Agrotóxicos de uso agrícola são produtos químicos, físicos ou biológicos utilizados para o controle de pragas e de doenças incidentes na agricultura, com o objetivo de reduzir perdas na produção agropecuária decorrentes da ação desses organismos nocivos. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou um relatório do Programa de Análises de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (Para) em novembro. De acordo com o relatório, quase 99% das amostras de alimentos analisadas, entre o período de 2013 e 2015, estão livres de resíduos que representam risco agudo à saúde – intoxicações que podem ocorrer dentro de um período de 24 horas após o consumo do alimento que contenha resíduos. No total foram 12.051 amostras monitoradas nos 27 estados do Brasil e no Distrito Federal.
O uso de agrotóxicos é defendido no país devido à ação das pragas e doenças serem mais intensas nas lavouras brasileiras, principalmente em decorrência da diversidade climática, que favorece o desenvolvimento delas, podendo acarretar a redução da produção. Essa utilização é tema recorrente de discussão. Isso porque o uso inadequado desses insumos pode acarretar danos à saúde do trabalhador, do consumidor e ao meio ambiente. Segundo Julio Britto, coordenador-geral de Agroquímicos do Departamento de Fiscalização de Insumos Agrícolas (DFIA), o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) promove o uso seguro e adequado do insumo agrícola.
“Quando um produto é registrado para uso na agricultura brasileira, são estabelecidos os Limites Máximos de Resíduos (LMRs), que são a quantidade máxima de resíduos da substância sob determinadas condições de uso que não causem danos aos consumidores. Esses níveis adequados são determinados por estudos apresentados ao governo para avaliação dos aspectos agronômicos, toxicológicos e ambientais pelas áreas de agricultura, de saúde e do meio ambiente”, explica o coordenador.
A fiscalização desses níveis tem sido conduzida pelo Mapa por meio do Programa Nacional de Controle de Resíduos em Vegetais (PNCRC-Vegetal) e pela Anvisa, no Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos. O nível máximo de controle é o LMR estabelecido para cada produto registrado. Julio Britto revela que quando são constatados níveis acima dos LMRs estabelecidos, a produção não deve ser destinada ao consumo humano ou animal.
“Devem ser realizadas inspeções para apurar as razões da ocorrência, que podem ter origem em usos inadequados ou em desacordo com as recomendações técnicas constantes no ato de registro do produto. E, ainda, devem ser determinadas correções com adequada assistência técnica ao produtor”, completa.
O Mapa é o órgão federal registrante desses insumos agrícolas, participando do processo de avaliação para fins de registro com as análises agronômicas e a emissão de registro após as avaliações sobre os aspectos toxicológicos e ambientais feitas pelos órgãos de saúde (Anvisa) e do meio ambiente (Ibama).
Alternativa
Uma saída para quem não quer correr o risco de comer alimentos com agrotóxicos é utilizar os alimentos orgânicos. Diferente da produção convencional, esse tipo de safra não utiliza agrotóxicos, transgênicos e fertilizantes sintéticos. De acordo com Sylvia Wachsner, coordenadora do Centro de Inteligência em Orgânicos (CI Orgânicos), um projeto da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), esses alimentos também não são processados com radiação ionizadora ou aditivos, seja na questão nutricional da planta ou no tratamento contra doenças e pragas.
“Logo, eles são isentos de quaisquer resíduos de agroquímicos prejudiciais à saúde humana e animal, são mais seguros para o consumidor e não contaminam o meio ambiente. São mais nutritivos e têm mais sabor”, comenta Sylvia, que completa que sua procura aumentou na mesma proporção que a busca por saúde e qualidade de vida entre as pessoas.
Essa alternativa, entretanto, ainda não é de fácil acesso. A produção orgânica no Brasil consome poucos insumos, tem baixo nível tecnológico e utiliza muita mão de obra e, por isso, sua escala de produção precisa ser incrementada. Sylvia narra que as especificidades como regulação e certificação de produtos aumentam o desafio dos produtores.
“Certificar ainda é muito caro para os pequenos agricultores, mas também apresenta o desafio de uma gestão mais profissional. A agricultura orgânica não é monocultura e não é uma agricultura de grande escala. É preciso melhorar as práticas agrícolas, adaptar equipamentos e maquinarias, e utilizar tecnologia para incrementar a atividade. Com essa procura, abriu-se um mercado que atende, com variedade de produtos, não apenas os mais antenados com o bem-estar”, enfatiza.
Em relação aos alimentos convencionais, o tempo de conservação do orgânico na geladeira é maior sem perda de nutrientes. Esses alimentos são comercializados nos principais canais de varejo das grandes cidades, lojas especializadas e lojas de produtos naturais e em feiras livres. Outro tipo de serviço adotado por muitos produtores é entregar cestas de alimentos orgânicos nas residências, restaurantes e hotéis, e outros que fizeram supermercados on-line.
“Não existe diferença na preparação, conservação ou manuseio desses orgânicos. As regras básicas relativas à manipulação de todo tipo de alimento exigem certas regras de higiene que devem ser seguidas. O primeiro aspecto é a limpeza: lavar as mãos antes do início do preparo e diversas outras vezes durante o processo é fundamental. Separar os alimentos crus dos cozidos para evitar a contaminação cruzada, prestar atenção à temperatura e realizar o armazenamento de maneira correta são os outros meios”, lista Sylvia.
Fonte: O Fluminense