Ovinocultura brasileira tem espaço para crescer, assegura especialista

Dados do Ministério da Agricultura indicam que o rebanho nacional de ovinos gire em torno de 18,2 milhões de cabeças, no Brasil. Foto: Gabriel Becco/La Propaganda Rural/Divulgação Arco

A migração da ovinocultura para pequenos e médios produtores rurais e a queda no número do rebanho no Estado de Rio Grande do Sul e seu crescimento no Nordeste e Semiárido, aliados à desorganização do setor produtivo e à falta de maior participação das agroindústrias ligadas ao setor são os principais entraves para que esse segmento do agronegócio cresça no país. A avaliação é de Edegar Franco, assessor técnico da Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (Arco), em entrevista à equipe SNA/RJ.

Atualmente, conforme dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o rebanho nacional de ovinos gira em torno de 18,2 milhões de cabeças. “Cabe salientar que a ovinocultura está distribuída em o todo território nacional, com uma grande diversidade de raças, portanto, tem grande potencial de crescimento”, pondera Franco.

Segundo o assessor técnico da Arco, considerando a diversidade de raças de ovinos, esses animais podem ser criados nos mais diversos biomas e regiões do Brasil. “Deve-se salientar a capacidade de adaptação desses animais. Por exemplo, atualmente o maior rebanho nacional está concentrada no Nordeste.”

“Na região nordestina, por causa das condições do clima muito seco, somente as ovelhas e cabras sobrevivem. Portanto, vemos os ovinos ocupando e produzindo em áreas secas e alagadas, regiões frias e extremamente quentes, mostrando o potencial de crescimento dessa espécie”, ressalta.

Franco explica que a ovelha é um mamífero ruminante bovídeo da subfamília Caprinae: “Acredito que a confusão (entre ovinos e caprinos) seja porque, em determinadas localidades do Brasil, referem-se ao macho ovino como bode, enquanto que esta é uma denominação do macho da caprinocultura. O equívoco está, principalmente, devido às diferenças culturais, até mesmo no campo, do nosso país”.

 

A CARNE

A carne de ovinos, geralmente, é apreciada por um mercado mais restrito, em comparação à bovina, principalmente porque ainda persiste certo preconceito e muitas dúvidas em relação a esse produto.

“Hoje, obviamente, não podemos comparar o mercado da carne ovina com o da bovina, pois a escala de oferta é infinitamente menor. No entanto, estamos falando de um produto de alta qualidade, que é a carne de cordeiro, que vem de animais com, no máximo, 12 meses de idade”, esclarece Franco.

Segundo ele, a carne de cordeiro apresenta características de coloração, marmoreio, sabor, maciez, e um apelo gourmet elevado: “Por isso, tem um valor agregado bastante considerável”.

Os dados de consumo de carne ovina no Brasil, destaca Franco, variam entre 400 ea 700 gramas per capta, com alguma variação devido ao elevado índice de abate informal, fruto da desorganização da cadeia produtiva, e que é visto como um problema até de saúde pública.

“O maior consumo é na região sul do Brasil, onde também tem o maior índice de abate formal.”

Na opinião do assessor técnico da Arco, “a popularização da carne ovina, logicamente, passa por um aumento de rebanho, pois os preços atuais, impostos ao consumidor final, são bem altos, embora isso não recaia nos ombros do produtor rural, que continua com o maior trabalho e risco, e uma remuneração apenas aceitável”.

“Todas as raças ovinas produzem carne de elevada qualidade, sejam elas laneiras ou deslanadas”, assegura Franco.

 

Todas as raças ovinas produzem carne de elevada qualidade, sejam elas laneiras ou deslanadas, assegura Edegar Franco, assessor técnico da Arco. Foto: Divulgação

“A distribuição em nosso território nos leva a considerar que as raças ovinas variam conforme a região produtiva. No Sul, por exemplo, predominam as raças laneiras Corriedale, Ideal e Merino Australiano e as deslanadas Texel, Ile de France, Sufolk e Hampshire Down, Poll Dorset, Crioula. Já no Norte e Nordeste, são as raças Santa Inês, Dorper, White Dorper, Texel, Morada Nova, Cariri e Bergamacia Brasileira”, detalha.

