Retrospecto e contexto atual
O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, anunciou que se os países que integram os BRICS tentarem substituir o dólar como moeda de referência em suas transações internacionais, enfrentarão taxação de 100%. Isso inviabilizaria, na prática, que essas nações continuassem a fazer negócios com a maior economia do planeta. Trump fez a declaração em sua própria rede social, chamada de Truth Social, em inglês.
O Brasil exercerá a presidência rotativa dos BRICS em 2025, dando continuidade ao protagonismo que teve ao sediar o G20 este ano. Como o presidente Lula é um entusiasta da ideia de adotar uma moeda que mitigasse a dependência do dólar no bloco, será importante dialogar e encontrar um caminho moderado, uma vez que as parcerias comerciais brasileiras, em especial as do agronegócio, não podem sofrer com guerras tarifárias ou tensões diplomáticas.
Desde o Acordo de Bretton Woods, em 1944, o dólar tornou-se a moeda-padrão no comércio internacional. Sua aceitação universal e a ligação com instituições financeiras globais solidificaram sua posição como referência mundial. Transações comerciais entre países, incluindo membros do BRICS, tradicionalmente envolvem a conversão de moedas locais para o dólar. Só que essa dependência gera vulnerabilidade diante de flutuações da política monetária dos EUA, impactando economias emergentes.
No Agro, os produtos têm suas cotações internacionais definidas por bolsas de commodities. Quando o dólar sobe na comparação com várias moedas, o preço das commodities costuma cair. Isso acontece porque os compradores estrangeiros precisam gastar mais em moeda local para comprar a mesma quantidade de produto em dólar. Já quando o dólar recua, as cotações na bolsa sobem, porque os países compradores gastam menos em moeda local para adquirir os produtos. Além disso, as exportações e importações, custo de produção, financiamentos e investimentos são afetados pelo câmbio.
Rússia e China exercem influência, mas Brasil precisa de isenção
Por essas razões, os países do bloco desejam buscar uma alternativa, sem abandonar totalmente a dolarização do comércio. A Rússia exerce forte pressão, pois desde que invadiu a Ucrânia, há dois anos e meio, teve vários de seus bancos excluídos do Sistema Swift (Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication, um sistema de mensagens global utilizado por instituições financeiras para realizar transações financeiras de maneira segura e padronizada).
Há, portanto, um componente de retaliação geopolítica, com a China também apoiando a valorização de sua moeda, o Yuan. Cabe lembrar que americanos e chineses são rivais na arena comercial e diplomática mundial, o que se acentuou no primeiro mandato de Trump, e deve ocorrer novamente agora, na segunda passagem do republicano pela presidência.
Já o Brasil mantém excelentes relações com o país asiático, que é seu maior parceiro comercial. As relações foram ainda mais estreitadas durante 2024, no aniversário de 50 anos das relações diplomáticas entre as duas nações, e os acordos assinados em visita oficial do presidente Xi Jiping à Brasília, após a cúpula de líderes do G20 no Rio de Janeiro. Como se vê, há um tênue equilíbrio a ser mantido.
Isso se reveste de especial importância numa época em que a cotação do dólar no Brasil sofre com sobressaltos internos, tais como a transição no comando do Banco Central e o recente anúncio de ajuste fiscal, que levou a moeda americana à casa dos 6 reais pela primeira vez na história; isso ocorreu porque, na mesma data, o governo divulgou um projeto para isentar do imposto de renda quem ganha até 5 mil reais por mês, o que gerou dúvidas no mercado sobre o real compromisso do Executivo Federal com as contas públicas.
Os produtores desejam a estabilidade, independentemente da flutuação cambial, e o Brasil deve ter a maturidade necessária para conduzir suas parcerias comerciais norteado por isso. Governos vêm e vão, enquanto o agronegócio brasileiro se mantém crescendo, enfrentando épocas difíceis com perseverança, altivez e, sobretudo, entregando resultados.
Texto feito por Marcelo Sá – jornalista/editor e produtor literário (MTb 13.9290) marcelosa@sna.agr.br
Fonte: Trump fez ‘diversas declarações em suas próprias rede sociais, chamada de Truth Social, em inglês