Oferta doméstica limitada faz importação de lácteos crescer

A menor disponibilidade de leite no mercado doméstico em decorrência da queda na produção este ano no Brasil continua a estimular as importações de lácteos. De janeiro a julho, as compras desses produtos no exterior alcançaram 130.300 toneladas, quase 70% acima de igual período de 2015, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex/MDIC) compilados pela Viva Lácteos, associação que reúne empresas do segmento.

O valor das importações no período subiu 31% na comparação, para US$ 330.7 milhões (ver gráfico). Já as exportações brasileiras de lácteos de janeiro a julho totalizaram US$ 75.7 milhões, praticamente a metade do mesmo intervalo do ano passado. Com isso, o déficit da balança de lácteos brasileira atingiu US$ 255 milhões. Em todo ano passado, o déficit foi de US$ 100 milhões.

A persistente retração da oferta de leite no Brasil explica o aumento das importações, de acordo com Valter Galan, analista da consultoria especializada MilkPoint. A estimativa da consultoria é que a oferta da matéria-prima tenha recuado 7% entre janeiro e julho deste ano na comparação com o mesmo período de 2015. De acordo com levantamento do IBGE, no primeiro trimestre do ano a aquisição de leite no Brasil caiu 4,5%, para 5.86 bilhões de litros. Galan calcula que as importações representaram 7,3% da disponibilidade total de leite no País nos primeiros sete meses de 2016, contra 4,3% no mesmo intervalo do ano passado.

O analista observa que a redução na oferta elevou os preços ao produtor nacional e tornou as importações mais competitivas. “As importações visam a atender um ‘gap’ na oferta”, diz. Citando dados do CEPEA/ESALQ para o preço ao produtor em julho passado, ele calcula que a cotação ao produtor hoje no Brasil é equivalente a US$ 0,46 por litro (considerando um dólar de R$ 3,25). O preço ao produtor no Uruguai equivale a US$ 0,26; na Argentina, a US$ 0,30.

Não à toa, o Brasil vem ganhando importância como cliente dos lácteos do Uruguai, que exporta 70% de sua produção do segmento. Em 2015, o Brasil já foi o maior importador, com 28% do total embarcado pelos uruguaios, superando a Venezuela, que comprou 21% do total, de acordo com o Instituto Nacional do Leite (Inale), do Uruguai.

O cenário persiste este ano. “Os uruguaios perderam a Venezuela, para quem vendiam bastante, [lácteos] porque havia dificuldade para receber”, observa Galan. De acordo com os últimos dados disponíveis do Inale, o Uruguai exportou 115.500 toneladas de lácteos no primeiro semestre deste ano, e mais da metade – 66.300 toneladas – teve como destino o mercado brasileiro.

Embora as importações desde Uruguai e Argentina venham crescendo, Gustavo Beduschi, assessor técnico da Viva Lácteos, observa que os dois fornecedores de lácteos também enfrentam restrições na oferta de leite em decorrência de problemas climáticos e da alta dos grãos. “A produção no período de safra [neste semestre] deve ser menor que no mesmo período de 2015”.

Galan, da MilkPoint, acredita que o ritmo de importações de lácteos deve se manter para atender o mercado interno. Mas pondera que a alta dos preços do leite no Brasil pode ser um estímulo à produção neste semestre, o que daria um alívio à situação da oferta.

Beduschi concorda que as importações vão continuar, e aponta incertezas em relação ao desempenho do mercado brasileiro. Uma delas é como a produção vai reagir no Sudeste com a chegada do período de chuvas (safra), e outra é o comportamento da demanda doméstica.

No atual cenário – de preços baixos no mercado internacional e elevados no Brasil -, as exportações brasileiras de lácteos perdem competitividade. Mas Gustavo Beduschi reitera que as empresas do setor seguem se preparando para estar aptas a exportar “quando o mercado virar”. O setor aguarda missões para habilitação de plantas para exportar lácteos ao Panamá, à Bolívia e ao Chile. Além disso, o processo da habilitação de oito unidades para exportação de lácteos à China também está em curso.

Fonte: Valor

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