Segundo o Instituto de Zootecnia (IZ), vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, a gordura presente na carne de cordeiro, que não faz mal à saúde como muitos pensavam, é rica em nutrientes. Rcentemente, o órgão lancou um estudo sobre o perfil dos ácidos graxos que compõem a gordura desse tipo de carne, vinda de cordeiros superprecoces de raças deslanadas brasileiras. Leia mais sobre esse tema em sna.agr.br/?p=43862.

 

COMÉRCIO EXTERIOR

Em todo o mundo, as localidades com maiores rebanhos são China, União Europeia, Austrália, Nova Zelândia, Índia, Irã e Sudão. Consequentemente, são os principais produtores de carne ovina. Já os principais países produtores de lã bruta, na ordem, são China, Austrália, Nova Zelândia, Reino Unido, Irã, Marrocos e Argentina.

“Tratando-se do produto carne, o Brasil é importador de carne ovina. No ano passado, por exemplo, importamos 15 mil toneladas, principalmente do Uruguai (apesar de não figurar na lista de principais produtores). No que diz respeito à lã, somos exportadores, no entanto, cabe salientar que o Estado de Rio Grande do Sul produz 98% da lã nacional, de um total de 12,5 milhões de quilos, na safra 2016/17”, informa Franco.

Ele ainda relata que apenas uma pequena parcela é beneficiada pela indústria brasileira: “Por causa das dificuldades ocasionadas pela concorrência, a maior parte da lã brasileira é exportada. Mas também é considerável a quantidade desse produto que deixa o país através de descaminho e/ou contrabando”.

 

POLÍTICAS PÚBLICAS

No Brasil, as políticas públicas de governo, voltadas exclusivamente para a ovinocultura, são praticamente inexistentes.

“Temos feito um longo debate em torno do atual cenário da ovinocultura brasileira, pois este animal não é uma vaca pequena. Normalmente, nossas políticas públicas são lineares para todo o país, onde nem sempre se aplica a determinadas regiões ou territórios ovelheiros”, diz Franco.

Ele ainda ressalta que, geralmente, o setor utiliza as políticas públicas voltadas para a bovinocultura, “embora a Câmara Setorial de Ovinos e Caprinos do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), ultimamente, venha abordando fortemente esse tema”.

“Ainda temos dificuldades de captar recursos para retenção de matrizes, de apoio às pequenas indústrias na estruturação para abranger toda a ovinocultura e de retomar o setor cooperativo.”

 

ROTA DO CORDEIRO

O assessor técnico da Arco, no entanto, destaca a importância do programa Rota do Cordeiro, “que apresenta uma metodologia de ir até a base produtiva e ouvir os produtores a respeito das reais necessidade”.

“O objetivo (do Rota) é elaborar uma carteira de projetos, respeitando as diversidades de cada polo produtivo. Esse modelo nos dá uma expectativa de vivermos um novo momento de alinhamento das entidades públicas e privadas, com o mesmo foco.”

Criado em 2011 pelo Ministério da Integração Social, em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) – Unidade Caprinos e Ovinos (CE), além de diversos parceiros locais, regionais e nacionais, o Rota do Cordeiro tem como objetivo apoiar a atividade de produção de cordeiros e cabritos no Nordeste e de todas as atividades que estejam ligadas a esta cadeia produtiva, como a frigorificação, distribuição e comércio; beneficiamento da carne; culinária e gastronomia.

 

MELHORAMENTO GENÉTICO

Em relação ao melhoramento genético das raças ovinas, Franco revela que, atualmente, esse tipo de trabalho está mais voltado para as característica fenotípicas, “havendo uma necessidade de aprofundamento em outros estudos, como o de DEPs”.

“Acredito na falta de informações destinadas ao ovinocultor, especialmente sobre a capacidade de herdabilidade genética, pois nem sempre um animal campeão vai gerar futuros campeões”, ressalta o assessor técnico da Arco.
De acordo com ele, a Embrapa Caprinos e Ovinos possui um grande portfólio de pesquisas: “Citaria, como muito importante, a identificação de genes de alta prolificidade em algumas raças ovinas, que permite uma seleção de linhagens de animais altamente produtivos”.

 

Por equipe SNA/RJ

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