Pesquisa da Unicamp abre caminho para cana com maior teor de açúcar

Há anos estagnada, a produtividade da cana-de-açúcar pode decolar com uma nova descoberta científica. Uma equipe comandada pela pesquisadora Anete Pereira de Souza, do Instituto de Biologia da Unicamp, descobriu, usando uma técnica inovadora, em que parte do código genético da planta está o fragmento de genes responsável pela produção de açúcar.

A descoberta abre as portas para melhoramentos e modificações genéticas que aumentem a capacidade da cana produzir sacarose, mas a técnica também pode ser utilizada, por exemplo, para criar variedades de cana resistentes a pragas.

Chegar a esse grupo de genes não teria sido uma tarefa fácil se a pesquisa tivesse usado a técnica do sequenciamento do genoma da planta. Isso porque a cana tem um genoma bastante complexo, com número de cromossomos homólogos que pode chegar a 14. Instituições de pesquisas do país têm buscado decodificar todo o genoma da cana, ainda sem sucesso.

A descoberta só foi possível porque a pesquisadora decidiu utilizar uma planta com um genótipo semelhante ao da cana, o sorgo, como “modelo” para localizar o gene do açúcar.

“Olhamos no sorgo a região onde há genes que aumentam a produção do açúcar. Há genes (no sorgo) que contribuem para o aumento de açúcar que já foram estudados há pelo menos uns dez anos. Com isso, procuramos essas regiões no genoma da cana”, disse Souza.

A busca por esses fragmentos no genoma da cana, por sua vez, só foi possível porque a equipe de pesquisadores tinha à mão um banco de fragmentos de todo o genoma da cana, que haviam sido construídos com colaboração de programas de pesquisa, como a Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroenergético (Ridesa). A pesquisa da equipe da Unicamp foi financiada por Fapesp, CNPq e Capes.

“Buscamos em nosso banco os fragmentos de genes que tinham esses pedaços, como o do sorgo. Recuperamos, sequenciamos, e vimos uma região com mais de um milhão de bases que tem genes muito parecidos com o do sorgo”, disse a pesquisadora.

Esse caminho, chamado de “seleção genômica”, representa um “atalho” para a pesquisa genética com a cana, já que o genoma do sorgo já foi muito mais estudado e pode ser utilizado para descobrir genes responsáveis por outras características da cana, como resistência a pragas, a temperaturas elevadas, ou à formação de fibras.

Souza avalia que, usando a seleção genômica, será possível realizar um programa de melhoramento genético da cana por seis ou cinco anos. “O clássico da pesquisa com cana são 12 anos”, afirmou. “Reduzir o tempo de pesquisa significa permitir melhoramentos genéticos de forma mais rápida, o que pode antecipar o aumento da produção sucroalcooleira”, acrescentou.

A técnica da seleção genômica começou a ser utilizada em plantas por meio de pesquisas em outros países, entre 2014 e 2015. No Brasil, essa é a primeira pesquisa genética que utiliza a metodologia e também pode ser utilizada para outras espécies, como em pastagens e seringueiras, por exemplo.

A pesquisadora ressaltou, porém, que apenas essa técnica “não vai revolucionar sozinha” o rendimento da cana-de-açúcar, já que isso depende também das pesquisas em campo e das buscas por perfis genéticos melhores.

 

Fonte: Valor Econômico

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