O algodão muito além dos tecidos. Por Marcos Fava Neves

Professor Marcos Fava Neves/Foto: Divulgação

A cadeia está presente desde a sua roupa até as notas de real na sua carteira

O algodão está presente na rotina de todos, mas muitos não sabem que é do agro. Uma das fibras mais antigas da história, com registros de uso datando de mais de 5.000 anos, com origem das regiões da atual Índia e Paquistão. Na chegada dos colonizadores europeus às Américas, ganhou destaque como uma cultura de grande importância econômica, especialmente nos Estados Unidos. Foi durante esse período que chegou ao Brasil, inicialmente implantado no Nordeste, devido às condições climáticas favoráveis e à disponibilidade de mão de obra. Com a expansão para o Centro-Oeste o Brasil se tornou um dos produtores mundiais da pluma.

O principal uso do algodão é na indústria têxtil, para a produção de roupas, lençóis e toalhas. Também está presente em absorventes, curativos, papel, entre outros, utilizado na fabricação de velas, produtos de limpeza, materiais de isolamento acústico e até mesmo em aplicações médicas, como em curativos cirúrgicos e fios cirúrgicos. Na indústria alimentícia, o óleo é alternativa ao óleo de soja e na produção de margarina e maionese. A torta e o farelo, subprodutos do processamento do caroço de algodão, são fontes de proteínas para alimentação animal. Contribui para a transição energética viabiodiesel (óleo extraído do caroço de algodão), sendo a terceira matéria-prima mais utilizada no Brasil. As fibras podem ser utilizadas para fabricação de cédulas de moedas, devido a sua durabilidade e resistência.

Na cadeia produtiva tem-se os fornecedores de insumos agrícolas, como sementes, fertilizantes e defensivos, além da utilização de equipamentos e máquinas específicas para a cultivo do algodão. A produção agrícola engloba o plantio, crescimento e colheita da planta. Em seguida, é transportado para as unidades de beneficiamento, onde as plumas são separadas dos caroços. As plumas são, então, enviadas para as indústrias têxteis e malharias, onde serão transformadas em tecidos, roupas e fios. Esses produtos podem ser vendidos ao consumidor ou comercializados com marcas que estampam seus logotipos para revenda. Já o caroço é esmagado, onde será obtido o óleo, a torta e o línter, destinados para as indústrias química, têxtil, alimentícia, bioenergética ou de produção animal.

Produção de algodão/ Designed by Freepik

Segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), a produção da pluma na safra 2022/23 foi de 3,2 milhões de toneladas, com produtividade de 1.907 quilos por hectare, em área plantada próxima de 1,7 milhões de hectares, gerando um valor anual de produção ao redor de R$ 30 a 35 bilhões. O Mato Grosso é o principal com 2,2 milhões de t colhidas (68,8%), seguido da Bahia e do Mato Grosso do Sul. No ranking de produção, o Brasil ocupa a 3ª posição, respondendo por 13% da oferta, atrás somente da China e da Índia. Nas exportações, ocupa a 2ª posição, com cerca de 25%, muito próximo dos Estados Unidos que é o líder. E as vendas externas trazem ao Brasil cerca de US$ 3,3 bilhões por ano, movimentando a nossa economia.

A sustentabilidade é uma das principais diretrizes, envolvendo práticas desde a agricultura regenerativa até a reciclagem de roupas. O setor abriga esforços de referência global, como o da Abrapa(Associação Brasileira dos Produtores de Algodão) e do Ibá (Instituto Brasileiro do Algodão), tendo uma das mais importantes iniciativas de comunicação do agro, o “Sou de Algodão”, movimento que promove o consumo do algodão vis-à-vis a fibra sintética (petróleo). Existe o selo “Algodão Brasileiro Responsável” (ABR) que assegura a produção responsável nas esferas ambiental, social e econômica. A rastreabilidade é outro tópico de destaque, já temos roupas onde o consumidor aponta seu celular num QR Code e pode acompanhar todas as etapas do produto até chegar à sua casa, desde o produtor, fiação, malharia, confecção e varejista.

Imagem/Pixabay.

 

A estimativa é que o comércio global deve crescer quase 20% em dez anos e o Brasil se aproximar de 30% de participação no mercado global, assumindo a liderança também neste setor, em quantidade, qualidade e sustentabilidade. O “Cotton Brasil” é um projeto que tem contribuído para promover o algodão brasileiro no mundo, abrindo novos mercados e oportunidades. Na hora de escolher as roupas e agasalhos, que tal optar pelo algodão, contribuindo para promover um produto sustentável e que gera tantas oportunidades ao Brasil? Nós “Somos de Algodão”.

Marcos Fava Neves é professor Titular das Faculdades de Administração da USP (Ribeirão Preto – SP) da FGV e fundador da Harven Agribusiness School (Ribeirão Preto – SP). É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio e Diretor Técnico da SNA. Confira textos e outros materiais em harvenschool.com e veja os vídeos no Youtube. Agradecimentos a Vinicius Cambaúva e Rafael Rosalino.
Artigo publicado originalmente na revista Veja e gentilmente cedido pelo autor a SNA
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