Donald Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos com um discurso visto como nacionalista voltado para o próprio país. Fazer a América grande de novo e colocá-la em primeiro lugar foram alguns dos seus principais mantras de campanha. E refletiram algumas de suas ações depois de eleito, como a recentemente iniciada guerra comercial contra a China.
Mas os americanos, que, em tese, deveriam ser os primeiros a se sentir beneficiados, demonstram mais estar preocupados com a postura de seu presidente. Pelo menos é o que se observa no meio rural, segundo a reportagem publicada pelo site de notícias AgWeb, na qual os agricultores se dizem “frustrados” com a política do republicano.
Segundo a publicação, algumas dessas preocupações foram demonstradas durante uma audiência no Congresso dos Estados Unidos. De modo geral, lideranças manifestam confiança em Trump, mas isso não deixa de lado uma preocupação com os efeitos de sua política comercial, como a queda de preços e da rentabilidade no campo.
Agricultor na Dakota do Sul, Estado onde Trump recebeu mais de 61% de votos, Scott VandeWal disse ouvir de outros produtores a crença de que “tudo ficará bem no final”, já que, na visão deles, a China não tem uma prática comercial justa. Mas há um temos de que outros países com quem os americanos têm negócios possam “mirar” produtos agrícolas locais.
VandeWal, que também é presidente do American Farm Bureau Federation, uma das principais entidades ligadas ao meio rural no país, ressalta que, desde o mês de maio, o preço da soja já caiu 20%. “Se as vendas tiverem que ser feitas com esses níveis de preço, isso tudo vai gerar um enorme déficit nas nossas finanças”, disse o agricultor.
Segundo ele, a receita dos produtores rurais caiu 52% desde 2013, o que tem dificultado, por exemplo, a quitação de financiamentos. “Agricultores e pecuaristas estão entre os americanos mais patriotas, mas ir à bancarrota não deveria ser uma consequência da nossa dedicação”, disse, segundo a reportagem do AgWeb.
Por sua vez, a presidente da Associação dos Produtores de Grãos de Montana avaliou que a política de Trump não apenas depreciou produtos. Segundo Michelle Erickson-Jones, aumentou também o custo de compra de estruturas de armazenagem, como um silo para 25.000 bushels de grãos. Na soja, um bushel equivale a 27,2 quilos e no milho a 25,4 quilos.
A agricultora afirma que o custo do novo silo aumentou 12% em relação a 2017, quando ela comprou um. Parte por causa do aumento dos preços do aço, um dos produtos afetados por decisões comerciais do governo Trump.
“Uma pequena construtora local perdeu um projeto, uma companhia de grãos perdeu uma venda e uma siderúrgica doméstica teve um embarque de produto a menos de sua fábrica”, disse.
Os eleitores de Montana dedicaram mais de 56% dos seu votos a Trump. A porcentagem lhe rendeu três dos 306 delegados do colégio eleitoral que confirmaram a eleição do republicano como o 45º presidente da história dos Estados Unidos.
Atribuindo a informação a um analista político, o site AgWeb relata que, apesar de compreender as preocupações dos agricultores americanos, congressistas sinalizam não estarem dispostos a interferir na política comercial do presidente. Para eles, países que têm levado vantagem sobre os Estados Unidos não vão mudar de postura se não forem pressionados.
“Podemos discordar da forma como a pressão está sendo feita. A pressão aqui é a das tarifas. Vocês estão na alça de mira e ninguém que estejam assim”, afirmou, segundo a reportagem, o republicano Tom Rice, da Carolina do Sul, outro Estado que contribuiu com a eleição de Trump ao dar-lhe 54% dos votos e nove delegados no colégio eleitoral.
A reportagem do AgWeb lembra ainda que o próprio chefe do USDA, Sonny Perdue, manifestou apoio à política de Trump. “As tarifas não são a resposta final. Mas são uma ferramenta para obter a atenção das pessoas e, então, conseguir que jogadores de ambos os times joguem pelas mesmas regras”, disse o secretário de Agricultura, segundo o site.
Globo Rural