Um dos maiores especialistas em agronegócios do país, com trânsito livre nos principais fóruns do setor no mundo, o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues acompanha com atenção os movimentos que redefinirão as relações entre os setores público e privado no campo. E, como não poderia deixar de ser, continua a ter voz ativa nas discussões.
Coordenador do Centro do Agronegócio da Fundação Getulio Vargas (FGV), Rodrigues está convencido de que é hora de reduzir os subsídios ao crédito rural concedido a grandes produtores para preservar recursos para pequenos e médios, como defende o governo Bolsonaro.
No entanto, entende que, para que o crédito seja acessível sem taxas de juros equalizadas pelo Tesouro, é preciso turbinar o programa federal de subvenção aos prêmios do seguro rural, que atualmente conta com pouco mais de R$ 400 milhões e cobre parcela inferior a 5% da produção agrícola.
“O seguro é a ferramenta contemporânea mais importante para a agricultura. Temos de ter um seguro forte, com um fundo de catástrofe robusto”, disse Rodrigues.
Segundo ele, esse fundo, já previsto em lei, tem de ser alimentado por recursos do governo e do setor privado para ganhar envergadura e tornar o ambiente mais palatável para as seguradoras, uma vez que é a ele que essas empresas recorrerão em casos de grandes quebras climáticas.
“É preciso haver uma transição para que os subsídios sejam reduzidos e o seguro, fortalecido. Mas essa transição tem de ser rápida, de três ou quatro anos, e deve vir acompanhada pelo estabelecimento de uma política de preços de garantia mais eficiente que a atual de preços mínimos”, afirmou Rodrigues.
Segundo ele, para que o seguro de fato ganhe relevância, seria necessário um orçamento de até R$ 6 bilhões para as subvenções por safra.
O ex-ministro concorda que as negociações sobre tributação em curso em Brasília e nos estados com as contas quebradas precisam levar em conta a importância do setor rural para o desenvolvimento das economias regionais – “veja o que as tarifas sobre exportações agropecuárias provocaram na Argentina” – e, além disso, pede cuidado nas revisões em torno da Previdência no campo.
E, como vem fazendo nos últimos anos, atenta para a necessidade de o Brasil retomar seu espaço nas pesquisas agrícolas com a Embrapa, que atualmente encara a falta de recursos, à frente.
“Depois de tantas vitórias, o nelore, a braquiária, a soja no Cerrado, entre outras, estamos perdendo a capacidade estatal nas pesquisas. E temos de ficar atentos a esse movimento, porque a tecnologia pode ser um fator de concentração da riqueza”.
Nesse processo, afirmou Rodrigues, “o Censo Agropecuário pode servir para direcionar pesquisas e projetos, e a Embrapa deveria se aliar a produtores e cooperativas para preservar e desenvolver a ‘ciência tropical brasileira’ e garantir sua sustentabilidade”.
As questões internacionais também continuam no foco de Rodrigues, que na próxima semana discorrerá sobre um cenário global marcado por intrincadas disputas comerciais em evento promovido pela FGV em São Paulo.
Nesse contexto, Rodrigues reforça que o Brasil é essencial para o mundo e que as políticas que estão sendo determinadas hoje poderão acelerar ou frear a tendência de crescimento da influência do país como fornecedor de alimentos e promotor, nesse contexto, de democracia e, em última instância, da paz.
Valor Econômico