O Ministério da Agricultura do Brasil prevê elevar em até 2% o volume total de recursos disponíveis para o Plano Safra 2018/19, o qual contará com taxas de juros menores. A informação foi divulgada na quarta-feira (28/3) por uma importante autoridade da pasta.
O Plano Safra, que normalmente conta com uma boa parcela de juros subsidiados pelo governo, é sempre muito aguardado por produtores do país, que o utilizam para custeio da produção, construção de armazéns, compra de maquinários, comercialização das colheitas, entre outras atividades.
Para a atual temporada 2017/18, o plano contou com recursos totais de pouco mais de R$ 190 bilhões, com taxas de juros variando de 6,5% a 8,5% ao ano, a depender do programa selecionado.
Já para o ciclo 2018/19, cujo início oficial é em 1º de julho, o Plano Safra deverá ter recursos totais “de R$ 193 bilhões a R$ 194 bilhões “, recompondo a inflação e atendendo à demanda do setor, disse à Reuters o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Neri Geller.
“(O plano) deve ser ampliado (…) Temos um pouco de espaço fiscal em função da queda na inflação, na Selic. Estamos gastando menos com equalização graças à inflação menor”, afirmou Geller, que deixará o cargo no próximo dia 5 de abril para concorrer ao cargo de deputado federal por Mato Grosso pelo Partido Progressista (PP) nas eleições deste ano.
Segundo o secretário, o aumento de recursos irá recair sobre operações de custeio e programas de financiamento de investimento agropecuário, que no Plano 2017/18 contaram com cerca de R$ 188 bilhões. Subvenção ao prêmio do seguro rural e apoio à comercialização, como contratos de opções e o Pep (Prêmio para o Escoamento), verão repetidos os quase R$ 2 bilhões do ciclo anterior.
“O setor está demandando (mais crédito). O Moderfrota tinha R$ 9 bilhões e vamos aumentar para quase R$ 10 bilhões. Para armazenagem vamos aumentar um pouco; Inovagro vamos repetir”, disse Geller, à frente da Secretaria de Política Agrícola desde 2016 e também ex-ministro da Agricultura.
Ele destacou que o importante é acompanhar a execução do plano e, havendo necessidade, remanejar os recursos para os segmentos mais demandados.
Plano alinhado
Geller frisou que o Plano Safra 2018/19 terá taxas de juros menores para os principais programas – reflexo da queda da taxa Selic ao menor patamar da história, de 6,50% ao ano.
“Vão cair e vão ser taxas fixas. Teve uma especulação, uma proposta para os investimentos de longo prazo serem a taxa variável, mas não tem espaço para isso (…) Estamos trabalhando para ter redução nas taxas de juros, nada extraordinário”, disse o Secretário.
Segundo ele, o volume de recursos e as taxas de juros já estão “muito alinhados” com o Ministério da Fazenda, mas ainda não há data para divulgação oficial do plano. No ano passado, o anúncio foi em 7 de junho.
“Estamos cuidando para não faltar recursos, que possam ser acessados R$ 3 milhões por CPF para custeio (…) Investir em agro é investir em retorno para a economia e, consequentemente, em receita para o Tesouro”, declarou Geller.
“O Plano Safra influencia em ter crédito barato e acessível. Quando tem redução na taxa de juros, isso estimula o produtor a fazer o custeio três, quatro meses antes do plantio. Com dinheiro no bolso, ele pode ir ao mercado pesquisar, especular, onde comprar defensivo, sementes e outros insumos mais baratos (…) Consegue fazer um planejamento diferenciado”.
Para Geller, as mudanças esperadas para a Esplanada dos Ministérios em abril, com muitos titulares do governo de Michel Temer deixando os cargos para disputar as eleições, entre eles possivelmente Henrique Meirelles (Fazenda), não devem influenciar as negociações em torno do Plano Safra, justamente por ele já estar “alinhado”. “Pelo contrário, vai fortalecer, pois queremos deixar tudo fechado até a próxima semana”, disse.
Com relação ao ministro Blairo Maggi, que optou por não disputar as eleições deste ano, seguindo à frente da Agricultura até 31 de dezembro, Geller avaliou que a permanência dele no cargo “é positiva para o país”.
Guerra comercial
Geller também comentou sobre a escalada das tensões comerciais entre China e Estados Unidos. Os norte-americanos colocaram taxas sobre diversos produtores chineses, enquanto o gigante asiático ameaçou retaliar, com imposição de protecionismo sobre commodities agrícolas dos EUA.
A possibilidade de uma guerra comercial mais ampla tem ajudado a sustentar os preços da soja no Brasil, com importadores chineses pagando prêmios recordes para adquirir a oleaginosa.
“Isso (guerra comercial) é uma coisa dinâmica que precisamos acompanhar, sim. Tem a tendência de o Brasil ser beneficiado, mas é preciso acompanhar. Em um primeiro momento é bom”, afirmou Geller.
Segundo o secretário, o Brasil já vem ganhando espaço no mercado internacional de milho, dado a melhor qualidade do produto nacional. Em um cenário de menores exportações norte-americanas do cereal, os produtores brasileiros seriam ainda mais beneficiados.
A Reuters revelou em fevereiro que o México, por exemplo, comprou dez vezes mais milho do Brasil em 2017 em meio à preocupação de que as renegociações do Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta) possam prejudicar seus suprimentos provenientes dos EUA.
Fonte: Reuters