Plano nacional deverá aumentar a oferta de fertilizantes

Cenários traçados pelo Serviço Geológico Brasileiro (SGB-CPRM) para a elaboração do Plano Nacional de Fertilizantes, que deverá ser lançado em novembro, ao menos atenuam a preocupação dos produtores rurais com a possibilidade de escassez dos insumos no país.

Com investimentos pesados em tecnologia e inovação, em novas descobertas de minas e na extração de nutrientes, a dependência do Brasil da importação de fosfato e de potássio, hoje em 72% e 97%, respectivamente, pode recuar para 24,50% e 48% até 2050.

Porém, para que a esperança não se transforme em frustração, como nas últimas décadas, especialistas calculam que os aportes necessários estão na casa de dezenas de bilhões de dólares, e teriam de ser feitos pela iniciativa privada.

Desafios

Em um quadro de oferta e demanda ainda mais otimista, existe até a possibilidade de o Brasil exportar fertilizantes à base de potássio a partir de 2045. Mas em meio a uma série de desafios. Um deles é conhecer esse potencial, já que só 26% do território brasileiro está mapeado em escala adequada de reconhecimento geológico.

A dificuldade é ainda maior quando se trata de exploração na Amazônia, onde apenas 7% da área é conhecida e a atividade enfrenta travas ambientais.

“A pesquisa básica é uma premissa da fase pré-competitiva. É o mínimo que o Estado deve ofertar para o empreendedor encontrar oportunidades”, disse Márcio José Remédio, diretor de Geologia e Recursos Minerais do SGB-CPRM, ao Valor.

A falta de conhecimento, afirmou o diretor, se deve à exclusividade do setor de óleo e gás, mais especificamente da Petrobras, para pesquisa e exploração das bacias sedimentares do País, que somam cerca de 60% do território.

Expectativa

É nessas bacias, como na do Amazonas, que o SGB identificou o caminho para que o País amplie a produção de fertilizantes potássicos, com potencial semelhante aos dos Montes Urais, em Belarus, e da Província de Saskatchewan, no Canadá, dois dos principais fornecedores globais do insumo.

“Os cenários traçados são realistas. Temos uma expectativa muito boa. Com relação à oferta, é bem palpável”, garantiu Remédio.

Possibilidades

O SGB-CPRM traçou três possibilidades para a produção de fertilizantes fosfatados e potássicos. A primeira considera a manutenção do atual ritmo de crescimento da capacidade dos produtos à base de fosfato, sem novos aumentos.

Nesse horizonte, a demanda deverá passar de 5,9 milhões de toneladas, em 2022, para 12.2 milhões em 2050, e o déficit poderá cair de 56,20% para 47,20%.

O segundo cenário admite uma expansão da produção nacional a partir de 2035, mas com a evolução atrelada apenas aos projetos de exploração já existentes e que dependem de ajustes legais para a operação.

Nesse caso, a dependência de importações de fosfatados cairia para 34,30% em 2050, com a produção aumentando de 2.5 milhões para 8 milhões de toneladas.

A terceira possibilidade inclui um número expressivo de novos empreendimentos e descobertas. Assim, a produção pularia para 9.2 milhões de toneladas, reduzindo para 24,50% a dependência do fosfato importado.

Para o potássio, a estimativa é que a oferta poderia sair de 293.000 para 14.3 milhões de toneladas, nas perspectivas mais otimistas, até 2050.

Investimentos

Assim, apontou o SGB-CPRM, a dependência das importações cairia de 95,70%, em 2022, para 48% em 2050. Em um quadro de demanda mais contida, haveria espaço até para exportações. Mas para tudo isso, é bom reforçar, é preciso investimentos, que poderiam ser estimulados com incentivos fiscais, tributários e de crédito.

E também seria necessário facilitar o licenciamento ambiental de áreas identificadas e “desmistificar” a atividade, principalmente na Amazônia, o que parece difícil.

Mina

É lá que fica, por exemplo, a mina de Autazes (AM), sob responsabilidade da empresa Potássio do Brasil, que está parada por falta de liberação da Fundação Nacional do Índio (Funai). Já foram investidos mais de US$ 190 milhões na descoberta e no desenvolvimento do projeto e a previsão é que outros US$ 2 bilhões serão investidos até o fim da construção.

Recentemente, o diretor-executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), Fabrício Rosa, criticou a morosidade do processo. Ele disse que a exploração pode atender 20% da demanda nacional, o que ainda é pouco, mas que poderia, segundo ele, ajudar os agricultores de Mato Grosso, pela proximidade geográfica.

Remédio disse que será priorizado o estudo de áreas ao longo de ferrovias e rodovias, para facilitar a logística, além da exploração de remineralizadores, como o pó de rocha.

Novos órgãos

O diretor do SGB insiste na necessidade de criação de órgãos estaduais de geologia, como na Austrália e no Canadá, para ajudar no serviço nacional e no desenvolvimento de um banco geral de dados.

Mas o próprio orçamento da autarquia não ajuda. São cerca de R$ 100 milhões anuais, dos quais $ 16 milhões são para geologia básica. A indústria investe cerca de R$ 1 bilhão em pesquisas por ano. “Vamos ter uma explosão de descobertas. (Há) muito conhecimento acumulado”, afirmou Remédio.

 

 

Fonte: Valor

Equipe SNA

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