Uma plantação de tomate orgânico produz, em média, de seis a oito quilos por metro quadrado. Mas a produtividade pode ser 60% maior, chegando a render 9,5 quilos, com a utilização de um fungo chamado Trichoderma, usado nas pulverizações direcionadas ao solo ou colo da planta. Este é um dos mais recentes resultados positivos das pesquisas realizadas pela Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
De acordo com o pesquisador do órgão Sebastião Wilson Tivelli, no caso da cultura do tomate orgânico, o Trichoderma harzianum (Esalq 1306) foi aplicado nas mudas um pouco antes do transplante.
“Este fungo foi selecionado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz e é, atualmente, comercializado pela empresa Koppert. A marca comercial do produto é chamada de Trichodermil 1306. Mas existem outras empresas que comercializam distintas estirpes de Trichodermas”, informa Tivelli, em entrevista à equipe SNA/RJ.
O material sobre produção de tomate orgânico está disponível em uma apostila técnica, elaborada em parceria com o Centro do Inteligência em Orgânicos (CIO), mantido pela Sociedade Nacional de Agricultura (SNA). O documento pode ser encontrando em http://ow.ly/NtO8304ncUs (link encurtado).
De acordo com Tivelli, o material sobre batata orgânica foi encaminhado em julho à SNA e está em fase de revisão; o de morango orgânico, coordenado pelo pesquisador Joaquim Adelino de Azevedo Filho, foi encaminho no final de agosto.
“Já os materiais sobre cultivo de milho e feijão, coordenados pela pesquisadora Neli Cristina Belmiro dos Santos, estão sendo elaborados, sendo que o de milho será enviado à SNA até o final de setembro e o de feijão, em meados de outubro”, informa. “E, finalmente, o material sobre goiaba orgânica, coordenado pela pesquisadora Juliana Altafin Galli, tem previsão de entrega em outubro, também ao Centro de Inteligência em Orgânicos, da SNA”, acrescenta.
AÇÃO DO TRICHODERMA
Segundo Tivelli, o fungo Trichoderma age de três modos distintos na cultura de tomate orgânico, entre outras. “O primeiro é colonizando rapidamente o solo, depois de inoculado (aplicado). Este fungo libera substâncias no meio (enzimas e antibióticos), que inibem o desenvolvimento de outros fungos, em especial os patogênicos”, relata o pesquisador da APTA.
O segundo modo de ação, continua o especialista, “é competindo com os demais fungos patogênicos presentes no solo e colonizando áreas infestadas de Fusarium e parasitando hifas de Rhizoctonia. O terceiro modo de ação é solubilizando os nutrientes presentes na matéria orgânica do solo”, detalha.
Ele explica que o fungo é aplicado por meio de pulverizações direcionadas ao solo ou colo da planta. “As aplicações podem ocorrer em três momentos: o primeiro, por ocasião da semeadura da cultura comercial; o segundo, na hora do transplante das mudas para o local definitivo; e o terceiro, no campo, após o transplante das mudas”, enumera Tivelli.
Conforme o pesquisador da APTA, ainda não é possível estimar um custo ao produtor rural. “Não tenho o custo deste produto no momento. Nos experimentos atuais, estamos ensinando o agricultor a conservar e multiplicar o fungo na propriedade. O método é simples e muito barato, pois usamos uma fonte de amido cozido para multiplicar o fungo e depois conservamos o material em geladeira doméstica. Por isto, o produtor consegue manusear o fungo, sozinho, o que reduz gastos com mão de obra”, salienta.
MUDAS DE ALFACE
Nos últimos dois anos, a APTA também está avaliando parte da micoteca do Instituto Biológico/APTA, sob a responsabilidade da pesquisadora Cleusa Lucon. “Das 120 estirpes de Trichoderma armazenadas na micoteca, avaliamos inicialmente 55 Trichodermas em mudas de alface. Deste total, foram selecionados 13, em uma fase posterior do trabalho, até chegarmos a cinco Trichodermas com melhor desempenho para essa importante folhosa”, relata Tivelli.
“Em 2016, expandimos o trabalho para outras culturas no Sítio Mundo Novo, em Ibiúna (SP), onde estamos avaliando os cinco Trichodermas selecionados para alface, agora, para coentro e couve chinesa”, conta.
Conforme o pesquisador, ainda é necessário avaliar a dose de aplicação do Trichoderma e o melhor momento desta aplicação: “Mas já observamos, para as duas culturas, um aumento de produção e redução no ciclo de cultivo da cultura em função da aplicação dos Trichodermas no momento da semeadura”.
UNIÃO COM A SOCIEDADE NACIONAL DE AGRICULTURA
De acordo com Tivelli, a iniciativa de procurar parceria com o Centro de Inteligência em Orgânicos está no fato de que a SNA tem como finalidade desenvolver ações políticas e educacionais, fomentar estudos e divulgar conhecimentos em prol da agricultura no Brasil.
“Essas finalidades estão em sintonia com a missão institucional da APTA, que é gerar e transferir o conhecimento técnico para o agronegócio”, destaca o pesquisador.
Ele ainda lembra que, há dois anos, foi convidado a divulgar no Estado do Rio de Janeiro, no município de Paty do Alferes, as pesquisas com tomate do Centro de Referência em Agricultura Ecológica da APTA, sediado na Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento em Agricultura Ecológica, em São Roque (SP).
“Desta primeira interação entre a APTA e a SNA, por meio do CI Orgânicos e o Sebrae-RJ, surgiram as apostilas de tomate em 2015. Agora, o desafio é elaborar outras para este ano. É importante ter novos canais de comunicação, que façam chegar aos consumidores e agricultores informações corretas, fundamentais para o segmento”, comenta Tivelli.
Por equipe SNA/RJ