Especialistas do agro e do setor econômico participaram, nesta segunda-feira, do seminário “Novo Ciclo das Commodities”, promovido pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). O encontro debateu o cenário atual e seu reflexo na renda dos produtores rurais brasileiros.
O diretor técnico da CNA, Bruno Lucchi, afirmou que o evento analisou a possibilidade de as recentes altas dos preços das commodities indicarem (ou não) um novo super ciclo no mercado internacional.
“Nós queremos ajudar o produtor rural a melhorar a gestão e buscar ferramentas para otimizar o processo produtivo. A agropecuária é muito dinâmica, muda muito rápido, e se o produtor não tiver uma visão de mercado a longo prazo, a busca por bons resultados na atividade será mais difícil”, disse Bruno.
O seminário foi dividido em dois painéis. O primeiro, com o tema “Macroeconomia: o mundo está em um novo super ciclo de commodities?” foi conduzido pelo coordenador do Núcleo Econômico da CNA, Renato Conchon.
Super ciclos
No início do debate, ele explicou que, nas últimas décadas, houve quatro super ciclos de commodities, causados por eventos socioeconômicos que transformaram a economia mundial.
“O primeiro foi a industrialização dos Estados Unidos”, afirmou Conchon. “O segundo foi o rearmamento da economia na década de 30, depois a reconstrução da Europa e do Japão após a Segunda Guerra Mundial e por fim a industrialização da China. Todos esses acontecimentos provocaram o aumento dos preços das commodities”.
Altas
O membro sênior do Policy Center for the New South, Otaviano Canuto, foi o primeiro palestrante do dia. O especialista destacou que os preços das commodities subiram mais de 25% nos últimos meses. Os preços dos metais, por exemplo, cresceram mais do que as outras commodities.
“Alguns fatores explicam esse cenário: os metais são mais fáceis de armazenar do que o petróleo bruto ou até mesmo alguns produtos agrícolas, e isso torna os preços mais prospectivos e sensíveis às mudanças de taxas de juros. Taxas menores reduzem o custo com transporte, armazenamento, seguro, entre outros”, disse Canuto.
Com relação às commodities agrícolas, o palestrante afirmou que a expectativa é que os preços estabilizem em 2022 após o aumento de 13% nesse ano. Os preços dos fertilizantes também devem permanecer altos ao longo de 2021, uma média de 25% acima do registrado em 2020.
Desempenho macroeconômico
O economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, falou sobre a importância entre a relação dos preços das commodities e o desempenho macroeconômico brasileiro. “Quando os preços internacionais sobem, o Produto Interno Bruto (PIB) e a inflação sobem juntos, além de ocorrer a valorização da taxa de câmbio nominal”.
Segundo Bráulio, em uma discussão sobre o novo super ciclo, do ponto de vista do produtor rural, é preciso olhar primeiro o debate internacional, por mais que o Brasil seja um importante player na produção de várias commodities.
“O fato é que os preços são determinados globalmente, então toda discussão é focada na questão do dólar. Os preços em real podem ter evolução bem distinta daqueles em dólar, já que o BRL está excessivamente fraco”, disse Borges.
Causas
No segundo painel do seminário, moderado por Bruno Lucchi, o chefe do setor de Grãos da Datagro, Flávio Roberto França Junior, afirmou que, a cada cinco anos, ocorre um movimento de alta de preços de diversos grãos, como soja, milho e trigo, que se comportam de forma relativamente parecida.
“Em 2008, tivemos um ciclo de preços da soja, que foi provocado pela evolução da demanda chinesa, pelas perdas de safra de diversos países produtores e, consequentemente, pela escassez dos estoques norte-americanos”, disse França Júnior.
“Os super ciclos estão relacionados a problemas de oferta. A demanda não faz o preço explodir. Então para haver um novo ciclo de alta, a oferta teria de passar por problemas.”.
De acordo com o representante da Datagro, a demanda por produtos agrícolas se manteve elevada mesmo durante a pandemia do covid-19. “Nós estamos vivendo um momento de alta de preços dos grãos e outras commodities. Mas não podemos confirmar que esse e outros fatores podem gerar um super ciclo”, explicou França Júnior.
Cenário chinês
Por fim, a fundadora e diretora executiva da Arifatto, Lygia Pimentel, fez uma apresentação sobre o cenário econômico chinês e os impactos no mercado brasileiro. Segundo ela, nos últimos 40 anos, o país asiático tem crescido em ritmo mais acelerado do que os EUA.
“Se isso continuar, a China será a próxima economia mais rica do mundo. Até 2025 serão mais de 200 milhões de habitantes entrando no mercado consumidor”, afirmou Lygia.
Ela também falou sobre o surto da Peste Suína Africana (PSA) na China, que liquidou quase metade do plantel de suínos, provocando um déficit no estoque global de proteínas.
“Esse ‘buraco’ aqueceu o consumo das demais proteínas no mundo todo. A China habilitou diversas plantas frigoríficas e o Brasil, com seu maior rebanho de bovinos comercial do mundo, foi um grande parceiro para suprir a demanda”, disse Lygia.
Boi gordo
Ainda durante sua palestra, a diretora executiva da Arifatto comentou sobre o mercado do boi gordo. “Os custos de produção da atividade subiram 76% e o boi gordo subiu 61%, de janeiro de 2020 a junho de 2021. Isso significa que o pecuarista está perdendo renda. Toda cadeia está esticada, passando por um arrocho, e perdendo margem nos últimos anos”.
Fonte: CNA
Foto da capa: Wenderson Araujo/Trilux
Equipe SNA