Plantio de soja atrasa, mas as vendas estão aceleradas

A falta de chuvas continua a prejudicar o plantio de soja nesta safra 2020/21 em Mato Grosso, que lidera a produção brasileira da oleaginosa e de grãos em geral. Ao mesmo tempo, preços elevados e câmbio favorável aceleram as vendas antecipadas da colheita que começará a sair dos campos em janeiro, e o risco de que a oferta esteja escassa quando os contratos de entrega com prazo mais curto tiverem que ser cumpridos começa a gerar alguma preocupação.

Em levantamento divulgado na terça-feira, o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA), ligado à Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (FAMATO), estimou que o plantio, que começou em meados de setembro, alcançou a 3,02% da área recorde estimada de 10.3 milhões de hectares (3,20% maior do que a do ciclo 2019/20) até sexta-feira, 13,59% abaixo da média dos últimos cinco anos para este período. Em algumas regiões, os produtores serão obrigados a replantar suas lavouras.

“Com esse panorama de atraso de cultivo, os traders já estão precificando a possível demora na entrada da soja no mercado. Como há pouca soja disponível neste momento, a colheita tardia pode afetar os preços internos, além de poder favorecer a demanda externa pela oleaginosa americana em vez da brasileira no início do próximo ano”, estimou o IMEA. Ainda é cedo, porém, para saber se o atraso atual será capaz de reduzir a colheita.

Até agora, o instituto estima a produção de soja em Mato Grosso em 35.9 milhões de toneladas. Se confirmado, o volume será 1,30% maior que o recorde registrado em 2019/20, quando o Estado respondeu por pouco mais de 28% da produção brasileira do grão. A soja é o carro-chefe do agronegócio nacional em área plantada, colheita, valor bruto da produção e exportação, de acordo com dados da Conab e do Ministério da Agricultura.

Com ou sem chuva, que caiu ontem em algumas áreas, as vendas antecipadas continuam firmes. Segundo o IMEA, já alcançaram 60,40% da produção estimada no Estado, contra 36% há um ano, quando estava em andamento a comercialização da safra 2019/20. Em nível nacional, a Datagro calcula que 50% da colheita estimada para 2020/21, ou 65.7 milhões de toneladas, já tenha sido negociada. E, dados os preços elevados, os agricultores continuam animados a vender. Em setembro, a saca de 60 quilos para entrega em 2020/21 atingiu, em média, R$ 110,23 em Mato Grosso, 10,60% mais que em agosto.

E esse nível também estimula negócios com o grão que será cultivado no ciclo 2021/22. Segundo o IMEA, 6,21% da colheita que começará a deixar os campos mato-grossenses em janeiro de 2022 (o cálculo leva em conta o volume previsto para a temporada atual) já foi negociada, e em setembro o preço médio da saca ficou em R$ 100,60. Nesse caso, a maior parte das transações foi fechada por meio de “bater” (troca de insumos pela colheita futura).

Analistas observam que, embora seja cedo para saber se haverá alguma quebra da safra de soja, já é possível adiantar que, em alguns polos de Mato Grosso, o atraso do plantio da oleaginosa poderá retardar a colheita a ponto de prejudicar o plantio do milho safrinha, que depois ocupará parte da mesma área. Segundo o IMEA, deverão ser plantados a partir de janeiro 5.7 milhões de hectares de milho no Estado, 5% mais que em 2019/20, e a produção poderá chegar a 36.3 milhões de toneladas, um aumento de 2,40% e também um novo recorde histórico.

Valor 

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