Preço do leite sobe, mas futuro ainda é incerto para o setor

Entre os dias 04 de maio e 14 de junho, os preços do produto longa vida (UHT) subiram 31,06% .

Após amargar um 2017 difícil e um início de ano pouco animador, os produtores de leite ganharam nas últimas semanas fôlego. Os reflexos da greve dos caminhoneiros somados à entressafra do produto, fizeram os preços subirem mais de 30% em um intervalo de 15 dias.

A escalada dos preços teve início com a paralisação dos caminhoneiros. Milhares de litros de leite se estragaram nas estradas e foram jogados fora. Além disso, ao contrário de outras atividades que puderam ter colheita ou produção retardadas, a ordenha das vacas nunca pode ser interrompida.

Soma-se a isso o fato de junho ser o mês de início de entressafra na produção de leite nas regiões Sudeste e Centro-Oeste. Este ano, o recuo sazonal promete ser ainda mais severo justamente por conta da queda dos investimentos dos empresários do setor, desmotivados e descapitalizados por conta da queda nos preços. Muitos, inclusive, fizeram abate de vacas.

“Nesta conjuntura, os estoques foram fortemente reduzidos. O resultado foi que, entre os dias 04 de maio e 14 de junho, os preços do produto longa vida (UHT) subiram 31,06%”, calcula a pesquisadora do Cepea/USP, Natália Grigol.

Já entre os dias 04 e 22 de junho, a alta foi de 29%. De acordo com a pesquisadora, já se observa um movimento de arrefecimento no percentual de elevação dos preços.

“Acreditamos que essa elevação, mesmo que menor, deve perdurar até a recomposição dos estoques, o que deve ocorrer durante o mês de julho. Essa recomposição deve ser mais lenta este ano, justamente por conta dos baixos investimentos, que reduziram ainda mais a produção na entressafra. Além disso, a entressafra no Sul do País começou um pouco antes do esperado por conta de questões climáticas”, acrescenta Natália.

Ela destaca que o maior limitador desta alta será a ponta final: o consumo. Com a crise econômica, os produtos lácteos foram cortados desde o ano passado do orçamento das famílias. Apesar da indústria do setor precisar repor estoques, este movimento de alta deve ter um freio dado pelas gôndolas nos mercados.

Uma outra fonte de preocupação é a mudança no preço do frete e o encarecimento no transporte de insumos para alimentação animal, como o milho, por exemplo. A questão é saber quem absorverá este possível aumento: o produtor, a indústria ou o consumidor. “Por isso, apesar da alta de preços, é difícil prever qual será o comportamento do mercado de leite. Ainda não dá para p produtor respirar aliviado”, comenta a pesquisadora do Cepea.

Visão do produtor

Os produtores de leite acompanham com preocupação a elevação nos preços dos lácteos no varejo. De acordo com Alberto Figueiredo, diretor-técnico da SNA e representante da entidade na Câmara Setorial do Leite no Mapa, outras partes do elo da cadeia estão se apropriando desta alta que chegou ao consumidor.

“Isso quer dizer que, partes da cadeia ex-porteira, absorveram esta variação no preço. Se no varejo alguns produtos subiram 40%, para o produtor, não passou de 15%. Isso muito nos preocupa porque o consumidor final tem um limite para continuar absorvendo este aumento nos preços. A consequência será queda no consumo e, talvez, até alta nos estoques, mesmo durante um período de entressafra”, alerta Figueiredo.

Equipe SNA/RIO

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