Uma onda de títulos corporativos está se somando ao já alto nível de endividamento na China, o que amplia os riscos para a economia num momento em que o governo chinês incentiva o crédito para impulsionar o crescimento.
As novas rodadas de emissões de títulos por empresas acentuaram o receio de investidores e analistas de que o endividamento na China, que vem se expandindo a um ritmo duas vezes maior que o crescimento do produto interno bruto, esteja alimentando uma nascente crise de crédito que pode minar os esforços do país para migrar para um modelo de crescimento mais lento, liderado pelo consumo.
Segundo a Standard & Poor’s Ratings Services, a dívida das empresas equivale hoje a 160% do PIB da China contra 98% em 2008. Em comparação, o nível do endividamento nos Estados Unidos é de 70%. Os títulos de dívida a vencer na China aumentaram 25% no ano passado, para 14.6 trilhões de yuans (US$ 2.2 trilhões), de acordo com o banco central.
As preocupações com o rápido acúmulo de crédito, que subiu 12,4% em 2015, estão sendo intensificadas por sinais de que boa parte dessas dívidas não está gerando novas riquezas.
As políticas do governo estão estimulando a onda de títulos corporativos, que podem ser uma forma 15% mais barata de captar recursos do que os empréstimos bancários de referência, o que significa que os emissores podem usá-los favoravelmente para rolar dívidas. O governo afirma que a iniciativa é parte de um plano para que as empresas possam assumir um risco mais direto, num momento em que os bancos se veem às voltas com o crescimento da inadimplência. E o governo afirma que há espaço para mais.
“Isso está de acordo com o rumo das reformas na China”, disse na semana passada Wang Yiming, vice-ministro do Centro de Pesquisa para o Desenvolvimento do Conselho de Estado, um centro de estudos do gabinete do governo. “No passado, dependíamos principalmente dos bancos. Queremos aumentar gradualmente os financiamentos diretos.”
A China há muito vem tentando expandir seus mercados de capital ampliando os financiamentos via emissões de ações e títulos de dívida. Os bancos costumavam responder por 70% do total de empréstimos no país. Mas, à medida que a inadimplência começou a aumentar, dois anos atrás, os reguladores viram nos mercados de ações e renda fixa uma forma de distribuir o risco de crédito no sistema financeiro, reduzir os custos de financiamento e expandir os canais de captação das empresas.
As esperanças de usar os mercados de ações como uma fonte importante de financiamento foram frustradas pelo colapso das bolsas chinesas em meados do ano passado, mas os reguladores ainda veem o mercado de dívida como um canal viável para reestruturação de riscos.
“Em 2016, queremos usar adequadamente as funções do mercado de bônus para promover mais reformas, um crescimento estável e um papel maior na gestão de riscos”, afirmou a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma da China, num comunicado divulgado na quarta-feira.
Também na quarta-feira, o banco central chinês tomou medidas para facilitar que investidores institucionais qualificados de outros países comprem títulos no mercado interbancário chinês, onde são negociados os papéis emitidos pelo Ministério das Finanças e pelas grandes estatais. A iniciativa, que se soma a autorizações semelhantes dadas em julho de 2015 a alguns bancos centrais e fundos soberanos estrangeiros, ocorre num momento em que a China procura incentivar o uso do yuan para continuar relaxando seu sistema de câmbio. Para atingir essa meta, dizem analistas, a China precisa atrair investimentos em renda fixa, principalmente de investidores globais.
O incentivo ao financiamento vias emissões de dívida cria um conflito entre a determinação do governo de preservar o crescimento econômico e seu desejo mais geral de reduzir o endividamento na economia.
“A China não vai permitir que a economia desacelere demais”, disse em janeiro Fang Xinghai, assessor econômico sênior do presidente Xi Jinping. “Mas a China não pode se dar ao luxo de expandir ainda mais seus riscos financeiros”, acrescentou.
Wang, do cento de estudos do Conselho de Estado, disse que o governo não está tão preocupado com o aumento acentuado da dívida das empresas porque acredita que as finanças dos emissores dos títulos estão em boas condições. Ele disse que a desalavancagem deveria ser gradual e equilibrada em relação à expansão econômica.
Fonte: The Wall Street Journal