A produção de café conilon do Espírito Santo, que vem de duas quebras de safra em decorrência da escassez de chuvas e das altas temperaturas no Estado, só deve se recuperar na temporada 2018/19, de acordo com especialista. Nesse cenário de queda da oferta, o indicador de preços CEPEA/ESALQ para o conilon já subiu 28% em 12 meses.
A safra 2017/18, que vai ser colhida a partir de abril do ano que vem e cuja florada já começou, ainda sofrerá os efeitos do clima adverso no Estado, que se intensificou com o El Niño. Isso porque faltou chuva durante o período de desenvolvimento das plantas, entre novembro de 2015 e março deste ano. “São três anos consecutivos de seca interrompendo um aumento de produção de 5% em média ao ano que vinha acontecendo nos 15 anos anteriores”, lamenta Romário Ferrão, coordenador do Programa Cafeicultura do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper).
Segundo ele, a produção de conilon no Estado na safra 2016/17, que acaba de ser colhida, deve fechar em 5.5 milhões de sacas, metade do que se esperava inicialmente. Essa frustração no maior produtor de conilon do Brasil é resultado da escassez de chuvas. No Estado, onde 70% da produção de conilon é irrigada, houve restrição para uso de água em decorrência do baixo volume de precipitação. E a situação não deve ser muito diferente na safra 2017/18, pois as altas temperaturas e o baixo volume de chuvas persistem até agora no Estado.
“São mil dias com situação de altas temperaturas e seca”, afirma Ferrão. Com essa condição climática, o crescimento vertical das plantas e dos ramos laterais foi prejudicado, segundo ele, o que deve afetar o potencial de produção também na próxima safra.
Segundo o coordenador do Programa Cafeicultura da Incaper, as regiões de produção de conilon no Espírito Santo têm, normalmente, 1.200 mm de chuvas em média ao ano. Mas neste ano, até agora, choveu de 400 a 800 mm, em média, dependendo da área. E as temperaturas estão bem acima da média considerada ideal para essa regiões, entre 22 e 26 graus. Neste ano, têm alcançado entre e 25 e 30 graus.
A primeira florada dos cafezais da próxima safra 2017/18 aconteceu no fim de julho em algumas regiões capixabas, após um período de chuvas. Mas ainda há incerteza se essa florada vai vingar. “Não se sabe como vai ser pegamento dessas flores porque as plantas estão fracas, perderam folhas, ficaram desprotegidas”, explica.
Para ele, mesmo se as condições climáticas forem adequadas, a produção da nova safra deve ser parecida com a atual ou apenas um pouco melhor.
Na região de atuação da Cooperativa dos Cafeicultores de São Gabriel, a Cooabriel, em São Gabriel da Palha, no norte do Espírito Santo, inicialmente a expectativa era colher 1,2 milhão de sacas na safra atual, a 2016/17. Mas a piora do clima levou a cooperativa a reduzir a previsão para 800.000 sacas. Agora, com a colheita finalizada, a estimativa é que a produção fique em 550.000 sacas, segundo Wander Ramos Gomes, gerente de assistência técnica da cooperativa.
Ele afirma que, em função do clima, há algumas lavouras de café que não irão produzir na safra 2017/18. Entre as localidades com lavouras nessas condições estão Vila Valério Jaguaré, São Gabriel e Águia Branca. Apesar disso, Gomes também considera que a produção, na média, deve ser semelhante à do atual ciclo.
O El Niño foi o vilão para as duas últimas safras no Espírito Santo. Agora, quando o La Niña já mostra seus efeitos, a expectativa é de que as chuvas fiquem mais regulares a partir de outubro no Estado, segundo Marco Antonio dos Santos, da Somar. Contudo, ainda que chova bem, a próxima safra deve ser afetada, avalia.
Mas o fim do El Niño deve permitir uma recuperação da produção no ciclo 2018/19, estima Romário Ferrão. “Se voltar a ter chuvas adequadas, volta a ter resposta positiva a partir de 2018”, disse.
Wander Ramos Gomes, da Cooabriel, afirma que o desempenho na safra 2018/19 vai depender do desenvolvimento das plantas. Ele diz ainda que, diante dos problemas climáticos que afetaram os cafezais, “muita gente vai arrancar árvores este ano”. Ainda assim, ele acredita que a região da Cooabriel tem potencial de produzir 1.2 milhão de sacas, em condições climáticas normais.
Ferrão observa ainda que a espécie conilon “tem poder de recuperação muito grande”, para justificar sua expectativa de reversão da situação da cafeicultura no Estado no ciclo 2018/19. Além disso, diz, há renovação de cafezais e alguns produtores, capitalizados, estão investindo para substituir a irrigação por aspersão pela técnica de gotejamento, mais eficiente.
Fonte: Valor