O agronegócio brasileiro ocupa o terceiro lugar no ranking de custos logísticos quando comparado com demais segmentos econômicos. Do total dos gastos exigidos para a produção, 20,7% vão para a difícil tarefa de escoar a carga. Para resolver este entrave, que se torna cada vez mais crônico, o País teria de investir US$ 50 bilhões/por ano pelos próximos 15 anos. Isto é o que aponta estudo da Fundação Dom Cabral (FDC), que desenhou uma plataforma de intervenções necessárias para esta infraestrutura no horizonte até 2035.
A Plataforma de Infraestrutura em Transporte será oficialmente lançada nas próximas semanas. De acordo com o professor Paulo Resende, um dos responsáveis pelo projeto, o estudo reúne obras que já estão previstas no Plano Plurianual do governo (PP), bem como sinaliza intervenções que não estão contempladas, mas que precisam ser tocadas urgentemente.
“Estamos trabalhando com o conceito de corredores logísticos e não projetos isolados. Este é a visão chinesa, sai mais barato. Não se trata mais de olhar apenas para um modal ou tentar mudar de um para o outro. O ideal é aplicar o multimodalismo”, defende ele.
Dentro destes US$ 50 bilhões previstos por ano, estão contemplados a manutenção da atual malha rodoviária e sua ampliação em 20 mil quilômetros, além de investimentos em novos projetos de hidrovias e ferrovias. Ele cita como exemplo a BR-163, que escoa boa parte da produção agrícola nacional para os portos do eixo Norte.
“Esse é um caso bem típico do que nossa plataforma está propondo. Ao invés de se aumentar ou duplicar a BR-163, o ideal seria utilizar a Ferrogrão e a Ferrovia Norte-Sul, que é o grande projeto ferroviário brasileiro. Mas é imprescindível que a Norte-Sul chegue a sua totalidade, indo até SP. Hoje ela para no Tocantins”, diz ele. Entre as rodovias que precisariam ser ampliadas estão a BR-116 e a BR-381, entre Belo Horizonte e Vitória.
O diagnóstico da plataforma será aberto ao público. Um dos capítulos do estudo trata, especialmente, do escoamento da safra de soja. “Hoje existe um vazio em parte do centro-oeste. A carga de soja e milho está sendo escoada por caminhões. Isto é prejuízo puro. O correto seria que essa carga fosse transportada por ferrovia e os caminhões estivessem apenas abastecendo o modal ferroviário”, acrescenta ele.
O que seria desejável para o escoamento da soja brasileira em 2035. Sendo Cabotagem em amarelo, Ferrovia em verde e Hidrovia em azul. Fonte FDC.
De acordo com Resende, o estoque de infraestrutura brasileiro representava 21,4% do PIB no começo dos anos 1980 e, em 2016, correspondia a apenas 12,1%.O resultado, segundo o professor da FDC, é que os custos logísticos brasileiros são estratosféricos. “Essa infraestrutura deteriorada provoca um consistente avanço do custo logístico para as empresas. Em 2017 ele chegou a mais de 12% das receitas, mesmo sem aumento no faturamento e em tempos de crise”, afirma ele.
Na avaliação de Paulo Resende, o ideal seria que o Brasil tivesse 36% da sua matriz de transporte em ferrovias, 48% em rodovias e o restante em hidrovias. Hoje, nos cálculos da FDC, a real participação das ferrovias não chefa a 20%, enquanto que a das rodovias chega a 75%.
Ainda segundo os dados do engenheiro, enquanto nas economias mais importantes do mundo o item de maior peso na logística das empresas é a armazenagem, no Brasil é o transporte. Enquanto a armazenagem representou no ano passado 17,7% dos custos logísticos das empresas, o transporte respondeu por 63,5%, sendo 40,1% na longa distância e 23,4% na distribuição urbana.
Equipe SNA/Rio