Prejuízo da Bunge alimenta expectativa de venda à ADM

A americana Bunge, uma das maiores empresas de agronegócios do mundo, confirmou ontem que seus resultados se deterioraram em 2017 e fez crescer a expectativa em torno da eventual venda de seu controle para a ADM, outra gigante do setor com sede nos Estados Unidos.

Em comunicado, a Bunge informou que encerrou o quarto trimestre do ano passado com prejuízo líquido de US$ 60 milhões, contra lucro líquido de US$ 271 milhões registrado no mesmo período do exercício anterior. As vendas da companhia recuaram 1,6% na comparação, para US$ 11.6 bilhões.

As perdas foram puxadas pela piora da performance da divisão de “agribusiness”, carro-chefe que inclui os negócios da empresa como trading. Nessa frente, as vendas caíram 3,5% de outubro a dezembro, para US$ 7.9 bilhões, e houve prejuízo de US$ 42 milhões, contra o lucro de US$ 71 milhões um ano antes.

Em teleconferência com analistas, Soren Schroder, CEO da Bunge, lamentou os resultados. Disse que as margens não se recuperaram como era esperado no mercado de soja e que o clima afetou a divisão de açúcar e bioenergia, nesta, a receita diminuiu 14,2%, para US$ 1 bilhão, e houve perda de US$ 14 milhões.

Nos dois casos, os problemas foram concentrados no Brasil, onde a Bunge há décadas mantém a maior parte de seus negócios com grãos, principalmente soja e milho, e único país onde a multi conta com usinas sucroalcooleiras.

Nos anos 2000, com demanda crescente e preços das commodities em elevado patamar, essa dependência chegou a ser um trunfo. Mas, sobretudo nos últimos três anos, observaram fontes da área, passou a ser uma dor de cabeça e tanto.

Antevendo o problema, a Bunge investiu no segmento de açúcar e etanol na década passada para diversificar suas atividades no Brasil. Mas a estratégia não funcionou e a multi há tempos tenta vender seus ativos na área. Nesse contexto, anunciou ontem que não atuará mais como trading de açúcar.

“No Brasil, as margens para processamento ou comercialização de grãos foram muito apertadas nas três últimas safras. Todas as grandes tradings sofreram com isso, mas para a Bunge, cuja exposição ao país é muito grande, os problemas foram maiores”, disse um executivo de uma concorrente de grande porte.

“Como a sequência de resultados divulgados pela empresa não mostrou a melhora prometida, prevalece no mercado a impressão que a Bunge precisa encontrar outras maneiras para continuar avançando”, afirmou.

Essa e outras fontes concordam, porém, que a forte presença da Bunge no segmento de grãos no Brasil é um dos motores do interesse da ADM em adquirir a rival – um negócio que, se confirmado, criará um grupo do porte da também americana Cargill, a maior empresa de agronegócios do mundo.

Isso porque a “balança” da ADM pende para os EUA, e um maior equilíbrio entre os negócios do grupo nos Hemisférios Norte e Sul seria mais interessante. Juntas, como informou o Valor, ADM e Bunge seriam líderes com folga no Brasil.

Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex/Mdic) compilados por tradings indicam que, em 2017, a Cargill desbancou a Bunge e liderou as exportações brasileiras de soja em grão, com 9.6 milhões de toneladas. A Bunge embarcou 9.4 milhões de toneladas, e a ADM ficou em terceiro lugar na lista, com 7.6 milhões de toneladas. A oleaginosa é o principal produto do agronegócio no Brasil.

Ainda que as margens estreitas no mercado de grãos não sejam privilégio do Brasil, a ADM colheu resultados bem melhores que os da Bunge em 2017, em boa medida graças à ampliação dos investimentos em produtos de maior valor agregado.

Embora as vendas globais da companhia tenham diminuído 2,6% no quarto trimestre e relação a igual período de 2016, para US$ 16.1 bilhões, seu lucro líquido aumentou 85,8%, para US$ 788 milhões.

Anunciado na semana passada, o resultado deu fôlego às especulações de que um acordo para a aquisição da Bunge era questão de dias. A especulação cresceu com os resultados que a Bunge reportou ontem, e analistas destacam que o negócio também beneficiaria a estatal chinesa Cofco, já que “sobrariam” ativos de infraestrutura e logística no Brasil e nos EUA para acelerar ainda mais seu avanço. No mercado comenta-se, contudo, que a Glencore também continua interessada em adquirir a Bunge.

 

Fonte: Valor Econômico

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