Pesquisadores identificam a ocorrência de Amaranthus palmeri em Mato Grosso

Amaranthus palmeri em lavoura de soja  FOTO: Arquivo IMAmt
Amaranthus palmeri em lavoura de soja     FOTO: Arquivo IMAmt

 

Amaranthus palmeri, a principal planta daninha dos algodoais nos Estados Unidos, foi identificada em Mato Grosso (no núcleo algodoeiro Centro Norte), em áreas normalmente cultivadas com rotação das culturas de algodão, soja e milho. Essa espécie é exótica e esse primeiro relato de sua ocorrência no Brasil é feito pela Circular Técnica nº 19, do Instituto Mato-grossense do Algodão (IMAmt) – braço tecnológico da Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa).

A Circular Técnica é assinada pelo pesquisador Edson Ricardo de Andrade Junior (do IMAmt) e pelos professores Anderson Luís Cavenaghi (do Centro Universitário de Várzea Grande – Univag), Sebastião Carneiro Guimarães (da Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT) e Saul Jorge Pinto de Carvalho (do Instituto Federal do Sul de Minas – Machado/MG).

Segundo os autores, em 2014, durante atividades de um projeto de extensão, realizado pelo IMAmt, em parceria com o Univag e a UFMT (com apoio financeiro do Instituto Brasileiro do Algodão – IBA), plantas de caruru que não foram controladas por herbicidas aos quais são suscetíveis tiveram suas sementes coletadas e enviadas ao IMAmt.

Nestas amostras, algumas plantas do gênero Amaranthus analisadas chamaram a atenção por não manifestarem qualquer sintoma de fitotoxicidade após a aplicação do herbicida glyphosate e por possuírem características morfológicas de Amaranthus palmeri”, relatam os pesquisadores.

Em anos anteriores, segundo eles, várias amostras de populações de plantas do gênero Amaranthus já haviam sido constatadas como resistentes a herbicidas inibidores da ALS, mas foram adequadamente controladas pelo glyphosate e devidamente identificadas como A. deflexus e A. retroflexus.

“Em 2014, além da resistência aos herbicidas inibidores da ALS, algumas plantas também não foram controladas pelo glyphosate e permaneceram nos vasos até a fase adulta. Essas plantas foram avaliadas e, com suporte em literatura especializada, confirmadas como sendo da espécie Amaranthus palmeri S.Watson”, informam os autores da Circular Técnica do IMAmt.

A identificação dessa espécie de planta daninha em lavouras de Mato Grosso é extremamente relevante, segundo o pesquisador Edson Ricardo Andrade Junior. “Nos últimos anos, esta espécie se tornou a principal planta daninha do algodoeiro nos EUA, em função de suas características biológicas e da resistência a herbicidas de diferentes sítios de ação”, explica. Amaranthus palmeri (família Amaranthaceae) é um tipo de caruru originário de regiões áridas do Centro Sul dos EUA e Norte do México, estando presente em vários países.

Algumas características de A. palmeri tornam sua presença em lavouras mais preocupante: ela é dioica, isto é, parte das plantas terão somente flores femininas (plantas “fêmea”), porém essas flores femininas podem produzir sementes mesmo sem a ocorrência de polinização.

Além disso, o metabolismo fotossintético dessa planta é do tipo C4, o que lhe dá vantagens competitivas em regiões de clima quente. “O crescimento é muito rápido (médias de 2 a 3 cm por dia), o que exige muita atenção para que as aplicações de herbicidas em pós-emergência sejam realizadas dentro do estádio ideal. Quando a população de A. palmeri não é controlada, perdas no rendimento das culturas podem atingir 91% em milho, 79% em soja e 77% em algodoeiro, segundo bibliografia norte-americana”, alertam os autores da Circular Técnica do IMAmt.

Tolerância zero

Outro aspecto que preocupa os pesquisadores do IMAmt e das instituições parceiras é a resistência de A. palmeri a herbicidas. Nos EUA, há populações com biótipos de A. palmeri que apresentam resistência simples a herbicidas com cinco mecanismos de ação: inibidores da ALS, inibidores da EPSPs, inibidores da HPPD, inibidores da tubulina e inibidores do fotossistema II.

“O manejo dessas populações se torna ainda mais complexo com a ocorrência de resistência múltipla, que já foi detectada para dois ou três desses mecanismos”, alertam os pesquisadores. Também já foram relatados biótipos com resistência a inibidores da ALS em Israel e da EPSPs na Argentina.

Andrade Junior e os professores envolvidos no estudo sobre a ocorrência da A. palmeri em Mato Grosso fazem algumas recomendações aos produtores em caso de suspeita ou confirmação da espécie em sua fazenda. “Em razão da recente detecção e do espaço geográfico ainda restrito, os resultados das medidas para contenção poderão ser mais rápidos e, como eles, o retorno econômico, uma vez que tratamentos para controle de A. palmeri com resistência múltipla possuem custos bem mais elevados”, afirmam.

Segundo os pesquisadores, estratégias múltiplas de controle de A. palmeri no mesmo talhão, utilizando métodos preventivos, químicos, mecânicos e culturais, são fundamentais para conseguir um manejo eficaz dessa planta daninha. “Vale ressaltar que herbicidas à base de glyphosate e inibidores da ALS não serão efetivos sobre essa população de A. palmeri”, advertem os autores do estudo, que propõem uma política de “Tolerância zero” contra essa planta daninha, a exemplo do que ocorre nos Estados Unidos.

A íntegra da Circular Técnica nº 19, contendo as práticas recomendadas por seus autores para o manejo de A. palmeri, pode ser lida no site do IMAmt: (www.imamt.com.br/system/anexos/arquivos/294/original/circular_tecnica_edicao19_bx_ok.pdf?1434631723).

 

 

Fonte: Assessoria de Comunicação/Ampa

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