Carnes bovinas frescas, congeladas ou transformadas, que serão destinadas ao mercado interno ou externo, poderão ganhar um reforço de peso em um futuro bem próximo, após o lançamento da “Carne Carbono Neutro” (CCN). Já devidamente registrada no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), a nova marca foi lançada na primeira semana de junho, durante o 2º Simpósio Internacional sobre Gases de Efeito Estufa na Agropecuária (SIGEE), promovido pela Embrapa Gado de Corte, em Campo Grande (MS).
“O selo poderá melhorar a visibilidade da carne brasileira em mercados mais exigentes, como o europeu, com potencial de ampliar as exportações. Já no mercado interno, concorre para ampliar o setor de carnes diferenciadas, com apelo de qualidade associada aos benefícios ambientais, com mitigação dos Gases de Efeito Estufa (GEEs)”, salienta o pesquisador da Embrapa Gado de Corte Roberto Giolo, em entrevista à equipe SNA/RJ.
O especialista é responsável pela elaboração da marca-conceito CCN, ao lado dos pesquisadores Fabiana Villa Alves e Valdemir Antônio Laura, da mesma unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Juntos, eles elaboraram o documento “Carne Carbono Neutro: um novo conceito para carne sustentável produzida nos trópicos” (link encurtado: ow.ly/OZ4I301uN7J).
Para a produção mais sustentável de carne bovina em território nacional, Giolo acredita que o selo CCN “poderá ser uma boa estratégia para demonstrar todo o esforço do Brasil, em suas ações voluntárias frente às mudanças climáticas; para produção e exportação de um produto diferenciado; e para valorizar a pecuária e a gestão ambiental do País”.
PÚBLICO-ALVO
Ele reforça que o público-alvo desta “nova carne” será todo e qualquer mercado mais exigente, “não só pela qualidade do produto, mas pelo menor impacto ambiental do sistema produtivo, principalmente com relação às emissões de GEEs, como a Europa e Japão”.
Giolo acredita que o novo selo também será um facilitador para as metas nacionais previstas no Plano de Agricultura de Baixo Carbono, “na medida em que o selo está associado à carne produzida em sistemas pecuários que incluem o componente arbóreo plantado, como sistemas silvipastoris e agrossilvipastoris”. “Estes sistemas, por sua vez, se enquadram como modelos de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), que consistem em uma das ações propostas pelo Plano ABC”.
ORIENTAÇÕES
Para futuramente receber o selo CCN, aponta Giolo, será necessário que o sistema pecuário inclua o componente arbóreo plantado, como sistema silvipastoril ou agrossilvipastoril; e que o metano emitido pelos animais em pastejo seja mitigado pelo carbono fixado no tronco das árvores, cuja madeira deverá ser utilizada para serraria (plano de manejo ou de corte final das árvores para 10 a 15 anos).
Ainda serão necessários que os dados das emissões de metano, de sequestro de carbono pelas árvores e de parâmetros do microclima (para caracterizar a melhoria do conforto térmico animal) sejam devidamente atestados, conforme as indicações do documento CCN.
De acordo com a Embrapa Gado de Corte, a principal finalidade da marca-conceito “Carne Carbono Neutro” será atestar a produção de bovinos de corte em sistemas com a introdução obrigatória de árvores como diferencial, promovendo o bem-estar animal.
A partir do plantio e/ou da conservação das árvores na propriedade rural, explica Giolo, “o microclima da pastagem fica mais estável, de modo geral, ocorrendo uma diminuição na temperatura média, aumentando a umidade relativa do ar e diminuindo a velocidade do vento, com melhoria nos índices de conforto térmico para os animais”.
PRÓXIMO PASSO
Segundo a Embrapa Gado de Corte, a forma como a marca-conceito CCN será adotada no Brasil ainda está em processo de desenvolvimento e envolve negociações com os setores público e privado. Em 2016, foi aprovado um projeto-piloto, financiado pela Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul (Fundect), para a avaliação de métricas da Carne Carbono Neutro em Mato Grosso do Sul.
Outro projeto recém-aprovado na Embrapa, com previsão para começar a ser produzido em agosto deste ano, prevê estudos para a validação do protocolo CCN em fazendas comerciais nos biomas Cerrado, Mata Atlântica e Floresta Amazônica; análise e prospecção de mercado; valoração do produto e desenvolvimento de políticas públicas.
Por equipe SNA/RJ