Os preços do etanol hidratado praticados pelas usinas brasileiras têm até agora o primeiro trimestre mais firme em nove anos de uma safra de cana no centro-sul. Apesar disso, a perspectiva para o curto prazo é de retração nas cotações e nenhuma mudança na estratégia das empresas. A informação é de especialistas ouvidos pela Reuters.
Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP mostram que os valores do biocombustível nas usinas de São Paulo, referência para o país, registraram média de R$ 1,6491 por litro na semana passada, estável diante do início do atual ciclo 2018/19, em abril.
Os primeiros três meses de safra no centro-sul são, geralmente, de queda dos preços do etanol, em função da maior produção. Neste ano, os valores até chegaram a cair em maio, para R$ 1,4468 por litro, mas se recuperaram na esteira da alta da gasolina, seu concorrente direto, nas bombas.
A última vez em que os preços do etanol se mantiveram firmes nas usinas no primeiro trimestre de uma safra foi em 2009/10, quando chegaram a subir quase 8%, segundo a série histórica do Cepea.
“A demanda e os reajustes da Petrobras dão sustentação neste ano, embora tenhamos uma produção maior se comparada à de outras safras (…) O etanol é uma moeda de troca muito fácil para as usinas”, disse a pesquisadora de etanol do Cepea Ivelise Bragato, se referindo à geração de caixa mais rápida com a venda de álcool do que com açúcar.
No acumulado da atual safra até 1º de junho, a produção de etanol pelas unidades do centro-sul aumentou mais de 50% na comparação anual, segundo os dados mais recentes da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica).
A preferência das usinas pelo biocombustível deve-se a um consumo firme desde o ano passado e à própria remuneração mais atrativa, uma vez que o mercado global do açúcar viverá um período prolongado de excedente, até 2018/19, pelo menos.
Na virada de maio para junho, o valor da gasolina nas bombas atingiu níveis recordes, ajudando a puxar para cima os preços do etanol nos postos e, por tabela, nas usinas.
Firmeza continua?
Embora siga fortalecida, a tendência para o curto prazo é de algum enfraquecimento nos preços do etanol, uma vez que julho e agosto são os meses de pico de safra no centro-sul do Brasil.
Mas esse não seria o único fator. O analista João Paulo Botelho, da INTL FCStone, disse que a demanda está agora mais vacilante após os protestos de caminhoneiros, ao passo que os estoques nos produtores cresceu de forma considerável, devido a não retirada do álcool durante as manifestações.
“Há impacto do lado do consumidor, que ainda não se recuperou após a greve, e também do lado do produtor, que está com estoques altos”, afirmou o analista.
Segundo ele, as usinas detinham reservas de 1.93 bilhão de litros de etanol ao fim da primeira quinzena de maio, volume que subiu para 2.49 bilhões de litros no final do mês em virtude dos protestos – uma quantidade quase duas vezes maior na comparação anual.
Fora isso, há a própria tendência de redução no preço da gasolina, uma vez que a referência internacional do petróleo vem caindo. Nas refinarias da Petrobras, o combustível fóssil já caiu cerca de 5% este mês.
Mesmo assim, não se espera que as usinas alterem o mix alcooleiro desta safra. Recentemente, a Biosev, a segunda maior processadora de cana do mundo, disse estar “desafiando limites” na produção de etanol.
Lucas Brunetti, analista de commodities da Tropical Research, afirmou que o etanol ainda está rendendo 10% a mais que o açúcar para as usinas, uma vez que as cotações do adoçante no mercado internacional beiram mínimas em anos por causa da ampla oferta.
“Além disso, a tendência é de que a safra deste ano termine mais cedo, já que há menos cana disponível para moagem. Isso levaria a uma entressafra maior, com os preços do álcool em elevação”, disse Brunetti.
“Devemos ter preços nominais mais altos para o etanol na entressafra”, avaliou o analista, sem fazer previsões. A entressafra de cana geralmente compreende os meses de janeiro a março.
Dessa forma, ainda que os preços do etanol possam perder força em julho e agosto, é possível que voltem a ficar sustentados, como no primeiro trimestre da safra.
Fonte: Reuters