção “resilientes e inclusivos”, especialmente de pequenos produtores, para enfrentar as mudanças climáticas. O texto também faz referências diretas a medidas que precisam ser adotadas para reduzir a fome no planeta.

O Brasil aproveitou bem a oportunidade de provar sua liderança em segurança alimentar, dada a pujança de sua produção, que pode até aumentar, sem prejuízo da adoção em larga escala de práticas sustentáveis e abertura de novos mercados. Essas parcerias comerciais também servem para fomentar a inovação da tecnologia no campo, com intercâmbio de conhecimento científico e acadêmico, no qual o país já é um expoente. Com efeito, a tendência é que recursos possam ser cada vez mais reutilizados na agricultura, minimizando o impacto ambiental e fortalecendo o que se convencionou chamar de economia circular no agronegócio.

As atenções agora se voltam para mudanças políticas importantes que sempre afetam o competitivo mundo do agro, além da já mencionada posse de Donald Trump. O Congresso renovará suas lideranças em fevereiro, com eleição de novas mesas diretoras na Câmara e Senado, onde as bancadas atuam de forma aguerrida para garantir os interesses do setor e frear eventuais retrocessos. Pautas importantes, como a regulamentação da reforma tributária, aguardam deliberação.

Daqui a um ano, a COP 30, que acontecerá em Belém do Pará, testará a resiliência e habilidade do agronegócio, como este Portal já antecipou, uma vez que o evento pode servir de palco para militantes mais radicais. Assim como no G20, o país precisa exercer seu protagonismo de forma consciente e pragmática, protegendo aqueles que produzem e garantem não somente o alimento na mesa de brasileiros, mas milhões de pessoas mundo afora, além da força econômica que gera riqueza, empregos e prosperidade.

Confira, abaixo, os links para os documentos finais do G20 e do grupo de trabalho da agricultura (esta última disponível somente em inglês).

g20-rio-de-janeiro-leaders-em-portugues.pdf
G20AgricultureMinistersDeclaration2024.pdf
Por Marcelo Sá – jornalista/editor e produtor literário (MTb 13.9290) marcelosa@sna.agr.br

 

 

 

 

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp