A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) apresentou estudo que mostra que a produção da cana-de-açúcar no Brasil é mais limpa do que se imaginava. A pesquisa mostra que o cultivo de cana no Brasil impacta menos o meio ambiente do que se sabia e do que apontavam os estudos internacionais. A metodologia utilizada foi a de Avaliação de Ciclo de Vida de Produtos (ACV), ferramenta que permite avaliar o desempenho ambiental de produtos ao longo de todo o seu ciclo de vida. Trata-se de uma metodologia com forte base científica e reconhecida internacionalmente, padronizada pela série de normas ISO 14040.
Uma das responsáveis pelo resultado alcançado é Marília Ieda da Silveira Folegatti Matsuura, pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente. O projeto ACV cana, que é financiado pela Embrapa, com apoio da Fundação Espaço Eco e participação de outros parceiros (Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol – CTBE, Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR – e Escola Politécnica da USP – EPUSP), teve início em março de 2013. De acordo com a pesquisadora, o objetivo era “avaliar o desempenho ambiental da cana-de-açúcar e seus produtos derivados – etanol, açúcar e bioeletricidade – produzidos nas regiões tradicionais e de expansão da cana-de-açúcar no Centro-Sul do Brasil, adotando a abordagem da Avaliação de Ciclo de Vida, com base em dados, fatores e modelos adaptados às condições nacionais”.
Pesquisa
A metodologia de ACV, utilizada na pesquisa da Embrapa, descreve o processo do produto em estudo e realiza a contabilidade de material e energia consumidos e de emissões geradas neste processo, assim como em todos os processos participantes da sua cadeia produtiva (como a extração, produção e transporte de matérias-primas e insumos, inclusive energéticos), gerando o inventário do ciclo de vida (ICV) do produto. Esse inventário é convertido em diferentes impactos ambientais, como mudanças climáticas, depleção de recursos fósseis, acidificação, eutrofização, toxicidade humana, ecotoxicidade, depleção da camada de ozônio, dentre outros. A ferramenta é usada para a gestão ambiental, podendo ser empregada para a determinação das pegadas de carbono e hídrica, para o ecodesign e também para a rotulagem ambiental.
Marília Matsuura explica que os resultados do projeto mostram o perfil ambiental da produção de cana-de-açúcar e derivados no Brasil. “A análise dos sistemas de produção permitiu identificar pontos críticos a serem trabalhados para a melhoria do desempenho ambiental destes produtos. Isso contribui para a maior sustentabilidade do setor e para sua competitividade no comércio internacional.”
Segundo ela, os estudos anteriores sobre produção de cana no Brasil assumiam o uso de práticas agrícolas não mais adotadas pelo setor, que investiu muito na redução de impactos ambientais. A diminuição da queimada pré-colheita e o abandono do uso de produtos fitossanitários de alta toxicidade foram algumas das medidas impactantes. O grande diferencial local é que aqui se consegue alcançar alta produtividade sem fazer uso de irrigação.
O estudo deve ser constantemente atualizado, conforme novas tecnologias sejam incorporadas pelo setor. “A ideia é manter atualizados os bancos de dados de inventários de ciclo de vida nacional (SICV Brasil) e internacional (ecoinvent) usados pela comunidade técnica e científica para a comparação de produtos com fins comerciais e também para o embasamento de políticas públicas”, comenta Marília.
Mudanças
O Brasil está na vanguarda da produção de cana há anos, sendo hoje o principal detentor da tecnologia de produção, tanto da matéria-prima quanto de seus derivados. O assessor técnico da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (FAEG), Alexandro Alves, explica que o processo evoluiu ao longo dos anos, e quando se fala em produção limpa, trata-se especialmente da questão ambiental. “A mecanização da cultura, especialmente na colheita, muito contribui para isso. Hoje a colheita nas principais regiões produtores do território nacional como na região Centro-Sul chega a mais de 90%. A biotecnologia empregada na produção resultando em materiais mais produtivos e com maior potencial de captação de carbono da atmosfera, além do uso de produtos mais eficientes e menos tóxicos para o meio ambiente, contribuiu decisivamente para o incremento dessa produção limpa.” Segundo Alexandro, outro item positivo foi o uso do bagaço de cana – antes um problema para a indústria, hoje se transforma em energia elétrica e colabora para o incremento na matriz energética brasileira.
Atualmente os produtores têm tido acesso a mais informação de processos produtivos e estão bem informados sobre os acontecimentos e as novas tecnologias disponíveis. O fim da queima no campo foi um marco para a produção de cana no Brasil. “O processo de queima controlada para colheita de cana sempre foi o que tornou a cultura uma grande vilã do meio ambiente. Mesmo que no campo conseguisse ser tão eficiente em termos de captação de carbono da atmosfera, quando chegava a colheita quase todo trabalho se perdia em cinzas e fumaça. Hoje essa realidade é totalmente diferente”, comemora Alexandro Alves.
O assessor técnico da FAEG atribui o sucesso da produção de cana no Brasil principalmente à pesquisa. Segundo ele, a pesquisa com novos materiais genéticos, agroquímicos mais eficientes, técnicas produtivas mais apuradas, inovação em máquinas e equipamentos, qualificação de pessoal entre outros foi decisivo para tornar o Brasil o grande produtor mundial que é, exportando tecnologia para outras regiões produtivas no mundo. “Outro destaque é a eficiência dos produtores independentes e os maiores investimentos por parte dos grupos usineiros na parte agrícola de campo, onde, de fato, de produz cana, etanol, açúcar e energia”, disse Alexandro.
Fonte: Canal Bioenergia