Abriu-se o mercado do Chile para exportação de ovos férteis, aves de um dia e limão taiti. Além de gergelim para o México; sêmen bubalino para o Panamá; gengibre, algodão e sementes para o Egito
Muita gente sabe: o Brasil é o maior exportador mundial de soja, açúcar, suco de laranja, café, carne bovina e de frango. Pouca gente sabe: as exportações agropecuárias não dependem apenas de comodities. Desde 2019, o país abriu mercados para mais de 200 novos produtos agropecuários em dezenas de países. E ninguém duvide: a concorrência internacional é acirrada e joga duro com o Brasil.
Abriu-se o mercado do Chile para exportação de ovos férteis, aves de um dia e limão taiti. A exportação de limões e limas, da ordem de US$ 125 milhões/ano, representa cerca de 10% do comércio internacional de frutas frescas do Brasil. Também houve acordo com os chilenos sobre os requisitos fitossanitários para exportar mamão fresco. Hoje, os principais destinos do mamão são Portugal, Espanha, Holanda, Reino Unido, Argentina e Itália.
O Brasil exporta maçãs para a Colômbia, Honduras, Nicarágua e outros países como a Índia, principal importador. A manga é a fruta mais exportada, cerca de US$ 248 milhões/ano e 20% do total na exportação de frutas. Seguem os melões, com US$ 165 milhões e 14% de participação. Nozes e castanhas ganham espaço na diversificação das exportações, com cerca de US$ 150 milhões/ano.
Essa diversificação das exportações inclui novos mercados e produtos como: gergelim para o México; sêmen bubalino ao Panamá; gengibre, algodão e sementes ao Egito. Em 2022, o mel, um produto de baixo volume exportado, com pouco mais de 8 mil toneladas, chegou aos EUA, Alemanha, Canadá, Austrália, Bélgica, Reino Unido, Holanda, Panamá, China e Dinamarca.
Nos mercados abertos, a proteína animal tem destaque: gelatina bovina para a Malásia; carne suína e bovina ao México; carne de aves para a Polinésia Francesa; bovinos vivos a Argélia e Turquia; mucosa intestinal para o Chile; carnes bovina e suína ao Canadá; cortes suínos para a Coreia do Sul; genética, embriões e bovinos para o Iêmen, o Senegal e o Vietnã; ovos férteis, aves de um dia e embriões bovinos e bubalinos para Angola. Recentemente, foram aprovados os produtos de 11 plantas frigoríficas para a Indonésia e de quatro novas plantas para exportar carne bovina à China. E 183 mil cabeças de gado vivo foram para o exterior em 2022.
O protocolo para exportação de proteína processada de aves e suínos (farinha de carne, ossos, sangue, penas etc.), utilizada na fabricação de ração para animais, também foi aprovado com a China. Em abril passado, 63 indústrias de reciclagem animal receberam autorização para exportar proteína processada não comestível de aves e suínos, para uso na alimentação animal à China. Em maio, foi aprovada a exportação de subprodutos de origem animal (farinha de proteínas, sangue e gorduras de aves, suínos e bovinos) para alimentação animal na África do Sul, cuja negociação iniciara em 2017.
A Argentina é o país com o maior número de novos mercados abertos recentemente para os produtos brasileiros: cerca de 30. Além de embriões de equinos congelados e aditivos à alimentação animal com componente lácteo, o país sul-americano passou a importar do Brasil pênis bovino. O vergalho ou pênis bovino serve de petisco desidratado mastigável a cães e gatos. Tem baixo teor de colesterol, é resistente e auxilia na limpeza de dentes e gengivas em animais domésticos.
Essas aberturas para subprodutos de origem animal permitem diversificar e aumentar oportunidades aos produtores brasileiros. A mucosa intestinal dos suínos, por exemplo, é usada para obtenção da heparina, um anticoagulante usado na profilaxia, prevenção e tratamentos das tromboses. Essas matérias primas devem ser oriundas de animais nascidos e criados no Brasil em áreas livres de Febre Aftosa, Peste Suína Clássica, Peste Suína Africana, Doença Vesicular Suína e Influenza Aviária de Alta Patogenicidade, abatidos em estabelecimentos oficialmente aprovados.
Todo novo mercado dessa natureza envolve negociação bilateral. Elas definem os parâmetros de sanidade animal, os certificados sanitários, fitossanitários, veterinários e até adequações na produção em função de costumes sociais e religiosos dos países destinatários.
É o caso das carnes halal exportadas a países muçulmanos. Halal significa permitido, lícito, autorizado pela Lei Islâmica (Shariah). No Brasil, o certificado Halal é concedido principalmente pela Câmara de Comércio Árabe-Brasileira e por organizações certificadoras como a Fambras Halal. Se o sistema de produção afetou a saúde, o solo, comprometeu recursos naturais ou utilizou mão de obra infantil, não pode receber o certificado Halal. O Brasil é hoje o maior exportador mundial de proteína halal e referência nesse mercado. O mercado halal global está estimado em mais de US$ 3 trilhões, essencialmente nos 58 países de maioria muçulmana.
Na África, açúcar, soja, trigo, milho e carnes representam 87% das importações do Brasil. Arroz, feijão, farinha de milho e amendoim também são importados. Dos 54 países da África, 38 importam produtos brasileiros, inclusive genética animal, máquinas e equipamentos agrícolas.
Colunista convidado: Evaristo de Miranda (da Revista Oeste) doutor em Ecologia e membro da Academia Nacional de Agricultura da SNA.