Preços da soja no Brasil são pouco impactados pela alta do dólar; mercado segue travado

O dólar voltou a subir em um forte movimento observado no final da tarde, fechando em alta de 1,54%, cotado a R$ 3,2551 para venda. Essa foi a maior alta desde o último dia 13, porém, foi insuficiente para motivar uma alta dos preços da soja no Brasil, com alguns ganhos registrados somente em algumas praças de comercialização e no porto de Santos, para o produto disponível. Na maior parte das praças a saca terminou o dia estável.

O efeito do dólar em alta veio de uma foi compensado pela queda dos contratos futuros da soja em Chicago que, com a realização dos lucros terminaram o dia em baixa. Os principais vencimentos registraram queda de 8,50 a 9,50 centavos, com o novembro/16 fechando cotado a US$ 9,63 ½, enquanto o maio/17, que é a referência para a safra brasileira, fechou a US$ 9,82 o bushel.

Em apenas algumas praças foram registradas altas, como Cascavel/PR, com a saca subindo 1,52%, cotada a R$ 67,00; em Sorriso/MT, alta de 2,82%, com a saca cotada a R$ 73,00; em Jataí/GO, alta de 0,31%, com a saca cotada a R$ 65,40.

Enquanto isso, em São Gabriel do Oeste, no Mato Grosso do Sul, a saca caiu 2,13% para R$ 69,00.

Já no porto de Rio Grande, queda de 1,68% no mercado disponível e de 0,64% no mercado futuro, com a saca cotada a R$ 76,00 e R$ 78,00, respectivamente.

Com esse quadro, os negócios com a soja brasileira ainda não exibem novidades expressivas, uma vez que o ritmo ainda é lento e o volume é bem pequeno, com os produtores ainda reticentes em entregar à oleaginosa nos atuais patamares de preços. Os sojicultores mantêm seu foco no avanço do plantio, principalmente neste momento em que o clima ainda continua trazendo diversas incógnitas e se mantém como principal desafio desta safra.

E esse ritmo mais lento não vem sendo observado somente nas fixações para a soja da safra nova, mas também no pouco que ainda resta da temporada 2015/16.

“O que a gente percebe é que o mercado está travado e muito regional. Aumentou muito o nível de regionalização nos últimos dias, o que é normal para essa época do ano, e dependendo também da demanda local. E então, entraremos no período de espera pela nova safra”, disse Flávio França Junior, consultor da França Junior Consultoria. “O momento em Chicago não é bom, por isso também não é bom vender em outubro, e do câmbio, agora também não vem nada de excepcional. E esse sentimento em relação ao câmbio vale para a temporada inteira”, disse.

Mercado Internacional

Em Chicago, o dia foi de realização de lucros e de correção após a forte alta registrada no pregão de ontem. No entanto, ainda segundo França, há alguns fundamentos que pesam do outro lado da balança e que trazem não só equilíbrio para a commodity, mas também suporte para as cotações.

Neste momento, a demanda forte pela soja norte-americana, que vem sendo confirmada pelos anúncios quase diários de novas vendas dos EUA e também pelos boletins semanais de embarques e vendas para exportação divulgados pelo USDA é um dos dados que contrapõe a enorme safra que vem sendo colhida nos Estados Unidos.

Além disso, ainda existem as incertezas que seguem rondando a nova safra do Brasil, Argentina e Paraguai que produzem 51% de toda a soja do mundo. Após as perdas causadas por adversidades climáticas na temporada anterior, a atenção dos produtores está redobrada e os investimentos limitados. Afinal, o ano é de La Niña e, apesar da atual fraca intensidade, o cenário e as previsões vêm inspirando cautela e rigoroso planejamento.

“Acredito que depois do USDA [boletim mensal de oferta e demanda] de novembro, o mercado vai focar completamente na América do Sul. Até lá, é colheita nos EUA e mercado local [americano]”, disse França em entrevista ao Notícias Agrícolas.

Milho registra o 3º dia seguido de alta em Chicago e dez/16 se aproxima do patamar de US$ 3,50/bushel

Pelo terceiro dia consecutivo, os contratos futuros do milho negociados na CBOT encerraram o pregão em alta. Os principais vencimentos finalizaram o dia em alta de 2,25 a 2,50 centavos. O vencimento dezembro/16 fechou cotado a US$ 3,48 ¼, enquanto o março/17 fechou cotado a US$ 3,58 ¼ o bushel.

