A colheita da safra de grãos de verão 2017/18 iniciou com atraso, há pouco mais de dez dias, por causa das adversidades climáticas que vêm ocorrendo desde o ano passado. Mesmo assim, o Paraná está colhendo uma safra de 22.7 milhões de toneladas. Com a melhora do clima, produtores estão acelerando a colheita da soja e milho da primeira safra para evitar novos atrasos no plantio da segunda safra de milho que já está em curso.
Tanto a soja como o milho da primeira safra tiveram o início do plantio atrasado, no ano passado, por causa da seca. O clima se normalizou em outubro, mas voltou a penalizar a agricultura paranaense em novembro com excesso de chuvas. Essa situação vem se alongando desde esse período e contribuiu para atrasar tanto a colheita desses grãos como o plantio da segunda safra de milho.
Devido ao clima, que está passando por uma trégua nos dias atuais, os produtores estão acelerando a colheita no campo, que está em ritmo acelerado.
Soja e milho
Segundo o acompanhamento do Deral (Departamento de Economia Rural) correspondente ao mês de fevereiro, a colheita da soja está atrasada, com 9% da área colhida, quando em igual período do ano passado 31% da área plantada já estava colhida. Com isso, menos de 500.000 hectares da área plantada foi colhida, quando no ano passado foram cerca de 1.6 milhão de hectares.
Segundo o economista Marcelo Garrido, do Deral, esse quadro não deverá prejudicar a produtividade da soja, de forma geral, mas poderá afetar a qualidade do grão. Também pode aumentar os custos para o produtor. Isso porque, com o excesso de umidade, terá que gastar mais para conter as doenças fúngicas que atacam as plantas.
O Deral estima uma safra de soja de 19.3 milhões de toneladas – cerca de 547.000 toneladas a menos que a safra anterior, que foi considerada excepcional.
As perspectivas de comercialização são favoráveis ao produtor. Segundo Garrido, o mercado está especulando uma perda de soja na safra da Argentina, devido ao período de seca intensa por lá, provocado pela corrente climática La Niña. “Se isso for confirmado, é possível uma reação nas cotações”, disse.
Por enquanto o mercado trabalha com a cotação de R$ 64,00 a saca, que é considerado um bom valor.
O milho de primeira safra, também submetido às mesmas condições climáticas que a soja, está com a colheita atrasada, com apenas 6% da área colhida. Este ano, cerca de 20.000 hectares foram colhidos até agora, quando no ano passado, nessa mesma época, já havia 150.000 hectares plantados.
Segundo Edmar Gervásio, analista da cadeia do cereal pelo Deral, estima-se uma colheita de 2.97 milhões de toneladas para o milho da primeira safra, que corresponde a uma redução de 40% em relação à produção anterior. Essa retração acompanha a diminuição na área de plantio, que foi de 35%. No ano passado foram plantados 513.627 hectares com milho da primeira safra e, este ano, 332.833 hectares.
“Devido ao clima, houve alongamento do ciclo de desenvolvimento das plantas”, disse Gervásio. “Com muitos dias nebulosos, com falta de luminosidade natural, as plantas não se desenvolveram como deveriam. Com o retorno do sol, a expectativa é que melhore a produtividade e a qualidade dos grãos”, afirmou o técnico.
O atraso na colheita da soja e do milho da primeira safra também está atrasando o plantio da segunda safra de milho. Com isso, a expectativa de plantio de 2.14 milhões de hectares, neste período, pode não se confirmar. Este ano, o Deral já constatou uma redução na área plantada de milho da segunda safra de 11%.
“A produção esperada é de 12.3 milhões de toneladas. Com o plantio tardio, pode-se esperar uma produção até menor”, declarou Gervásio. Segundo ele, os produtores não estão muito animados como em anos anteriores por causa da estabilidade dos preços, em torno de R$ 22,00 a saca.
Feijão
Após o mês de janeiro, as condições climáticas melhoraram, o que permitiu acelerar a colheita do feijão da primeira safra. O avanço da colheita revelou perdas de 19% na produção, que correspondem a 71.000 toneladas, por causa do excesso de chuvas e frio durante o desenvolvimento das plantas. A produção estimada de feijão da primeira safra, atualmente, é de 308.000 toneladas. A estimativa inicial do Deral apontava para uma colheita de 379.000 toneladas.
Segundo o economista do Deral, Methódio Groxko, esse ano atípico por causa do excesso de chuvas provocou perdas em qualidade e produtividade no feijão da primeira safra. Mas não houve impactos na comercialização porque o mercado segue abastecido.
Em início de ano, é normal queda de demanda por causa das férias escolares e os preços não estão reagindo. Os preços do feijão preto e cores estão estáveis em R$ 118,00 e R$ 94,00 a saca, respectivamente. “A comercialização é que está atrasada”, disse Groxko. Segundo ele, cerca de 54% da saca está vendida, quando no ano passado, nessa mesma época, 62% da safra estava vendida.
A melhoria das condições climáticas está beneficiando o plantio do feijão de segunda safra. A pesquisa do Deral constatou uma redução de 21% na área plantada, que cai de 251.625 hectares para 198.963 hectares. Mas aponta para uma produção 10% maior em relação ao ano passado por causa das condições favoráveis ao aumento de produtividade.
A estimativa do Deral para o feijão de segunda safra é de 380.492 toneladas, 10% a mais que em igual período do ano passado, quando foram colhidas 346.610 toneladas do grão.
Preocupação
O secretário estadual da Agricultura e Abastecimento, Norberto Ortigara, disse estar preocupado com a possibilidade de atraso no plantio da segunda safra de milho e encaminhou ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, no início deste mês, pedido de prorrogação no plantio.
Ortigara alerta para o fato de que, se os produtores não conseguirem concluir o plantio, uma possível redução na produção de milho da segunda safra poderá afetar o abastecimento das cadeias produtivas dependentes desse grão, como a produção de aves, suínos e leite.
Para o diretor do Departamento de Economia Rural (Deral), Francisco Carlos Simioni, este ano-safra vem sendo marcado com vários desafios para os produtores, clima, mercado, economia interna entre outros.
Contudo, o clima, que é um dos fatores de maior risco, com muitas variações ao longo do ciclo dos principais cultivos de verão, tem sido amenizado devido ao uso de tecnologia adequada, como conservação de solos e plantio dentro da recomendação da pesquisa – Zoneamento de Risco Agropecuário (Zarc).
“Essa disciplina do produtor na condução da atividade agrícola”, disse Simioni, “tem mostrado reflexos positivos, com redução de perdas em produtividade e qualidade, mesmo com clima adverso, como vem ocorrendo durante todo o ciclo de desenvolvimento das culturas”.
Fonte: Secretaria de Agricultura do Paraná