
A paisagem do agronegócio no Nordeste paulista mudou muito nas últimas três décadas. Se antes as pastagens e o cultivo de grãos e citros dominavam o cenário, agora a cana-de-açúcar ganha cada vez mais espaço e muda o perfil dos negócios da região. Isso é o que mostra levantamento feito pela Embrapa Territorial, que aponta ainda aumento de florestas nativas neste mesmo período.
A Embrapa comparou imagens de satélite de 125 municípios, em uma área de 52 mil km², de 1988 até 2016. Os pesquisadores também foram a campo para conferir informações e levantar dados socioeconômicos que explicassem as mudanças e revelassem mais do que as imagens.
A expansão mais significativa é a da cana-de-açúcar, que cobre 44% das terras no nordeste paulista. Nos últimos 30 anos, pastagens, grãos e citros deixaram de ocupar cerca de 1,5 milhão de hectares nas bacias dos rios Mogi-Guaçu e Pardo, no nordeste do estado de São Paulo. A cana-de-açúcar foi a lavoura que ocupou a maior parte desse espaço, já que ganhou cerca de 1,3 milhão de hectares.
Na região, o setor foi responsável por metade de todo o valor de produção agropecuária, que atingiu R$ 9,5 bilhões em 2016. A participação é maior do que a média estadual, que é de 35%. Apenas cinco dos 125 municípios estudados não possuem canaviais.
Busca por rentabilidade
Áreas com culturas anuais – milho e soja, principalmente – regrediram e caíram de 936 mil para 352 mil hectares. A porção norte da área de estudo tinha mais da metade das terras ocupadas por esse tipo de lavoura no fim dos anos 1980. Atualmente, a parcela destinada a elas chega, no máximo, a 20% em alguns municípios. As culturas anuais ficaram concentradas em dois polos de agricultura irrigada, no entorno dos municípios de Casa Branca e Guaíra.
Alternativas mais rentáveis que os cultivos de sequeiro ganham espaço nessas condições, a exemplo da batata e da produção de sementes de soja e milho. “Com a irrigação, os agricultores antecipam a colheita com o milho verde e plantam, logo em seguida, feijão e, depois, batata, por exemplo. Fazendo isso, conseguem uma renda maior do que com a cana”, constata o pesquisador Carlos Cesar Ronquim, da Embrapa Territorial, que coordenou o estudo.
Pastagens encolheram e vegetação nativa aumentou
A área dedicada à pecuária foi, de longe, a que mais perdeu espaço no nordeste paulista. Há 30 anos, as pastagens estavam em primeiro lugar na ocupação de terras na região, cobrindo 27% da área rural. Em 2015, com 13% do espaço, aparecem atrás não só da cana-de-açúcar, mas também das reservas de vegetação nativa.
No caso da pecuária de leite, a oportunidade de rendimentos com o arrendamento para a cana-de-açúcar chegou no momento em que os produtores e cooperativas paulistas encontravam dificuldade para concorrer com outras regiões do País.
Floresta nativa
Em números absolutos, as áreas de vegetação nativa são as que mais cresceram, depois da cana. Elas já ocupavam 870 mil hectares e, agora, chegam perto de um milhão de hectares. O pesquisador da Embrapa aponta que esse aumento não se deu por plantio, mas por regeneração espontânea e, timidamente, pela melhor conservação das áreas de preservação permanente.
Para os próximos anos, a expectativa é de mais crescimento, tendo em vista o novo Código Florestal e a proibição da colheita manual da cana, o que, na prática, inviabiliza a produção em áreas com declividade acima de 12%. O monitoramento por satélite revela 150 mil hectares de canaviais nessa condição, o equivalente a 7,1% da área das bacias analisadas.
Potencial para avanço de cafés especiais
O que surpreendeu os pesquisadores foi a expansão do café: a área quase dobrou, passando de 67 mil para 123 mil hectares. O fenômeno se deu na região da Mogiana, próxima a Minas Gerais, com destaque para Pedregulho, Caconde, Franca e Cristais Paulista.
O estudo da Embrapa Territorial mostra que a região tem potencial para novos avanços de cafezais, já que há muitas pastagens em altitude elevada, em terrenos com declividade inferior a 20%.
Equipe SNA/Rio