O mercado ainda reflete as notícias da demanda. Ainda nesta terça-feira, o USDA anunciou a venda de 100.000 toneladas de milho para destinos desconhecidos.

O mercado segue acompanhando a evolução da colheita nos Estados Unidos. Ontem, o USDA informou que a colheita já está completa em 24% da área semeada nesta temporada.

O percentual está em linha com o registrado no mesmo período do ano passado, mas está ligeiramente abaixo da média dos últimos cinco anos, de 27%.

“O ritmo relativamente lento da colheita continua apoiar os preços à vista em algumas áreas também”, disse Bryce Knorr. Em Iowa, apenas 10% da área já foi colhida até o momento.

Mercado brasileiro

Os contratos futuros do milho encerraram o dia em leve alta na BM&F Bovespa. Os principais vencimentos finalizaram o pregão com valorizações de 0,67% a 0,88%. O contrato novembro/16 fechou cotado a R$ 43,80/saca e o janeiro/17 a R$ 44,21/saca. Apenas o setembro/17 registrou leve queda, de 0,03%, negociado a R$ 34,24/saca.

No mercado interno o dia foi de leve movimentação para os preços do cereal, conforme levantamento realizado pelo Notícias Agrícolas. Em Avaré (SP), a saca caiu 17,14%, cotada a R$ 28,33. Na contramão desse cenário, a saca subiu 3,23% em Campo Grande (MS), cotada a R$ 32,00. Em Cascavel (PR), a alta foi de 1,56%, com a saca cotada a R$ 32,50.

No Porto de Paranaguá, a saca se manteve estável cotada a R$ 33,00. Nas demais praças o dia foi de estabilidade.

“Temos um mercado muito volátil, com períodos em que as cotações recuam e outros sobem. Há regiões que os preços caem e outras com valores mais firmes, tudo isso é resultado de expectativas diferentes em relação ao médio prazo. Acredito que as cotações na BM&F Bovespa também refletem um pouco esse cenário e também sofrem a interferência dos preços na Bolsa de Chicago nesse momento”, disse Lucílio Alves, pesquisador do CEPEA.

Depois da quebra da safra de verão na temporada 2015/16, e da segunda safra de milho e um consumo relativamente estável, há uma redução na disponibilidade do produto no mercado doméstico. “Por outro lado, temos os compradores que aguardam uma redução na diferença de preços do mercado interno e do internacional nas próximas semanas, meses e essa é grande incógnita”, disse o especialista.

Exportações

Segundo dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior), no período de janeiro a setembro desse ano, o Brasil já exportou 18.79 milhões de toneladas de milho. Somente em setembro, os embarques totalizaram 2.91 milhões de toneladas.

Para o período de fevereiro de 2016 a janeiro de 2017, as estimativas oficiais apontam para embarques da ordem de 20 milhões de toneladas. “Temos quatro meses ainda para embarcar o produto. Não são volumes difíceis de serem alcançados. E, caso a meta seja atingida, teremos estoques de passagem próximos de 5 milhões de toneladas. E na medida em que ocorra uma redução dos estoques de passagem a tendência é que os preços se elevem”, disse Alves.

Segundo os especialistas, contudo, é preciso considerar que os embarques realizados até o momento são de contratos fixados no segundo semestre de 2015 e primeiro trimestre de 2016. O pesquisador ainda sinaliza que é preciso que haja novos contratos para a safrinha de 2017, para evitar que o excedente de oferta interfira nos preços.

Importações

“Ainda não temos dados oficiais de setembro, mas não esperamos um volume expressivo que possa interferir na disponibilidade interna a ponto de derrubar os preços no curto prazo”, disse Alves.

Essa semana, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) realiza nova reunião para discutir a liberação de novas variedades transgênicas do cereal dos Estados Unidos. “Caso isso ocorra podemos ter uma mudança nas intenções de níveis de transação entre vendedores e compradores no curto prazo”, disse o pesquisador.

 

Fonte: USDA

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