Um dos mais conceituados pesquisadores em pecuária de leite do Sul do Brasil, Renato Serena Fontaneli, da Embrapa Trigo, ofereceu razões de sobra para convencer o produtor a fazer a integração entre lavoura e pecuária de leite. De olho nos benefícios econômicos, agronômicos e ecológicos, Fontaneli insistiu para que os produtores gaúchos pensem a respeito dos cinco milhões de hectares que ficam ociosos no inverno.
“No inverno, temos área de lavoura disponível para fazer pasto”, diz Fontaneli.
O pesquisador comparou a área cultivada no verão – aproximadamente seis milhões de hectares – com soja, arroz, feijão e sorgo, com a área cultivada no inverno – em torno de um milhão de hectares – com trigo, aveia branca, cevada, triticale e centeio.
“A atividade leiteira é árdua, complexa, mas permite renda. Temos de encarar essa atividade como ‘duas colheitas’ por dia.”
A integração lavoura-pecuária de leite, em um Estado de clima subtropical como o Rio Grande do Sul, abriria uma “janela de oportunidades” para diversificar e aprimorar os sistemas de produção de grãos e de pastagens, conservaria melhor o solo, reduziria a incidência de doenças e plantas daninhas, tornaria mais eficiente o uso das máquinas agrícolas e alargaria a margem de lucro do produtor.
“O problema do sistema intensivo é que ele acaba estreitando a margem de lucro”, justifica Fontaneli, embasado na pesquisa realizada pela Embrapa sobre Leite a Pasto em Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária.
“O pessoal fica com o pé atrás quando eu digo que a vaca que precisamos, a minha avó já conhecia. Genética nós temos, nós precisamos é de alimento”, insiste Fontaneli.
Partindo do pressuposto de que não se pode dar qualquer coisa para as vacas comerem, a pesquisa feita pela Embrapa sugere o plantio e manejo de gramíneas e leguminosas forrageiras e cereais de inverno de duplo propósito – trigo e aveia.
Entre as espécies anuais de inverno, foram sugeridos trevos, aveia, azevém, com maior taxa de crescimento entre agosto e outubro. Entre as espécies perenes de inverno, poderia se pensar na festuca, trevo branco e cornichão, com crescimento entre setembro e novembro. Na lista das espécies perenes de verão, a Embrapa indicou tifton, quicuio, jesuíta, hermatria, com maior taxa de crescimento entre setembro e outubro.
“Dá para fazer muito dinheiro por área, o desafio é consorciar, fazer essa engenharia”, assegura Fontaneli.
Nos Estados Unidos, quando concluiu o curso de doutorado há mais de dez anos, Fontaneli comparou a produção de leite de vacas em confinamento e tratadas no pasto. Segundo ele, nessa época uma vaca confinada produzia 30 litros diários. No pasto, a produção baixava para cinco litros. Entretanto, ele aponta que o custo do confinamento era US$ 4 vaca/dia e o custo do alimento no sistema a pasto, US$ 1 vaca/dia.
“Muito bem, perdi cinco litros de leite, mas entrou mais dinheiro no bolso, sobrou 10% a mais. Será que um bom pasto de inverno dá para fazer uma vaquinha produzir 15 litros de leite a pasto aqui? Dá. Com pasto de valor, a vaca come, por dia, 15 kg de matéria seca, logo irá produzir 15 litros de leite. Quanto me custou esse quilo de matéria seca? Dez centavos”, calcula o pesquisador.
De acordo com pesquisador da Embrapa Trigo, é preciso tomar o cuidado de não apresentar modelos.
“Precisamos conhecer as opções e adaptá-las às condições locais. A cevada, por exemplo, tem alta energia líquida para lactação. No mundo inteiro, mais de 70% da cevada é usada na alimentação animal. No Brasil, é usada para cerveja.”
Fonte: Ascom Emater/RS