Polenghi investe para dobrar vendas no País

Anunciada em julho, a aquisição de uma nova unidade de lácteos em Uberlândia (MG) pela Polenghi é parte da estratégia da empresa para dobrar, em dez anos, seu volume de vendas de queijos e outros lácteos no país.

Após oito meses de negociação, a Polenghi, controlada pela francesa Savencia Fromage& Dairy, comprou a fábrica em fase final de construção da Cooperativa Agropecuária Ltda. de Uberlândia, a Calu, especializada na captação de leite e industrialização de lácteos.

“A nova unidade passará por adaptações nos próximos 12 meses, antes de entrar em operação”, afirmou Paulo Netto, diretor geral da Polenghi, em entrevista ao Valor. Segundo ele, o projeto todo de Uberlândia prevê investimento de R$ 300 milhões em quatro anos, considerando a aquisição, novos equipamentos e expansão futura da fábrica.

Se para a Calu a venda da unidade foi uma forma de voltar ao equilíbrio financeiro, como disse no fim de julho, ao Valor, Cenyldes Moura Vieira, presidente da cooperativa, para a Polenghi a aquisição visa a ampliação de sua capacidade de produção, o que é crucial para sustentar os planos de crescimento da companhia.

Segundo Paulo Netto, as quatro fábricas (três no Brasil e uma no Uruguai) da Polenghi estão “saturadas”. O último investimento em ampliação pela empresa foi feito em 2014, quando a capacidade de produção da unidade de Angatuba, onde é feito o Polenguinho, foi duplicada.

“As fábricas estão saturadas. E apesar de os dois últimos anos não terem sido fáceis, acreditamos no potencial de (crescimento) do consumo de queijos no Brasil”, afirmou. “O plano é, em dez anos, dobrar o volume de vendas no varejo e no food service”, disse Netto.

A Polenghi não divulga sua receita no Brasil, que faz parte da rubrica “outras regiões do mundo” nos números da Savencia. Essa parcela corresponde a 31% do faturamento anual de quase € 5 bilhões do grupo francês.

Segundo o executivo, entre os anos de 2006 e 2015, os volumes de venda da Polenghi cresceram a uma média anual de 14% no País. Mas com a crise, os volumes quase estagnaram em 2016 e 2017, com crescimento de “um dígito baixo”, disse. “Este ano deve ser assim também. E 2019 ainda deve ser fraco”, estimou.

Com o novo investimento, a empresa, que foi fundada há 73 anos por imigrantes italianos em Angatuba e adquirida pelos franceses há 41, está, de fato, olhando um horizonte mais longo.

Como sempre destacam especialistas do segmento, Netto também observa que o consumo de queijos ainda é muito baixo no Brasil. Enquanto na Argentina e no Chile, o consumo anual per capita é 12 quilos e 15 quilos, respectivamente, no Brasil alcança apenas 5 quilos anuais, disse.

Na nova unidade, o plano da Polenghi é expandir a capacidade de produção de itens que já existem em seu portfólio e também fabricar itens novos, produzidos na França pela matriz, mas que serão adaptados e desenvolvidos localmente, segundo Netto. Ele cita como exemplo um queijo para aperitivo com ervas. A intenção também é diversificar a linha de queijos finos, de maturação média, no Brasil.

Segundo o diretor geral da Polenghi, a fábrica passará por adaptações nos próximos 12 meses para atender a requisitos de qualidade, segurança alimentar, segurança de pessoas, responsabilidade social e ambiental, já vigentes nas outras unidades da empresa. Cerca de 350 empregos deverão ser criados na planta, que deverá processar 100 milhões de litros de leite anuais a partir do segundo ano de operação, disse.

Ao mesmo tempo em que adquiriu a unidade de lácteos da Calu, a Polenghi firmou com a cooperativa um acordo de fornecimento de leite para processamento em Uberlândia por seis anos, com possibilidade de renovação. Importante para os planos de crescimento da Polenghi, a parceria vai além da mera venda de matéria-prima.

Segundo Netto, o plano também prevê o desenvolvimento da produção de leite orgânico pelos pecuaristas cooperados da Calu, destinado a uma linha de lácteos orgânicos da Polenghi. Como a conversão da produção convencional para a orgânica é demorada, ele estima que esse seria um projeto a ser concretizado em três a quatro anos.

O acordo prevê ainda que a Polenghi vai produzir queijos para a Calu na fábrica nova, uma vez que a cooperativa decidiu focar a operação na produção de leite pasteurizado, de bebidas lácteas e de manteiga e no desenvolvimento da cadeia produtiva de leite na região em que atua.

Com a fábrica de Uberlândia, a Polenghi passará a ter cerca de 1.750 funcionários no Brasil e no Uruguai. Sua controladora, a Savencia, é cotada na bolsa de Paris e emprega ao redor de 19.500 pessoas nos mais de 30 países nos quais tem unidades de produção. A Polenghi também comercializa no Brasil itens produzidos na França, como a manteiga Elle&Vire e o brie Bonjour de France.

 

Fonte: Valor

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