Em uma região no baixo sul da Bahia, foi fundada em 2001, a Organização da Conservação da Terra (OCT) que atua na Área de Proteção Ambiental (APA) do Pratigi e trabalha incentivando culturas agrícolas de baixo impacto, principalmente de cacau, e na conservação ambiental, executando serviços ambientais e de fortalecimento dos recursos naturais estimulando o reflorestamento e a recuperação de nascentes.
Esse projeto foi o primeiro no tipo ARR (Arborização, Reflorestamento e Restauração), validado e verificado com dupla certificação na Mata Atlântica. A ação acontece no Corredor Central da Mata Atlântica (CCMA), abrangendo cinco municípios daquela região numa área 171 mil hectares e atendendo cerca de 80 proprietários rurais.
O diretor executivo da OCT, Joaquim Cardoso, fala sobre as ameaças das mudanças climáticas. “Nossa Organização percebe o quanto é possível contribuir para o equilíbrio do solo, água, flora, fauna, seres humanos e seus negócios. Isso nos traz muito conforto, de um lado, inquietude de outro, pelo quanto necessitamos fazer ajustes e adaptações para atendimento à dinâmica do meio ambiente”.
Investimento e parcerias
Em 2021, a entidade recebeu recursos na ordem de R$ 4 milhões oriundos de instituições privadas brasileiras e internacionais. O reforço desta ação vem através de parcerias com a Embrapa, Agência Nacional de Águas (ANA), Braskem, Fundação Grupo Boticário, Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), governo do estado da Bahia, universidades, dentre outras.
Capacitação
Nos últimos 11 anos, mais de 600 famílias receberam apoio técnico, capacitações em boas práticas produtivas e, para as famílias com aptidão, apoio para transição agroecológica.
“Com orientação adequada, os produtores diversificaram a produção e ainda aprenderam como preparar insumos agroecológicos, como biocaldas e bokashi. Produtores de cacau receberam capacitação para melhoria no beneficiamento deste produto, com objetivo de obter amêndoas com maior qualidade e valor agregado, e apoio para acessar políticas públicas de comercialização e crédito rural”, explicou Bruna Sobral, coordenadora de planejamento socioambiental da OCT.
Restauração de nascentes
Até 2022, a Organização restaurou 457 nascentes e mais 32 hectares de Áreas de Proteção Permanente (APP) ciliar, além de ter plantado mais de 560 mil árvores. A restauração de nascentes, daquela região, ocorre por meio de projetos específicos, do Programa Carbono Neutro Pratigi e via contratação direta de prestação de serviços.
Carbono Neutro Pratigi
O Carbono Neutro Pratigi é uma iniciativa que disponibiliza calculadoras de pegada de carbono no site da OCT para que pessoas possam conhecer o impacto do seu estilo de vida, e tenham a oportunidade de calcular sua pegada de carbono e neutralizá-la a partir da contratação direta com a Organização e dos serviços de plantio que a OCT realiza. Além das calculadoras, o plantio também pode ser feito com base no inventário de gases de efeito estufa (GEE) realizado por empresas que optam por neutralizar suas emissões com ações de reflorestamento sem a perspectiva do crédito de carbono verificado.
“A iniciativa já neutralizou mais de 3.500 toneladas de CO2 equivalente calculado a partir de pessoas físicas, eventos e inventários de GEE de empresas”, disse Bruna Sobral.
Novas tecnologias
Por meio de assistência técnica e adoção de novas tecnologias, tem sido possível aprimorar os processos produtivos. Uma das estratégias é a introdução de módulos de Sistemas Agroflorestais (SAF), utilizando espécies nativas de interesse comercial não madeireiro da região, como o cacau.
Outra novidade é uma ferramenta em desenvolvimento, fruto de parceria entre a Embrapa e a startup ManejeBem, empresa que integra o SNASH – hub de startups da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA).
A ferramenta tem como propósito realizar uma avaliação da sustentabilidade em seus pilares ambiental, social e econômico, nas fazendas produtoras de cacau, com atenção especial aos pequenos e médios produtores. Trata-se de um conjunto de modelos matemáticos (sistemas fuzzy), embasados em indicadores (quantitativos e qualitativos) capazes de aferir, segundo um conjunto de regras definidas por especialistas, a sustentabilidade de maneira robusta.
Para Helano Póvoas de Lima, da Embrapa Agricultura Digital, espera-se que a ferramenta possa somar esforços na melhoria do acesso à ATER, sabidamente deficitário no Brasil. “Também é nossa pretensão fomentar boas práticas de sustentabilidade na atividade agropecuária, bem como fortalecer a digitalização no campo. Estes aspectos são prioridade da Embrapa em suas iniciativas de pesquisa e inovação tecnológica”. O projeto previu uma validação inicial com 30 produtores de cacau no sul da Bahia, já acompanhados pela OCT.
Por Equipe SNA