País precisa de US$ 50 bi por ano em investimentos de logística

Mapa do transporte de soja no Brasil em 2015. Sendo Cabotagem em amarelo, Ferrovia em verde e Hidrovia em azul. Fonte FDC.

O agronegócio brasileiro ocupa o terceiro lugar no ranking de custos logísticos quando comparado com demais segmentos econômicos. Do total dos gastos exigidos para a produção, 20,7% vão para a difícil tarefa de escoar a carga. Para resolver este entrave, que se torna cada vez mais crônico, o País teria de investir US$ 50 bilhões/por ano pelos próximos 15 anos. Isto é o que aponta estudo da Fundação Dom Cabral (FDC), que desenhou uma plataforma de intervenções necessárias para esta infraestrutura no horizonte até 2035.

Plataforma de Infraestrutura em Transporte será oficialmente lançada nas próximas semanas. De acordo com o professor Paulo Resende, um dos responsáveis pelo projeto, o estudo reúne obras que já estão previstas no Plano Plurianual do governo (PP), bem como sinaliza intervenções que não estão contempladas, mas que precisam ser tocadas urgentemente.

“Estamos trabalhando com o conceito de corredores logísticos e não projetos isolados. Este é a visão chinesa, sai mais barato. Não se trata mais de olhar apenas para um modal ou tentar mudar de um para o outro. O ideal é aplicar o multimodalismo”, defende ele.

Dentro destes US$ 50 bilhões previstos por ano, estão contemplados a manutenção da atual malha rodoviária e sua ampliação em 20 mil quilômetros, além de investimentos em novos projetos de hidrovias e ferrovias. Ele cita como exemplo a BR-163, que escoa boa parte da produção agrícola nacional para os portos do eixo Norte.

 “Esse é um caso bem típico do que nossa plataforma está propondo. Ao invés de se aumentar ou duplicar a BR-163, o ideal seria utilizar a Ferrogrão e a Ferrovia Norte-Sul, que é o grande projeto ferroviário brasileiro. Mas é imprescindível que a Norte-Sul chegue a sua totalidade, indo até SP. Hoje ela para no Tocantins”, diz ele. Entre as rodovias que precisariam ser ampliadas estão a BR-116 e a BR-381, entre Belo Horizonte e Vitória.

O diagnóstico da plataforma será aberto ao público. Um dos capítulos do estudo trata, especialmente, do escoamento da safra de soja. “Hoje existe um vazio em parte do centro-oeste. A carga de soja e milho está sendo escoada por caminhões. Isto é prejuízo puro. O correto seria que essa carga fosse transportada por ferrovia e os caminhões estivessem apenas abastecendo o modal ferroviário”, acrescenta ele.

O que seria desejável para o escoamento da soja brasileira em 2035. Sendo Cabotagem em amarelo, Ferrovia em verde e Hidrovia em azul. Fonte FDC.

De acordo com Resende, o estoque de infraestrutura brasileiro representava 21,4% do PIB no começo dos anos 1980 e, em 2016, correspondia a apenas 12,1%.O resultado, segundo o professor da FDC, é que os custos logísticos brasileiros são estratosféricos. “Essa infraestrutura deteriorada provoca um consistente avanço do custo logístico para as empresas. Em 2017 ele chegou a mais de 12% das receitas, mesmo sem aumento no faturamento e em tempos de crise”, afirma ele.

Na avaliação de Paulo Resende, o ideal seria que o Brasil tivesse 36% da sua matriz de transporte em ferrovias, 48% em rodovias e o restante em hidrovias. Hoje, nos cálculos da FDC, a real participação das ferrovias não chefa a 20%, enquanto que a das rodovias chega a 75%.

Ainda segundo os dados do engenheiro, enquanto nas economias mais importantes do mundo o item de maior peso na logística das empresas é a armazenagem, no Brasil é o transporte. Enquanto a armazenagem representou no ano passado 17,7% dos custos logísticos das empresas, o transporte respondeu por 63,5%, sendo 40,1% na longa distância e 23,4% na distribuição urbana.

Equipe SNA/Rio

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