O que a Victoria’s Secret, o asfalto e a goma de mascar têm a ver com a soja?

Por Mauro Zafalon

 

Victoria’s Secret, pneus, rodovias, plásticos, revestimentos diversos, tintas, gomas de mascar e produtos farmacêuticos. O que eles têm em comum? A soja. Com existência comprovada há pelo menos 5.000 anos na China, a leguminosa deixa de ser um produto destinado apenas para a alimentação animal e humana e começa a ganhar novos usos.

O volume de soja usado na elaboração de outros produtos, além da alimentação, ainda é pequeno, mas com alta rentabilidade. Segundo Atanu Biswas, pesquisador do USDA, esse é um caminho seguro para a agregação de valor a uma commodity que tem evolução constante no mundo,

Marcelo Álvares de Oliveira, pesquisador da Embrapa, diz que “há muita coisa para ser aproveitada na soja”. Alguns resíduos, que antes eram subprodutos da oleaginosa e descartáveis, agora passam a ser coprodutos de valor agregado.

O avanço da utilização da soja em produtos não ligados à alimentação foi discutido no 8º Congresso Brasileiro de Soja, que se encerrou nesta quinta-feira (14/6), em Goiânia (GO).

Os Estados Unidos estão à frente nessa corrida de aproveitamento da soja para usos diversos, mas o Brasil também já atua nesse segmento. Dados do USDA indicam que 74% da soja produzida nos Estados Unidos vai para consumo animal. Outros 18% ficam para alimentação humana, e 6% para biodiesel. Apenas 2% são utilizados em outros produtos.

Essa participação deverá crescer em vista da gama de novas opções para a soja. O pesquisador do USDA afirma que as indústrias investem muito em novas pesquisas, e a boa oferta de produto e os preços satisfatórios são garantias dos novos usos para a leguminosa.

Biswas diz que a soja ganha terreno em várias atividades da indústria e começa a fazer parte da vida diária do consumidor. Ela está em produtos de beleza, como os comercializados pela Victoria’s Secret, e em produtos farmacêuticos, como pomadas e gels.

A utilização da soja é ampla. Quando um americano viaja de carro pelas estradas dos Estados Unidos, ele está utilizando vários produtos que contêm soja. Entre eles, o asfalto e as faixas amarelas pintadas nas estradas. Carros e pneus também já têm boa participação da commodity em suas composições.

A soja serve para a fabricação de plásticos, de ceras e de tintas utilizadas nos carros. Já a Goodyear vem investindo muito em um pneu que tem, entre os seus compostos, uma participação do óleo de soja.

A empresa descobriu que a participação de coprodutos da soja na composição do pneu o deixa com melhor rendimento e maior aderência em pistas molhadas, afirma o pesquisador do USDA. Além disso, o pneu é ideal para temperaturas baixas. Outra vantagem, segundo Biswas, é que a empresa se utiliza de um produto mais ecológico, reduzindo a participação do petróleo.

Outro salto importante para a soja será a utilização de seus coprodutos em novos lubrificantes. O óleo de soja gera um óleo lubrificante “premium” e de bom desempenho. O lubrificante tem baixa volatilidade, alto índice de viscosidade e estabilidade oxidativa. Ele atua ainda como detergente, deixando o motor mais limpo.

Na avaliação de Biswas, a participação da soja pode crescer muito no setor de óleo lubrificante nos Estados Unidos. É um segmento que movimenta US$ 13.4 bilhões por ano e tem crescimento anual de 4%.

A soja está presente também na composição de vários produtos destinados a revestimentos, polimentos e pinturas. É também um dos componentes das tintas utilizadas para a impressão de jornais. A indústria encontrou finalidade também para a casca da soja, que começa a ser utilizada para a produção de celulose.

Para o pesquisador do USDA, “é importante olhar e descobrir novos usos para a soja e ter vontade de jogar o jogo fora das regras”. Oliveira, pesquisador da Embrapa, diz que a utilização da soja para usos diversos, fora dos da alimentação, ainda é um nicho, mas o campo de crescimento é grande.

A indústria brasileira também já se utiliza dos coprodutos da soja em vários produtos, como os de beleza, farmacêuticos e até produção de etanol. Este último está sendo desenvolvido pela Caramuru em Mato Grosso.

A produção mundial anual de soja é de 340 milhões de toneladas. Brasil e Estados Unidos, com volumes próximos de 120 milhões de toneladas cada um, são os líderes, seguidos da Argentina.

 

Fonte: Folha de São Paulo

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